Equipes chegam a local onde estaria maioria dos desaparecidos, diz secretário da Defesa Civil
As equipes de resgate chegaram na tarde desta sexta-feira (27) ao que acreditam ser o local onde estaria a maioria dos desaparecidos no desabamento de três prédios no centro do Rio de Janeiro. Até o momento, mais de dez corpos já foram resgatados dos escombros, segundo informações da Defesa Civil.
“Conseguimos finalmente chegar na parte onde achávamos que teria o maior número de corpos. A nossa expectativa é que haja um número maior de corpos nesse espaço”, disse o secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, se referindo à sala, no sexto andar, onde funcionários de uma empresa estariam passando por um treinamento em informática no horário do acidente.
Segundo Simões, os corpos estão sendo encontrados perto de uma escada. “Todos os corpos estão próximos da escada. Isso nos faz pensar que as pessoas tentaram sair e que o prédio deu sinais de desabamento.”
Questionado se havia esperança de ainda encontrar alguém com vida, Simões disse: "Somos sempre movidos [por essa esperança de encontrar alguém com vida], mas em razão do cenário e pelo tempo que passou, a gente não trabalha mais com a possibilidade de sobreviventes”.
Os trabalhos devem continuar até a manhã de domingo, segundo cálculos da Defesa Civil, e a área deve ser completamente liberada na segunda-feira (30).
As equipes de socorro, comandadas pelo Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) do Corpo de Bombeiros com o apoio da Defesa Civil e da Polícia Militar, intensificaram hoje o trabalho de busca por mais vítimas, já que ainda há cerca de 15 desaparecidos. Cães farejadores ajudam nos resgates. As dificuldades, segundo os bombeiros, são geradas principalmente pela nuvem de poeira que ainda é intensa no local.
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Até o momento, foram identificados seis corpos no Instituto Médico Legal --três homens e três mulheres: Celso Renato Braga Cabral, 44, Cornélio Ribeiro Lopes, 73, o porteiro de um dos edifícios, sua mulher, Margarida Vieira de Carvalho, 65, Nilson de Assunção Ferreira, 50, Alessandra Alves Lima, 29, e Elenice Consani Quedas, 64.
"Nós continuamos com o foco naquilo que é o mais relevante que são as vidas humanas que sofrem nesse momento. A prioridade agora é facilitar o trabalho do Corpo de Bombeiros. Queremos que eles tenham totais condições de desempenhar suas funções sem que haja risco para esses profissionais", disse o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB).
Todo o material retirado dos escombros está sendo levado para um depósito municipal situado na zona portuária, e posteriormente para o aterro de Gramacho, na Baixada Fluminense.
Os acessos a cinco prédios da rua Treze de Maio estão totalmente bloquados --a situação só será normalizada na segunda-feira (30). A prefeitura afirma que não há "qualquer tipo de risco estrutural" para esses imóveis, mas as interdições foram determinadas por questão de prevenção.
"Ela não queria faltar na aula"
Yokania Bastoni, 34, é uma das pessoas que participava do curso de informática e que ainda está desaparecida. “Ela faltou a semana passada inteira nesse curso e ela me disse que não deixaria de vir essa semana nem que fosse obrigada. Naquela noite [quarta-feira, 25] ela não chegou em casa e ninguém conseguiu falar com ela pelo celular. Aí a gente começou a vasculhar suas coisas e vimos que o curso era exatamente nesse horário, aqui no prédio", afirma Gelson Marcolino, 39, que se identificou como amigo da vítima.
"Ela conseguiu um emprego [na empresa TO Tecnologia Organizacional, dona dos andares que passavam por reforma e que são suspeitos de terem causado o desabamento] no meio do ano passado. Era uma das felicidades delas porque ela tinha perdido o pai e estava desempregada”, completou. “Estou muito triste, estou à espera de um milagre”, relatou. Segundo ele, a mãe de Yokania, que mora em Minas Gerais, veio ao Rio de Janeiro acompanhar os trabalhos de resgate.
Estado de choque
A faxineira Mariana Nascimento, 25, que é afilhada do casal Cornélio Ribeiro Lopes e Margarida Vieira de Carvalho, que morreram no desabamento, esteve hoje no local do acidente e afirmou que ficou em estado de choque quando soube da tragédia.
