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Em júri, testemunhas de defesa acusam extrativista morto de homicídio

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Carlos Madeiro

Do UOL, em Marabá (PA)

03/04/2013 20h23

Testemunhas defesa dos irmãos José Rodrigues Moreira e Lindonjonson Silva Rocha, acusados de matar o casal de extrativistas Maria do Espírito Santo da Silva e José Claudio Ribeiro da Silva, em maio de 2011, em Nova Ipixuna (582 km de Belém), acusaram José Claudio de assassinar outro homem, em setembro de 2009, e que, por isso, ele teria imimigos. 

Ao todo, quatro testemunhas foram ouvidas, encerrando a primeira fase do julgamento. Ao todo, foram nove testemunhas --cinco de acusação e quatro de defesa. O júri popular entra agora na terceira fase, com o interrogatório dos três acusados.

Segundo três testemunhas ouvidas, José Claudio e seus três irmãos seriam os culpados pela morte do colono Odilon Ribeiro, conhecido como Pelado, ocorrida no assentamento Praialta-Piranheira, no dia 18 de setembro de 2009. Até hoje, os irmãos estão foragidos --eles tiveram a prisão decretada pela Justiça, em 2011.

À época do pedido de prisão, familiares de José Claudio negaram o crime e disseram que os indícios apresentados (que surgiram apenas após a morte do casal) seriam uma armação de pessoas ligadas a José Rodrigues, acusado de mandar matar o casal extrativista.

Casal de extrativistas é assassinado; relembre o caso

  • O crime, ocorrido em 2011, ressalta a violência contra militantes de defesa da natureza na região Norte, que já viu o seringueiro e sindicalista Chico Mendes e a missionária americana Dorothy Stang serem mortos por questões agrárias. O casal recebeu ameaças antes de morrer (vídeo acima)

“José Claudio e os os irmãos foram que mataram ele, por questões de terra”, disse Manoel Ribeiro de Souza, primeiro a depor e apontado com testemunha ocular do crime.

Segundo ele, a Odilon recebia ameaças por questões ligadas à disputa da família.

Em depoimento em seguida, a viúva de Odilon, Angélica Concenição da Silva, também afirmou que foram José Claudio e seus irmãos os responsáveis pela morte de Odilon.

Segundo ela, ela aceitou ir prestar depoimento por conta de uma afirmação de um amigo do marido dela, que teria afirmando que iria se vingar do crime.

“Por alto, eu ouviu dizer que iam vingar a morte dele, amigo-irmão, que foi criado junto. Depois disso eu viajei. Eu fiquei com medo”, disse, sem dar detalhes.

Questionada pelo MPE-PA (Ministério Público Estadual do Pará), em seguida, quem seria o “amigo-irmão” que teria falado em vingança, a viúva afirmou que ele morreu um mês depois de seu marido.

“Ele está no cemitério. Foi morto uns dois anos antes da morte do casal”, disse, descartando indicar outro suposto nome como possível mandante do assassinato.

Já mãe de Odilon, Maria do Socorro Ribeiro de Souza, que também fez a mesma acusação sobre os supostos assassinos de seu filho, afirmou ter certeza de que ninguém de sua família matou José Claudio por vingança.

“Tenho certeza, todos meus filhos não são pessoas disso, não fariam nada como ninguém”, disse.

Durante o depoimento, ela passou mal e precisou ser retirada do plenário por alguns minutos, antes de finalizar o julgamento.

Depoimento conturbado

O último depoimento das testemunhas foi de Joeuza Pereira da Silva, moradora do município de Nova Descoberta, que alega ter visto Lindonjonson próximo à casa onde mora no dia do assassinato. É na cidade que mora o acusado.

“Estava lá, eu vi ele. Ele estava só, por volta das 7h para as 8h [a morte do casal ocorreu por volta das 8h30, segundo a perícia]. Eu fui levar minha sobrinha à escola, e vi ele lá, logo que saiu o acontecimento [crime]”, disse.

Após ser indagada pela defesa dos réus, a promotora Ana Maria Magalhães fez vários questionamentos à testemunha. Nas respostas, Joeuza disse que não havia comentado com ninguém sobre o fato de ter visto supostamente o acusado no município, no momento do crime.

Visivelmente nervosa, Joeuza se calou quando a promotora questionou como a defesa de Lindonjonson teve conhecimento de que ela teria visto o acusado próximo a sua casa.

Apesar da insistência para que “contasse a verdade” e evitasse um processo por falso testemunho, a testemunha permaneceu calada até ser encerrado o depoimento.

Na saída, um dos advogados de defesa gritou que a explicação dela “estava nos autos”.

Como resposta, a promotora disse que não havia feito perguntas à defesa, mas sim, a testemunha, o que gerou aplausos da plateia. O juiz do caso reclamou da participação popular e ameaçou retirar o público do auditório, caso houvesse uma nova manifestação.