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Polícia do Rio faz perícia em local onde menina que esperou 8h por cirurgia foi baleada

O corpo de Adrielly foi enterrado no cemitério de Inhaúma, bairro da zona norte do Rio, no último dia 5 - Saulo Cunha/Futura Press
O corpo de Adrielly foi enterrado no cemitério de Inhaúma, bairro da zona norte do Rio, no último dia 5 Imagem: Saulo Cunha/Futura Press

Do UOL, no Rio

14/01/2013 12h23

Agentes da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro realizam na manhã desta segunda-feira (14) uma nova perícia no local onde a menina Adrielly dos Santos Vieira, 10, foi vítima de bala perdida, na madrugada do dia 25 de dezembro do ano passado --o projétil atingiu a cabeça da menor, que estava na porta de sua residência na favela do Urubuzinho, em Pilares, na zona norte da cidade.

Segundo a assessoria da Polícia Civil, o trabalho pericial iniciado nesta manhã não tem previsão de término. No momento em que foi atingida, Adrielly estava indo em direção à mãe, para mostrar a boneca que havia ganhado de presente de Natal.

A Divisão de Homicídios ainda trabalha com a hipótese de que o disparo teria sido feito por algum traficante de drogas da região.

Encaminhada para o hospital Salgado Filho, no Méier, também na zona norte, Adrielly teve que esperar cerca de oito horas por uma cirurgia, já que o neurocirurgião que deveria estar na unidade, Adão Orlando Crespo Gonçalves (indiciado por omissão de socorro), faltou ao plantão de Natal. Posteriormente, a menina foi operada em outro hospital público, o Souza Aguiar, no centro, mas não resistiu. A morte foi confirmada no dia 4 de janeiro.

Duplo indiciamento

O neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves foi indiciado por omissão de socorro, na última terça-feira (8), após faltar ao plantão de Natal no dia em que Adrielly foi vítima de bala perdida. Ele também responderá por crime contra a administração pública e falsidade ideológica, já que, segundo a Delegacia Fazendária, o médico fraudou a folha de ponto do hospital Salgado Filho.

Após visita ao hospital, a delegada Izabela Rodrigues Santoni afirmou ter constatado várias faltas do médico durante todo o mês de dezembro. Na folha de ponto, contudo, apenas uma ausência fora registrada. Ele teria assinado em dias em que havia faltado, de acordo com a investigação. 

Santoni ainda deve ouvir o chefe da emergência, que não comunicou as faltas lançadas no livro de ocorrências à direção do hospital, procedimento considerado o correto.

No depoimento que prestou à polícia, Gonçalves afirmou que não comparecia aos plantões no Salgado Filho, há um mês, porque estava insatisfeito com a escala e havia pedido demissão. Ele está afastado desde o fim de dezembro.

Em nota, a assessoria do neurocirurgião negou que ele tenha cometido a suposta fraude. Gonçalves utilizava, segundo a nota, um eventual substituto para assinar a folha de ponto, o que seria, na versão do suspeito, uma prática "comum" entre os médicos do Salgado Filho.

Além disso, o acusado argumenta ter faltado aos plantões do mês de dezembro, incluindo o da noite de Natal, porque "queria ser demitido", fato que teria sido previamente informado por ele à direção do hospital.

Já no inquérito conduzido pela 23ª DP (Méier), o neurocirurgião foi indiciado por omissão de socorro depois que o delegado Luiz Archimedes ouviu o médico Ênio Lopes, que chefiava a emergência no dia do suposto crime. A testemunha afirmou que "era da mesma escala que Adão há dois anos, mas nunca tinha visto o neurocirurgião", segundo a Polícia Civil.

Lopes afirmou à polícia ter solicitado a transferência de Adrielly ao ser notificado da ausência do médico que deveria estar de plantão no dia do atendimento. Na versão do depoente, ao tomar conhecimento da gravidade do quadro da paciente, ele teria enviado um fax em que pediu uma vaga na rede pública de saúde onde a vítima pudesse ser submetida a uma neurocirurgia.

O prefeito Eduardo Paes classificou a conduta do neurocirurgião como "irresponsável" e "delinquente" e disse que ele deve ser demitido. A ausência do plantonista também está sendo investigada pelo Ministério Público e pelo Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio).