Leonardo Sakamoto

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Opinião

Erros mostram que projeto de educação de Tarcísio se esqueceu da educação

Quem assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888? A "princesa Isabel" responderá qualquer criança do ensino fundamental 2 - com exceção daquelas educadas com o material didático produzido pelo governo do Estado de São Paulo. Daí, a resposta será o "imperador Pedro 2º".

Reportagem do UOL, desta quinta (31), aponta que conteúdo produzido para ser usado em sala de aula nas escolas estaduais paulistas conta com erros grosseiros em áreas como História. Os slides fazem parte do material digital da Secretaria de Educação, gerida por Renato Feder.

Vamos lembrar que o governo paulista havia anunciado que abriria mão dos livros didáticos que sempre foram fornecidos gratuitamente pelo Ministério da Educação e usaria material digital em sala de aula. Após críticas de pedagogos, professores, das crianças e adolescentes e de seus responsáveis, o governador Tarcísio de Freitas voltou atrás. Continuam sendo usados como material de apoio, contudo,

Os críticos apontaram que não fazia sentido abrir mão de milhões de reais em livros, que a cada ano são escolhidos por cada escola. Além disso, fazia menos sentido ainda usar plataformas 100% digitais considerando que grande parte dos alunos de escola publica não tem computador, celular ou acesso à internet.

E, claro, tinha a questão da qualidade - que ficou evidente pela reportagem do UOL.

Erros acontecem. Em 1994, um competente jornalista que já faleceu publicou em um texto na Folha de S.Paulo que Jesus Cristo foi enforcado. Foi, consequentemente, crucificado por isso por um público adulto que sabia que ele cometera um erro bizarro sobre um dos principais cânones ocidentais.

Erros acontecem inclusive em livros didáticos. Mas há certos erros que, por atingirem de forma tão profunda temas constituintes da formação de nossas crianças e adolescentes, não podem ocorrer. Pelo contrário, o que se esperava de São Paulo é que fossem além. Pois a abolição não é tarefa de uma canetada, mas de séculos de luta da população negra e de apoiadores.

Falhas como essa poderiam virar piada, como a questão do enforcamento, se fossem bobagens. Mas, ao que tudo indica, são consequências de uma estrutura que permite que brotem. São, portanto, indicadores da baixa qualidade do material didático. E isso interfere na já difícil tarefa de formar estudantes que convivem em um ambiente de desinformação.

Isso enterra de vez qualquer pretensão do governo paulista de trocar livros discutidos e debatidos por comissões de especialistas por um material digital próprio de caráter duvidoso que alegram empresários do ramo da educação digital. Errar é humano, mas esse tipo de coisa cheira a um bom negócio.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL