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Facção criminosa chega a 10 anos com violência como estratégia de marketing em Santa Catarina

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

23/02/2013 06h00

A facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense), suspeita de estar no comando dos ataques que desde o último dia 30 de janeiro vêm assustando os moradores de Santa Catarina, completa no próximo domingo (3) dez anos de existência. Começou na cadeia de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, fazendo  sorteio de TVs para os "brothers". Quando a primeira estratégia de marketing se esgotou, recorreu à violência e ao extermínio da oposição, com oito mortes só em 2011. 

No currículo, a organização tem duas ondas de ataques nas ruas. A primeira aconteceu em novembro de 2012, durou uma semana e atingiu 16 cidades em 58 ataques. A atual já se estende por 25 dias e atingiu 37 cidades do Estado em 112 ataques, até essa sexta-feira. Hoje, o PGC conta com quase 2.000 homens em 47 presídios de 36 cidades, segundo o promotor Alexandre Graziotin, do Ministério Público (MPE-SC).

O fundador do PGC é o traficante condenado Nelson de Lima, apelidado “Setenta”. Ele montou o comando com um "ministério" de 20 detentos e escreveu o estatuto do PGC: cada membro nas ruas deve pagar R$ 100 por mês ao PGC ou 10% de cada assalto.

Os ministros ocupam em sua maioria o Pavilhão 4 de São Pedro, oferecendo garantia aos demais presos da facção: ninguém se mete com aqueles que usem a tatuagem de uma carpa, que identifica o PGC.  Só não há garantias para delatores e para "duques", apelido dado aos estupradores.

Em 2012, facção mandou parar ataques de dentro de presídio

Ministros

O embrião do PGC ficou muitos anos adormecido porque Setenta fugiu pouco depois de fecundar sua semente. Ele foi recapturado em março de 2010 e retomou sua posição no ministério.

Logo depois da volta, o Deap (Departamento de Administração Prisional) notou o acirramento da briga pelo poder entre os 1.200 presos da São Pedro, com reflexos nas cadeias de Joinville e Criciúma. No final daquele ano, o MPE começou a investigar o PGC para descobrir quem eram os demais ministros.

O procurador Giovani Tramantoni disse ter concluído que "eles (do PGC) estão querendo se fazer conhecer, mas ainda não têm força". Para acabar com o agito do PGC em São Pedro, Setenta foi transferido para uma cadeia federal, não revelada.

Na esteira da saída dele, no início de janeiro de 2011, começaram os ataques a postos policiais – uma amostra do que seriam as ondas de violência posteriores. Com Setenta fora de cena, a luta pelo controle do PGC continuou.

Segundo o Deap, se deu entre Rudnei Prado, o “Derru”, Sebastião Walter, o “Cartucho”, e Rodrigo de Oliveira, o “Rodrigo da Pedra”.

Alarmado, o Conselho Nacional de Justiça mandou uma comissão para Santa Catarina. Também em 2011, o PGC deslanchou ataques idênticos aos atuais do lado de fora das cadeias - mas, sem queimar ônibus, portanto, mais discretos.

Recompensa

Na ocasião, a Secretaria de Segurança criou uma força-tarefa para investigar a facção: era o mesmo governador Raimundo Colombo (PSD), o mesmo secretário de Segurança, César Grubba, e o mesmo chefe da Polícia Civil, Aldo Pinheiro.

A solução para os ataques da época foi a transferência de 40 presos para cadeias federais. A remoção parou no 19º transferido: o PGC reagiu oferecendo recompensa a qualquer criminoso pela morte o diretor da cadeia de São Pedro, Carlos Alves, considerado duro e incorruptível.

O assassinato da agente prisional Deise Alves em 26 de outubro de 2012 é considerado pela polícia como o dia da maioridade do PGC. O inquérito concluiu que houve um engano porque o alvo da facção era o marido, o mesmo Carlos Alves que ela tinha sentenciado à morte.

Alves contesta o inquérito. Ele disse na semana passada que "os matadores sabiam que atiravam na minha mulher, usaram o crime para me atingir". Ele acusa o traficante Rodrigo de Oliveira, vulgo “Rodrigo da Pedra”, de 37 anos, de ser o mandante da morte de Deise. "Ele estava insatisfeito com a prisão de um agente corrupto que o servia e reagiu com esta vingança, para me atingir e me derrubar do cargo".

Reação

Na investigação para saber quem matou a própria mulher, Alves torturou e espancou presos. Segundo o delegado Renato Hendges, presidente do sindicato dos delegados, "os atentados (de novembro de 2012) foram uma reação dos presos às torturas".

O PGC então decidiu enfrentar a polícia nas ruas. Poucas horas antes do primeiro ataque da onda de novembro, o serviço reservado da PM avisou seus agentes de iminentes ataques da facção. A onda começou atacando ônibus e instalações policiais e terminou quando Alves foi demitido. Ele nega que tenha cometido torturas, mas um inquérito está em andamento.

A cadeia sob nova direção recomeçou as investigações de Alves e retomou as estrepolias. Agentes da São Pedro foram a Joinville e estão entre aqueles gravados, num segundo video, dando tiros de borracha em presos indefesos. A reação do PGC foi deslanchar a segunda onda de violência, em 30 de janeiro, até agora a maior de Santa Catarina, com 112 ataques em 37 cidades.