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Volta de Nayara ao cativeiro não foi planejada, diz policial sobre caso Eloá

Débora Melo

Do UOL, em Santo André (SP)

14/02/2012 19h12Atualizada em 14/02/2012 19h44

Um dos agentes que participou da negociação para liberar a jovem Eloá Pimentel, 15, feita refém por cerca de cem horas em outubro de 2008 por seu ex-namorado Lindemberg Alves, 25, disse durante testemunho nesta terça-feira (14) que a volta de Nayara Rodrigues ao cativeiro não foi planejada. O cárcere terminou com a morte da jovem e com a amiga dela baleada.

Lindemberg, que invadiu o apartamento quando Eloá estava com Nayara e outros dois amigos fazendo um trabalho de escola, libertou os colegas no primeiro dia, mas manteve Nayara no local. No dia seguinte, ela foi liberada, mas depois retornou.

“A volta da Nayara não foi planejada, foi um excesso de confiança na Nayara porque o Lindemberg tinha dito que se entregaria na presença dela e do irmão mais novo de Eloá”, alegou Adriano Giovanini, policial do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), afirmando que o combinado não era a jovem entrar de volta no cativeiro.

"No crime passional é muito mais complicado negociar, a margem é muito menor", afirmou, ao defender o auxílio da amiga na negociação.

Em depoimento dado antes do julgamento, Nayara afirmou que, após ter sido liberada, foi procurada por policiais que queriam que ela tentasse convencer Lindemberg, pelo telefone, a libertar Eloá. Então ela os acompanhou até o local do sequestro e foi orientada pelo rapaz, ao celular, a subir as escadas. Nayara disse que Lindemberg prometeu que os três desceriam juntos, mas, quando chegou à porta, viu que ele estava com a arma apontada para a cabeça de Eloá. Então, ele puxou Nayara para dentro do apartamento e não a libertou mais.

Questionado sobre o fato de a polícia não ter atirado em Lindemberg, mesmo ele colocando a cabeça para foto do apartamento, o agente disse que havia a esperança que as reféns fossem liberadas. Após a volta de Nayara, ele alega que os policiais não tiveram mais chances de acertar o acusado.

Giovanini disse ainda que Lindemberg “espancava muito Eloá durante o cárcere” –ao ouvir a frase, a mãe da jovem, que está na plateia, chorou muito. De acordo com o agente, o réu anunciava constantemente que ia matar a jovem e cometer suicídio.

"Ele não demonstrava medo, era muito frio, falava muita gíria, parecia fala de criminoso. Ele não demonstrava desespero nenhum, pelo contrário: demonstrava controle da situação", completou.

O agente voltou a afirmar a versão da polícia para a invasão do cativeiro: a de que um tiro foi ouvido dentro do apartamento antes que a porta do local fosse explodida para a entrada dos policiais. Ele, porém, afirmou que as ameaças de morte e o comportamento do sequestrador também ajudaram na decisão de invadir o local.

Ontem, Nayara afirmou que ouviu apenas três disparos no intervalo entre a explosão da porta e a entrada dos agentes no local.

Também prestou depoimento hoje o delegado Sérgio Luditza, que afirmou que os planos da polícia mudaram quando o réu disse a seguinte frase: “eu estou ouvindo um anjinho e um capetinha e o capetinha está vencendo".

O delegado disse que "estava tudo caminhando para a libertação dos reféns” até esta frase, que foi o "estopim" para a invasão da PM ao apartamento.

Entenda o caso

Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu o apartamento de sua ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15, no segundo andar de um conjunto habitacional na periferia de Santo André, na Grande São Paulo, no dia 13 de outubro de 2008. Armado, ele fez reféns a ex-namorada e outros três amigos dela, que estavam reunidos para fazer um trabalho da escola. Lindemberg chegou a libertar todos os amigos, mas Nayara Rodrigues voltou ao cativeiro.

Mais tarde, policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) invadiram o apartamento, afirmando que ouviram um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos tiros. Dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois. Lindemberg foi preso.

O réu é acusado de cometer 12 crimes, entre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, tentativa de homicídio (contra Nayara Rodrigues e contra o sargento Atos Valeriano), cárcere privado e disparos de arma de fogo. Se for condenado por todos os crimes, a pena pode ser superior a cem anos de prisão –Lindemberg está preso desde 2008.