Mariana já morou no edifício Liberdade --onde viviam seus padrinhos-- durante em curto período, em janeiro de 2003. Segundo ela, era possível observar rachaduras na parte externa do edifício, exatamente no vão que fica próximo ao prédio vizinho, que também desabou. “Existia uma lacuna entre os dois prédios e as rachaduras superficiais podiam ser observadas do lado de fora. O prédio vivia em obras”, relata.
Mariana conta que Cornélio era cearense e estava no Rio de Janeiro desde 1980. Ele morava no 20° andar e era zelador do prédio. Sua mulher prestava serviços em outro prédio da região.
Luto e vítimas
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), decretou luto oficial de três dias no Estado em memória das vítimas.
Todos os feridos atendidos na rede pública de saúde já receberam alta, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde.
Cinco feridos foram encaminhados ao hospital municipal Souza Aguiar. Quatro deles foram atendidos entre quarta e quinta-feira e já foram para casa: um homem que sofreu apenas escoriações leves; Alexandro Santos, 31, que estava dentro de um dos elevadores do edifício Liberdade e conseguiu ser resgatado após entrar em contato com um amigo pelo celular; um homem de 50 anos, com ferimentos na perna e lesão na córnea; e um homem de 37 anos, com dores abdominais.
A quinta vítima atendida, uma mulher de 28 anos, sofreu um corte na cabeça e passou por cirurgia no hospital. Durante a tarde ela foi transferida, com quadro estável, para a clínica particular Casa de Portugal –procurada pela reportagem, a assessoria da unidade hospitalar disse que não está autorizada pela família a dar informações sobre a vítima.
Um sexto ferido, uma mulher de 48 anos com escoriações superficiais, foi atendido no hospital Getúlio Vargas, mas já foi liberada, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
Reforma é vista como possível causa
Questionado sobre as possíveis causas do desabamento em série, Paes afirmou ontem que ainda não é possível dar "respostas definitivas", porém descartou totalmente a hipótese de explosão por vazamento de gás. "A possibilidade de explosão é quase igual a zero, sendo o zero por minha conta", disse.
"Estamos compilando as informações fornecidas pelos profissionais que estiveram no local, e tudo será checado antes de que tenhamos uma resposta definitiva. Ninguém sabe responder ainda se foi por dano estrutural ou algo do tipo. São várias hipóteses que serão estudadas e analisadas", afirmou.
Imagem de 18.jan.2011 (esquerda) mostra local dos prédios (em vermelho) que desabaram no centro do Rio de Janeiro no dia 26.jan.2012 (direita)
"Não é normal que três prédios desmoronem no centro do Rio de Janeiro. Não podemos achar que isso é normal. Vamos avaliar a situação geral dos prédios do centro assim que isso tudo passar", completou o prefeito.
De acordo com Paes, a Polícia Civil já está investigando as circunstâncias do desastre. As diligências serão conduzidas pela 5ª Delegacia de Polícia (Mem de Sá), e os mesmos investigadores que trabalharam no caso da explosão do restaurante Filé Carioca, em outubro do ano passado, vão tentar identificar as causas da tragédia de ontem.
"Trinta minutos depois do acidente, a Polícia Civil já estava lá colhendo depoimentos e investigando. Tudo será checado através do trabalho de perícia", explicou.
A suspeita mais provável, segundo os investigadores, é que houve colapso na estrutura do prédio mais alto, devido a falhas em uma reforma feita em um dos andares, onde funcionava uma empresa de informática. A desconfiança é que a reforma, que ocorria há dois meses, levou à retirada de vigas de sustentação, ameaçando a estrutura do prédio. Os dois edifícios que estavam ao lado acabaram sendo atingidos pela força da primeira queda, segundo investigações preliminares.
Crea diz que obras eram irregulares
O presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia (Crea), Luiz Antonio Cosenza, confirmou que estavam sendo realizadas obras no terceiro e no nono andar do edifício Liberdade. Já o engenheiro civil Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, consultor do Crea, afirmou ainda que as obras eram ilegais, pois não tinham autorização do conselho.
“Quando o elevador abria no terceiro andar, era possível ver as colunas do prédio sendo marteladas. Eles estavam quebrando tudo”, relembra Teresa Andrade, sócia da empresa BV Cred, correspondente do banco Votorantim, que ficava no 16º andar do prédio. Ela trabalhava no local há três anos e diz que a reforma no terceiro andar acontecia havia seis meses.
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