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Voluntários vão "embarcar" em simulador para buscar maior conforto em aviões

Andréia Martins

Do UOL, em São Paulo

13/05/2012 06h00

Fatores como a vibração da aeronave, a ergonomia dos assentos e a iluminação e a temperatura dentro do avião podem fazer a diferença entre uma viagem agradável ou estressante. Esses quesitos estão sendo analisados pelo Centro de Engenharia de Conforto montado na Escola Politécnica, no campus da Universidade de São Paulo.

Na Poli, em meio a simuladores e diversos projetos, está uma grande caixa branca que abriga uma câmara de pressão. Dentro dessa câmara foi construído um simulador de voo que comporta uma cabine de avião com espaço para 30 passageiros e que será o ponto de partida do estudo. O objetivo é propor mudanças que permitam oferecer mais conforto aos passageiros.

O professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli Jurandir Itizo Yanagihara, coordenador do projeto, diz que os fatores a serem analisados têm efeito cruzado: “A sensação térmica afeta o desconforto com o ruído, e assim por diante”. Para ele, não há um fator que seja considerado mais crítico, mas um deles costuma gerar mais críticas: os assentos estreitos. Nesse ponto, os estudos de ergonomia vão avaliar como o passageiro interage com o espaço na aeronave e, desta forma, apresentar formas de deixá-los mais confortáveis.

No aspecto relacionado aos efeitos da iluminação interna da cabine sobre os passageiros, a ideia é avaliar qual a cor e a intensidade mais adequadas para diferentes fases do voo: uma cor mais fria e suave na decolagem, que ajudaria a tranquilizar e relaxar os passageiros, e outra, mais quente e estimulante a ser acionada durante o serviço de bordo.

A influência da pressão interna na cabine sobre o conforto dos passageiros é uma questão que também exigirá atenção dos pesquisadores. “Quanto mais pressão da cabine, o que quer dizer mais oxigênio, mais confortável será o voo. No entanto, para isso, a aeronave precisa ser mais pesada, o que implica ser mais cara”, diz Yanagihara.

O estudo foi encomendado pela Embraer e será realizado pela USP em parceria com a UFSCar (Universidade de São Carolos) a Universidade Federal de Santa Catarina. A câmara levou dois anos para ficar pronta e tem 11 metros de comprimento por 4,5 metros de largura. A base para o simulador foi o modelo de aeronave E-Jets (que inclui os modelos Embraer 170, 175, 190 e 195), que atende 60 companhias aéreas em 42 países, e no Brasil é usado por empresas como a Trip e Azul.

Segundo a Embraer, o custo total do projeto chega a R$ 14,9 milhões – R$ 7,4 milhões pagos pela Embraer, R$ 4,3 milhões pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia), e R$ 3,2 milhões pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estados de São Paulo). Só o simulador teve custo estimado e R$ 4 mi.

Voluntários

Com o centro montado, o próximo passo da pesquisa é recrutar passageiros voluntários. São eles que vão testar os aspectos e votar nas opções que oferecem mais conforto. "Para alcançar os resultados esperados, a meta é convocar cerca de mil voluntários para os ensaios. O requisito é ser saudável, já ter viajado de avião pelo menos uma vez e ser morador de São Paulo ou região", disse Jorge Ramos, diretor de Desenvolvimento Tecnológico da Embraer. Os testes duram cerca de três horas e cada voluntário participará apenas uma vez para evitar contaminação nos resultados.

E como a ideia é proporcionar a sensação de um voo real, o passageiro precisa "entrar no clima". Para isso, cada detalhe de uma aeronave real foi reproduzido e também foi criada uma sala de espera para o embarque, com painel indicativo de chegadas e partidas e uma rampa de acesso ao simulador.

Os testes com a participação de voluntários devem começar no final deste mês. Os interessados podem se inscrever no site do projeto (clique aqui).