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Testemunha diz ter visto acusado no local do crime contra extrativistas

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Carlos Madeiro

Do UOL, em Marabá (PA)

03/04/2013 18h04

Terminou em bate-boca a fase de depoimentos das testemunhas de acusação do julgamento dos três réus acusados de matar o casal extrativista Maria do Espírito Santo da Silva e José Claudio Ribeiro da Silva, mortos em maio de 2011, em Nova Ipixuna (582 km de Belém). 

O julgamento de três acusados pelo crime começou na manhã desta quarta-feira (3), no Fórum de Marabá (a 685 km de Belém). Os réus são: José Rodrigues Moreira, Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento. Eles estão presos preventivamente desde setembro de 2011.

Ao todo, quatro testemunhas de acusação prestaram depoimento. Outras cinco testemunhas que também deveriam prestar esclarecimentos foram dispensadas. A partir de agora, o julgamento entra na fase dos depoimentos de defesa, com sete testemunhas arroladas pelos réus.

O depoimento de Nilton José Ferreira de Lima, quarto a falar no júri, causou confusão. No dia 14 de junho de 2011, ele fez o retrato falado, para a polícia paraense, que ajudou as investigações a encontrarem o suspeito. O retrato seria de Lindonjonson.

Casal de extrativistas é assassinado; relembre o caso

  • O crime, ocorrido em 2011, ressalta a violência contra militantes de defesa da natureza na região Norte, que já viu o seringueiro e sindicalista Chico Mendes e a missionária americana Dorothy Stang serem mortos por questões agrárias. O casal recebeu ameaças antes de morrer (vídeo acima)

Aos jurados, a testemunha disse que viu, enquanto fazia uma cerca na estrada próxima ao local onde o casal foi morto, uma moto passando com os dois supostos assassinos. “A pessoa que estava na garupa não deu para reconhecer, mas o piloto deu para perceber que era Lindonjonson”, afirmou.

A testemunha afirmou que reconheceu Lindonjonson de imediato, que seria o piloto da moto. “Não tenho dúvida, pois já tinha conversado com ele anteriormente. Era uma moto vermelha, com uma pessoa da garupa. Ele usava capacete preto e parou a cerca de uns 15 metros. Usava jaqueta e calça comprida”, disse a testemunha.

No momento em que era interrogado pelos advogados de defesa, o advogado José da Batista, assistente de acusação, afirmou que a defesa tentava confundir a testemunha, ao fazer comparações com as estradas vicinais da região e fazer ilações sobre a condição de visibilidade à distância que estaria na moto.

O juiz intercedeu e se dirigiu aos jurados, alertando que a postura exaltada dos advogados não deveria ser levada em conta na análise dos fatos, e  classificou a discussão como “feia”, "para não dizer outra coisa".

Ao concluir as perguntas, o advogado de defesa de dois dos acusados, Wandergleisson Fernandes Silva, se exaltou ainda mais e gritou à testemunha: “O senhor está mentindo!”.

A frase gerou novo mal-estar e protestos. O juiz interveio novamente e voltou a se dirigir as jurados. "Não levem em conta frases desse tipo. Ninguém aqui é dono da verdade”, disse.

Outros depoimentos

Em outro depoimento, Laísa Sampaio --irmã Maria do Espírito Santo da Silva-- relatou que o casal vivia em "constate ameaça".

"Eles lutavam contra e denunciavam as ilegalidades, a retirada da madeira e os carvoeiros", disse.

Ela afirmou que as primeiras ameaças vieram de fazendeiros, ainda por volta de 2001, depois, de madeireiros da região.

"Mas antes da morte dela soube da outra ameaça, do conflito da terra, e que o senhor José Rodrigues começou a ameaçar. Essas ameaças ocorriam devido à terra que Rodrigues comprou no assentamento. Maria disse que ele chegou a falar com ela, antes de comprar a terra, e ela falou que não comprasse, que lá havia três agricultores, que era terra da União", afirmou.

A irmã também disse que o casal "não era querido" por muitos moradores do assentamento onde viviam, "Eles tinham o repúdio de muita gente, de pessoas que vivem do imediatismo. Nem todo mundo tem essa consciência, de respeito pela floresta. Mas não a ponto de matar", disse.

Laísa declarou ainda que o casal costumava denunciar as ilegalidades na posse da terra no assentamento onde viviam, citando uma suposta cartorária de Marabá como a vendedora das terras a José Rodrigues e responsável por cometer as ilegalidades.

"José Claudio e Maria denunciavam a ocupação de pessoas que sem o perfil para ser uma cliente da reforma agrária. Não foi por falta de aviso, de denúncia, que isso ocorreu. O Incra [órgão federal da reforma agrária] foi avisado que havia essa posse de terra ilegal", disse.

Outra testemunha de acusação, o extrativista e cunhado de Maria do Espírito Santo, José Maria Gomes Sampaio, também afirmou que havia um desentendimento notório entre José Rodrigues, acusado de ser o mandante do crime.

Segundo a testemunha, Rodrigues teria expulsado agricultores assentados do projeto, o que gerou protestos do casal, que lutava contra a ocupação irregular.

"Maria contou que estava sendo ameaçada por José Rodrigues. Disseram a ela que era para tomar muito cuidado, que ele ia vingar deles dois", afirmou.

A testemunha disse ainda que, além das ameaças de Rodrigues, em 2005 o casal tinha sido ameaçado por madeireiros. "Eles incomodavam quem tinha ocupação irregular no local", disse.