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Contradições e provas técnicas marcam primeiro dia de julgamento de Gil Rugai em SP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

18/02/2013 21h09Atualizada em 18/02/2013 22h08

A exploração de contradições de uma testemunha considerada chave por defesa e acusação, a afirmação de que o réu estava no local do crime e a tentativa de desconstrução de provas técnicas marcaram o primeiro dia do júri popular do ex-seminarista Gil Rugai, nesta segunda-feira (18), no Tribunal do Júri de São Paulo.

Ao todo, foram três testemunhas arroladas pela acusação ouvidas na sessão de julgamento que durou cerca de oito horas.

O ex-seminarista é acusado dos assassinatos do próprio pai, Luiz Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, no crime ocorrido em 28 de março de 2004 no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo.

Promotoria e defesa falam

Três testemunhas da acusação foram ouvidas --o vigia que teria visto Rugai deixar a cena do crime, o médico-legista que fez exame no pé de Rugai, acusado de arrombar a porta da sala onde o pai se escondia, e o perito do Instituto de Criminalística que confirmou que as marcas na porta eram de um chute do pé do réu.

Protegido durante seis anos pelo programa de proteção à testemunha, o vigia que afirmou nas investigações ter visto Rugai deixar o local do crime com um homem não identificado confirmou a versão em juízo. Segundo ele, a dupla atravessou a rua cerca de 20 minutos após barulho de tiros. O casal foi assassinado a tiros de pistola calibre 380 –arma apreendida anos depois dos homicídios em uma caixa de retenção do prédio onde Rugai trabalhava.

Entretanto, inquirido pela defesa do réu, o vigia se atrapalhou em detalhes sobre as vestimentas que Rugai trajaria e na distância em que ele se encontraria do acusado.

O médico legista Daniel Romero Munhoz, da faculdade de medicina legal da USP, disse em depoimento que não há "um nexo de causalidade" entre uma lesão encontrada no pé de Gil Rugai e marcas que estavam na porta do cômodo onde foi assassinado Luiz Carlos Rugai, pai do jovem.

A polícia apontou que o assassino abriu a porta da sala onde as vítimas tentaram se proteger com o pé. Durante as investigações, a conclusão do IC (Instituto de Criminalística) se valeu de laudo médico assinado por Munhoz para afirmar que as marcas de pé na porta da sala onde o empresário foi encontrado morto eram compatíveis com a do filho. Conforme Munhoz, Gil Rugai possuía um edema ósseo no pé direito, do tipo agudo, típico de uma situação de trauma.

Segundo o especialista, esse tipo de contusão pode ser detectada por meio de ressonância magnética até várias semanas após o trauma. Indagado pelo promotor do caso, Rogério Zagallo, se Rugai havia relatado algum tipo de trauma nos últimos meses na época do crime, o perito negou.

Já o perito do IC (Instituto de Criminalística), Adriano Yssamu Yonanime disse que a marca de pé encontrada na sala onde o pai do jovem foi morto, há cerca de nove anos, "encaixa perfeitamente" na imagem sobreposta do pé direito do jovem. "É certeza, porque a imagem [do pé] sobreposta [à imagem da marca na porta] encaixa perfeitamente. Todos os elementos levam a ele", disse, em juízo.

 

Especialistas avaliam primeiro dia

Para o criminalista Luiz Flávio Gomes, que acompanhou o dia de julgamento, o primeiro dia "foi bastante favorável à acusação".

“Porque uma testemunha comprovou a presença do réu no local do crime, a outra, que havia uma lesão no pé de Gil, e a terceira, que o sapato cuja marca ficou impregnada na porta é compatível com o pé dele”, disse.

Para o especialista, esses três indícios de culpabilidade explorados nos três depoimentos do dia “reforçam outros indícios” –tais como, citou, a pistola calibre 380 usada no crime e localizada anos depois na caixa de retenção de esgoto do prédio onde Gil Rugai trabalhava.

“Isso tudo dá um nível de convencimento dos jurados e, como nesse júri temos pessoas de alto nível técnico e de experiência de vida, acredito que eles compreendem melhor toda essa soma de indícios”, declarou. Dos sete jurados, cinco são homens e dois são mulheres.

Já o especialista em direito penal Ricardo Martins de São José Junior, que também acompanhou o primeiro dia e foi membro do júri do caso Nardoni, a segunda-feira “foi produtiva a ambas as partes: acusação e defesa”.

“A acusação se saiu muito bem com a testemunha que confirmou ter visto o réu na cena do crime, por exemplo, mas a defesa explorou bem aspectos contraditórios dessa mesma testemunha --e a testemunha diverge em aspectos importantes disso”, destacou.

Para o advogado, os jurados costumam observar “muito a postura do advogado, do promotor e do juiz --mas se pauta muito mais pela do juiz”.

Entenda o caso

O ex-seminarista Gil Rugai, 29, é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004.

O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, zona oeste de São Paulo.

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.

O IC (Instituto de Criminalística) realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.

Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.

O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos.

Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.