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Encontros em ONG servem como terapia para familiares das vítimas do ataque em Realengo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

07/04/2012 06h00

Os encontros na ONG (organização não governamental) “Os Anjos do Realengo”, criada após o massacre do colégio Tasso da Silveira, funciona como uma espécie de terapia para os familiares das crianças mortas por Wellington Menezes de Oliveira, 23, o ex-aluno que invadiu escola com a desculpa de que "daria uma palestra". A tragédia completa um ano neste sábado (7).

Nas reuniões, os familiares conversam sobre a tragédia, traçam objetivos, organizam cerimônias em memória dos jovens. Entre os temas em debate, a facilidade que o criminoso teve para entrar na unidade ainda é o que mais provoca revolta.

"Até hoje eu não engulo que aquele monstro tenha se passado por bonzinho para entrar na escola. Se tivesse um guarda municipal ali no portão do colégio, a minha filha e outras 11 crianças não teriam morrido", desabafa Joseane Bispo dos Santos, mãe da vítima Milena dos Santos Nascimento.

 

A questão da segurança nas escolas se transformou na principal bandeira da ONG, que funciona de forma improvisada na residência de Adriana Maria da Silveira, mãe da vítima Luiza Paula da Silveira, no mesmo bairro do colégio Tasso da Silveira. A casa é decorada com inúmeras fotos da jovem -- que se preparava para comemorar o aniversário de 15 anos na época do massacre.

"Como a escola não foi capaz de observar que o Wellington já apresentava problemas quando ele estudou lá, podemos concluir que o nosso sistema educacional é falho", afirma Adriana.

Desde a data de sua criação, a organização já conseguiu intermediar alguns pontos importantes como o pagamento de indenizações --os membros de Os Anjos de Realengo evitam falar em valores-- e participar de um debate mais amplo sobre segurança e bullying nas escolas.
Joseane se emociona principalmente quando questionada sobre a última vez em que esteve com a filha. "No dia anterior [ao massacre], nós estávamos em casa conversando e brincando. Ela gostava muito de andar de patins e tinha o sonho de ser atriz", disse.

Kelly Guedes Pereira, 25, irmã da vítima Géssica Guedes Pereira, também destaca a questão da segurança. Segundo ela, o assunto sempre foi motivo para reclamação dos pais dos alunos, antes da tragédia. "Na praça que tem ao lado da escola, muita gente ficava fumando maconha depois da aula, fazendo todo o tipo de coisa. Nunca houve segurança ali", conta. "Se hoje há segurança ali, é porque 12 crianças foram brutalmente assassinadas".

Uma reforma no colégio incluiu a instalação de novas câmeras de monitoramento –hoje são 20 no total – e o colégio passou a contar com porteiros trabalhando em horário fixo – diferentemente de quando Wellington Menezes de Oliveira não encontrou dificuldades para entrar na escola dizendo que "daria uma palestra". Guardas municipais reforçam a segurança dentro e fora do Tasso da Silveira.

Todos os visitantes recebem crachá na entrada e só podem circular pelas dependências da unidade educacional com autorização e acompanhamento, segundo a direção.