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Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O melhor e o pior cenário para Bolsonaro diante do escândalo das vacinas

O presidente Jair Bolsonaro: refém do imprevisível   - Adriano Machado/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro: refém do imprevisível Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

30/06/2021 11h41

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O céu ameaça cair sobre a cabeça de Bolsonaro.

Em 24 horas, duas bombas explodiram no colo do ex-capitão por envolver, direta ou indiretamente, Ricardo Barros, o líder do governo na Câmara que o presidente decidiu manter no cargo mesmo diante de fortes indícios de prática de corrupção.

O que virá a partir de agora?

Há, basicamente, dois cenários: o desejado pelo governo e o temido por ele.

No primeiro cenário, Bolsonaro irá repetir o argumento de que não houve corrupção no seu governo porque ele não desembolsou um centavo nas negociações.

Ricardo Barros renunciará ao posto de líder na Câmara para se dedicar às muitas reuniões que terá de ter a partir de agora com seus advogados.

E a chave do impeachment continuará segura e bem guardada nas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira, que, sentado sobre os 11 bilhões em recursos do Orçamento da União, é neste momento a última pessoa na face da terra a quem interessa o afastamento do presidente.

Nesse cenário, o escândalo das vacinas fica sob controle e tende a ser cozido em banho-maria até 2022.

Já no segundo cenário, o imprevisível toma conta da situação e o caldo corre o risco de transbordar.

Dentre os muitos eventos imprevisíveis que podem contribuir para esse desfecho está, por exemplo, a possibilidade de o diretor Roberto Ferreira Dias, exonerado ontem, se recusar a afundar sozinho.

Parece improvável que o diretor de logística do Ministério da Saúde, acusado de pedir 1 dólar de propina por cada dose de vacina da AstraZeneca a ser adquirida pelo governo, tenha agido por conta própria ou seja o último elo da cadeia do aventado esquema de corrupção na pasta.

Assim, é bom lembrar que o instituto da delação premiada não morreu com a Lava Jato. Continua vivo, operante e à disposição daqueles que desejarem expiar suas culpas, inclusive por se sentirem injustiçados e abandonados.

Ainda no campo do imprevisível: é sabido que a CPI já quebrou bem mais de uma dúzia de sigilos bancários e telemáticos, o que pode ter rendido aos parlamentares muita informação relevante.

Seria para se adiantar a elas que o empresário representante da AstraZeneca decidiu revelar o pedido de propina supostamente recebido do governo?

Se foi, isso reforça a hipótese de que, a partir das muitas quebras de sigilo que ainda virão, surja outra leva de denunciantes e também de suspeitos, inclusive com sobrenomes ilustres - esse o cenário mais temido pelo governo.