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Ônibus é incendiado após morte de morador de favela de Belo Horizonte por policial

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

27/11/2012 09h40

Moradores do aglomerado da Serra, conjunto de favelas da região centro-sul de Belo Horizonte, revoltaram-se nesta segunda-feira (26) com a morte de um morador do local atribuída a um policial militar e iniciaram atos de vandalismos em forma de protesto. Ao menos um ônibus foi incendiado, e outro foi parcialmente queimado e depredado. 

Alguns moradores entraram em confronto com policiais militares, que precisaram efetuar disparos de balas de borracha para conter o tumulto. A PM cercou o local e mantém, nesta terça-feira (27), efetivo de homens na região. Há relato ainda não confirmado dando conta de outro ônibus incendiado no aglomerado, e o serviço de ônibus suplementares está suspenso.

De acordo com a irmã de Helenilson Eustáquio da Silva Souza, 24, a vítima levou um tiro na região da nuca, próximo a uma das orelhas. A família está revoltada porque, segundo ela, pediu para ter o nome preservado, o rapaz conversava com amigos em uma praça da localidade quando o policial os abordou e efetuou o disparo.

A versão ainda não confirmada pela PM revela que policias buscavam suspeitos de terem cometido o crime conhecido como “saidinha de banco”. Há ainda relato de os militares terem feito uma incursão no aglomerado em busca de assaltantes que teriam roubado um carro.

A irmã do homem morto informou que havia um mandado de prisão em aberto contra ele, por envolvimento no tráfico de drogas, mas descarta a participação dele nas duas hipóteses que teriam suscitado a incursão da PM no local.

À queima-roupa

“Ele estava trabalhando como servente de pedreiro com o meu outro irmão. Ele tinha acabado de sair do serviço e estava conversando com os amigos. O tiro foi à queima-roupa, sem chance de defesa do meu irmão. Disseram que o policial, depois de ter atirado, pôs as mãos na cabeça, parecendo que tinha se arrependido do que fez”, disse.

Segundo ela, testemunhas disseram à família que os policiais retiraram o corpo da vítima do local antes da chegada a perícia da Polícia Civil mineira. Ela contou que ele chegou a ser coberto com jornais, mas os policiais alegaram que o homem ainda estava com vida e o levariam ao hospital de pronto-socorro João 23.

A assessoria da Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais) está levantando o horário e a condição na qual o homem chegou ao local. O UOL entrou em contato com a assessoria da Polícia Militar de Minas Gerais, mas foi informado que somente o chefe da assessoria poderia responder sobre o caso, mas o oficial não atende ao celular.

Dois mortos

Em fevereiro de 2011, dois homens foram mortos no aglomerado da Serra por policiais militares, o que gerou revolta parecida com a atual nos moradores da favela. Os militares acusados das mortes foram presos e respondem na Justiça pelo crime, que teria sido uma execução.

Um dos acusados foi encontrado morto dentro de uma cela em quartel onde estava preso. A PM informou à época que ele havia tinha se suicidado.

O tenente-coronel Alberto Luiz Alves, chefe da assessoria de comunicação da PM, infomou que um Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto ontem mesmo para apurar o fato. Segundo ele, um sargento acusado de ter matado o rapaz está preso em uma unidade da corporação.

Ele não teve o nome revelado. Ainda conforme o oficial, a versão relatada pelo militar desmente as até então apresentadas pelos populares e pela irmã da vítima. Alves disse que o sargento revelou ter sido acionado, após denúncia recebida pelo telefone de emergência da corporação, dando conta de que homens armados estariam circulando em ruas do aglomerado.

Ao chegar ao local, o sargento afirmou ter se deparado com o suspeito armado e atirando contra ele, que revidou. Alves disse que o militar faz parte do Grupo Especializado de Policiamento em Áreas de Risco (Gepar) e estava habituado com os moradores do aglomerado.  

"Temos informações divergentes da dele. Para tanto, o IPM vai se incumbir de revelar os fatos. A prisão dele, em flagrante delito, no entanto, não estabelece nem o dolo, nem a culpa do militar", afirmou.

Segundo o chefe da assessoria da corporação, a conclusão do inquérito, a cargo da Corregedoria da PM, deverá ser feita em 20 dias. "Ele tem 19 anos de polícia e sete anos de Gepar. Não há nada, até o momento, que o desabone", afirmou.