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"Só choro pelos vizinhos", diz desalojada após temporal em Petrópolis

Área afetada pela chuva em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro - Tânia Rêgo/Agência Brasil
Área afetada pela chuva em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Petrópolis

18/03/2013 18h44

Após ser obrigada a sair de casa durante o temporal que castigou a cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, a auxiliar de serviços gerais Cláudia Vicente de Carvalho, 44, retornou ao bairro Quitandinha, um dos mais afetados pela chuva, na manhã desta segunda-feira (18), para buscar o que sobrou --a residência foi totalmente tomada pela água durante a madrugada.

Apesar do prejuízo financeiro, Cláudia se disse feliz por ela e a família terem saído a tempo de buscar refúgio em uma área segura, diferentemente de pelo menos quatro famílias que residiam no entorno. "Casa a gente constrói outra. Eu só choro pelos vizinhos. Mais para baixo, uma família inteira morreu, mãe e seis filhos. Só o pai escapou", afirmou. A chuva que atinge o Estado desde a tarde de domingo (17) deixou 13 mortos em Petrópolis e outras três pessoas desaparecidas.

  • Zulmair Rocha/UOL

    Apesar do prejuízo financeiro, Cláudia se disse feliz por ela e a família terem saído a tempo de buscar refúgio em uma área segura


Segundo a moradora, o temporal teve início por volta de meia-noite, e muitos moradores do Quitandinha optaram por não sair do local, apesar da insistência dos agentes da Defesa Civil. A poucos metros da residência de Cláudia, dois assistentes da Defesa Civil morreram depois de serem atingidos por um muro no exato momento em que tentavam convencer duas pessoas a abandonar a área de risco.

"Nós estávamos ligados, felizmente. Meu marido ainda chegou a descer a rua para ajudar a equipe da Defesa Civil. Mas teve gente que não teve a mesma sorte", disse Carvalho.

"Vou ter que ficar um tempo na casa da minha ex-patroa. Depois, não sei", completou a auxiliar de serviços gerais, que afirma ter lutado durante dez anos para que outras pessoas não construíssem casas naquela região. Segundo ela, a Defesa Civil não havia vistoriado a área, tampouco teria notificado os moradores sobre o grau de periculosidade em casos de eventos climáticos.


"A última tragédia desse tipo tinha sido em 2003. De lá para cá, eu venho brigando para não sejam levantadas mais casas. A minha foi a última a ganhar licença, mas com a condição de que eu não deixasse ninguém ocupar as casas que ficam em cima e ao lado", finalizou.

O prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, afirmou em entrevista coletiva que ainda há cerca de 5.000 famílias morando em áreas de risco na cidade. Mas, por enquanto, a prefeitura só prevê retirar e realocar 164 delas. O trabalho total de remoção só deve ser concluído no prazo de três anos.

"São cerca de 700 pessoas que vivem na Estrada da Saudade. Quando serão removidas? Estamos em um processo de licitação. Se der tudo certo, vamos começar o mais rápido possível. Mas é obra para três anos, porque são áreas de difícil acesso e que envolve um processo social. Não é nada fácil", disse.

Desabrigados

Segundo o governador do Rio, 650 pessoas ficaram desabrigadas --140 famílias-- devido à chuva. Essas pessoas foram encaminhadas para 18 abrigos, dos quais 16 são escolas estaduais e municipais e dois são instituições religiosas. AS escolas municipais Papa João Paulo e Marcelo Alencar são as que concentram o maior número de famílias.

Cabral afirmou ainda que o sistema de alerta da prefeitura funcionou com êxito. "Muitas vidas foram poupadas", explicou o governador. Ele disse que todo o grupo de Salvamento do Corpo de Bombeiros Estadual --250 pessoas-- está mobilizado em Petrópolis. Além disso, 500 pessoas foram contratadas emergencialmente para atuar no serviço de limpeza urbana.

Para isso, foram liberados R$ 3 milhões por parte do Estado e R$ 200 mil pela prefeitura para ações de assistência social. Segundo o prefeito, Rubens Bomtempo, serão contratadas mais 500 pessoas e a compra de material de higiene, fraldas, leite em pó e itens básicos para quem ficou sem residência será priorizada.

Teresópolis

Segundo a Defesa Civil, a chuva não deixou vítimas em Teresópolis, onde houve duas quedas de barreira --uma no bairro Santa Cecília e outra em Guarani--, uma queda de muro em Corta Vento, um deslizamento na Coreia e um alagamento em Vargem Grande. Durante a noite, as maiores quantidades de chuva foram de 168mm no Rosário, 100mm no Corta-vento e 89,4mm na Quinta Lebrão. Nesta manhã, a chuva diminuiu e caiu fina.

Magé

O dique do rio Roncador, que passa por Magé, região metropolitana do Rio de Janeiro, se rompeu na tarde desta segunda e alagou o bairro Vila Liberdade, no município. Segundo a prefeitura da cidade, a água invadiu as casas da região deixando 120 famílias estão desalojadas e sete desabrigadas.

A Defesa Civil de Magé decretou estado de alerta no município. Nas últimas 24 horas, choveu mais do que o volume esperado para todo o mês de março. Na estação de monitoramento pluviométrico, foi constatado que nas últimas 24 horas o volume de chuva bateu a marca de 160 milímetros –o esperado para todo o mês era o equivalente a 280 milímetros. O rio Roncador, no primeiro distrito, transbordou, e as equipes da Defesa Civil identificaram pontos de deslizamentos, mas os principais problemas detectados na cidade são as inundações.

Angra dos Reis

Em Angra dos Reis, equipes da Defesa Civil se deslocaram por volta das 21h de domingo para o Parque Mambucaba, a Japuíba e o Pontal, onde houve transbordamento de rios. Em Mambucaba, o rio que passa pelo bairro já teve seu pico de maré. Na Japuíba, outro rio tem pontos de transbordamento na altura das ruas Rio Bonito e Mangaratiba.

Rio de Janeiro

A chuva colocou a capital fluminense em estado de atenção. O Rio de Janeiro entra neste nível quando há previsão de chuva moderada, ocasionalmente forte, nas próximas horas. Neste estágio, os operadores do Sistema Alerta Rio, da prefeitura, ficam em constante comunicação com os órgãos municipais que atuam nas situações de chuva.

Mais chuva

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a previsão para a região serrana nesta segunda-feira é de tempo nublado a encoberto com pancadas de chuva e trovoadas. A possibilidade de chuva é de 60% a 90% durante a tarde e a noite. A temperatura fica entre 16 °C e 25 °C. Já para terça-feira (19), a previsão é de tempo nublado a encoberto com chuva, com temperatura variando entre 14 °C e 24 °C. O governador Sérgio Cabral afirmou que o município está em alerta máximo: "Estamos ainda em alerta máximo, total alerta máximo. (...) Peço encarecidamente para que as pessoas não saiam de suas casas."