Leonardo Sakamoto

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Opinião

Lula quer libertar verde e amarelo de sequestro pela extrema direita no 7/9

Desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o verde e, principalmente, o amarelo foram sequestrados pela direita radical. Neste 7 de setembro, o governo Lula pretende abusar das duas cores em propaganda, desfiles e decoração para mostrar que elas não pertencem a um grupo, mas ao país. O processo de desbolsonarização da caixinha de lápis de cor será longo, contudo.

O ex-presidente e seus aliados tornaram-se herdeiros da estética dos movimentos pelo impeachment de Dilma Rousseff, que já haviam capturado as cores nacionais entre 2015 e 2016. Com isso, Jair manteve o verde e o amarelo cativeiro durante os quatro anos de sua gestão, vendendo a ideia de que vesti-las significava estar a seu lado.

E isso foi difundido a tal ponto que a colocação de bandeiras do Brasil na janela de prédios indicava que ali morava um apoiador de Bolsonaro. Tanto que o uso do amarelo destacou feito caneta marca texto os que apoiavam seu discurso com ameaças golpistas nos aniversários da Independência em 2021 e 2022.

Não foram poucos os eleitores de Lula ou mesmo cidadãos que não apoiavam nenhum dos dois que se sentiam incomodados com esse roubo dos símbolos nacionais.

Durante a campanha, Lula deu alguns passos para a "libertação" das cores. Um deles foi o evento de apresentação de sua pré-candidatura à Presidência, no dia 7 de maio do ano passado.

O petista fez seu discurso em frente a uma grande bandeira do Brasil enquanto, no telão, exibiam-se as cores nacionais. A logomarca com o lema "Vamos Juntos pelo Brasil" também utilizou uma bandeira estilizada. O padrão foi adotado ao longo da campanha. A ideia era demonstrar que não se tratava de uma candidatura, mas de um movimento cívico pela democracia.

No evento, membros da campanha fizeram questão de frisar à coluna que Bolsonaro não era o dono do verde-amarelo, mas o povo brasileiro. Disseram que não estavam escondendo o vermelho, mas "libertando" o verde e o amarelo.

"Veste a bandeira do Brasil quem quer abrasileirar o preço da gasolina no país, quem quer garantir alimentação saudável e de qualidade para mais de 80 milhões que vivem em insegurança alimentar, quem não bate continência à bandeira dos Estados Unidos. Lula e Alckmin são verde e amarelo", afirmou Alexandre Padilha, na época deputado federal e, hoje, ministro das Relações Institucionais.

O uso das cores, inclusive, incomodou a campanha de Bolsonaro. Alguns aliados do então presidente reclamaram que havia uma tentativa de sequestro das cores - cores que, ironicamente, haviam sido sequestradas por eles próprios.

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Na noite de domingo, 30 de outubro, após o seu discurso da vitória, Lula fez questão de posar com uma bandeira do Brasil. E, durante todo o evento, a imagem de outra bandeira tremulava em um telão na parte de trás do palco. Para aliados, o ato foi simbólico, pois representava o momento de retomada das cores nacionais.

Mas o processo, claro, não é tão rápido assim.

Pois, naquela mesma noite, bolsonaristas vestindo amarelo passaram a travar rodovias em todo o Brasil, contestando o resultado da eleição. Depois, abraçados em bandeiras nacionais, acamparam em frente a quartéis, pedindo intervenção das Forças Armadas. Outros rezaram para pneus. E há os que colaram feito adesivo em para-brisas de caminhão.

Na posse de Lula, no Primeiro de Janeiro, a redemocratização das cores nacionais caminhou um pouco, com mais pessoas sentindo-se à vontade diante delas. Na Copa do Mundo, no final do ano passado, também, com torcedores que não eram bolsonaristas vestindo a camiseta da CBF. Mas outros preferiram o azul ou mesmo versões em preto ou vermelho, tudo para não serem identificados com radicais.

O que, de certa forma, se mostrou acertado. Pois milhares de seguidores de Jair, vestindo essas cores, orgulhosamente invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. Alguns até defecaram para as câmeras de segurança abraçados à bandeira nacional.

Todo governo autoritário tenta ressignificar símbolos nacionais quando chega ao poder para confundir o apoio à nação com o apoio a si próprio. Cabe um governo democrático reverter esse processo, não caindo na tentação de repetir os mesmos passos dados por quem dobrou instituições para seu interesse político e financeiro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL