Nos bastidores, Bolsonaro exige solidariedade pública de aliados
Num relacionamento convencional, políticos encrencados são gratos aos aliados que, não podendo dizer coisas boas a seu respeito, preferem não dizer nada. O silêncio é visto como um amigo que não trai. Com Bolsonaro é diferente. Cercado de processos judiciais, ele antevê em cada aliado que se cala diante do seu drama criminal o prenúncio de uma traição. Exige nos bastidores a solidariedade pública dos bolsonaristas ilustres.
Por enquanto, a pressão por apoio é terceirizada. Indicado por Bolsonaro para compor a chapa do prefeito paulistano Ricardo Nunes como vice na campanha à reeleição, o PM reformado Ricardo Mello Araújo divulgou nas redes um vídeo que foi direto ao ponto: "Temos eleições municipais chegando, e os grandes líderes da direita não se manifestaram", anotou o coronel bolsonarista, antes de cutucar o governador Tarcísio de Freitas:
"Os governadores têm uma responsabilidade muito grande, muitos foram eleitos nas costas do presidente Bolsonaro", declarou o coronel. "Esses governadores precisam se manifestar..." Por enquanto, apenas Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, ergueu a voz por Bolsonaro. Disse num vídeo que a Polícia Federal, sem "mais o que fazer", procura "pelo em ovo" para perseguir Bolsonaro, "um homem decente."
O Carnaval foi usado por bolsonaristas graúdos como pretexto para o sumiço. Bolsonaro não comprou a desculpa. Alega que, na era das redes sociais, não se manifesta quem não quer. A pressão será intensificada nos próximos dias. Submetidos a uma lógica que leva em conta o fator custo-benefício da proximidade com Bolsonaro, os aliados com pretensões futuras começam a se dar conta de que a aliança com o radicalismo tosco ainda rende votos no Brasil, mas não ganha eleições majoritárias.
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