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Após manifestação pacífica, centro de BH sofre saques e vandalismo por 2h30 sem presença da polícia

Vinicius Segalla

Do UOL, em Belo Horizonte

19/06/2013 06h02

A manifestação realizada no fim da tarde e no começo da noite desta terça-feira (18) no centro de Belo Horizonte deu lugar a cenas de guerra, saques e quebra-quebra generalizado.

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A violência reinou no coração da capital mineira por duas horas e meia, das 21h30 até pouco mais de meia noite, sem intervenção da Polícia Militar, que chegou ao local por volta das 0h10 e controlou a situação em menos de dez minutos, efetuando 15 prisões, atirando três bombas de efeito moral e disparando quatro balas de borracha, conforme presenciou a reportagem do UOL.

Tudo seguia dentro de absoluta normalidade enquanto cerca de 3.000 a 4.000 pessoas se manifestavam na Praça Sete, no centro de BH. Por volta das 21h, o grupo decidiu seguir em marcha até a sede da Prefeitura de Belo Horizonte, na avenida Afonso Pena, a cerca de cem metros dali. Lá chegando, os manifestantes encontraram o prédio sem a presença de qualquer policial, ao contrário do que havia acontecido no dia anterior, quando a manifestação estacionou em frente à prefeitura de frente para uma linha de policiais do Batalhão de Choque da PM, que defendia o prédio público.

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O grupo, então, parou nos portões da sede da administração municipal, gritando palavras de ordem como "Não é mole, não. Tem dinheiro para estádio, mas aumenta o busão". Cerca de 15 minutos depois, um grupo minoritário de pessoas vestindo roupas pretas e com os rostos cobertos por panos e camisas passaram a depredar o local, primeiro com paus e pedras, depois atirando bombas nos portões do prédio.

A grande maioria dos manifestantes, então, passou a vaiar a atitude da minoria violenta, e resolveu deixar o local, seguindo em passeata para a Praça da Liberdade, onde está localizado o Palácio de mesmo nome, antiga sede do Governo do Estado de Minas Gerais. Os que ficaram para trás, cerca de 300 pessoas, permaneceram vandalizando o local por mais meia hora. Vidraças, câmeras de segurança, telefones públicos e luminárias foram, sempre sob o olhar passivo de sete policiais que acompanhavam todo o desenrolar da situação de uma varanda no andar de cima do prédio da prefeitura.

Neste momento, um grupo notou que a reportagem do UOL estava tirando fotos dos atos que ali aconteciam, e que também passava informações via rádio para a redação do portal, em São Paulo. Este repórter, então, foi cercado e agredido com socos e pontapés pelos manifestantes. Acuado e com medo, o repórter mentiu: "Eu apoio tudo que está acontecendo aqui. Só estou tirando fotos sem mostrar o rosto de ninguém, para mostrar a indignação da sociedade". O argumento sensibilizou parte dos manifestantes, que tentaram acalmar os demais e mandaram que o repórter corresse dali. A reportagem, então, passou a acompanhar os acontecimentos a uma distância de cerca de 50 metros.

Enquanto isso, um manifestante que se assustou com a explosão de uma das bombas tentou sair correndo, caiu no chão e foi pisoteado por outros participantes do protesto. Os Bombeiros foram chamados e, em menos de cinco minutos, uma ambulância chegou ao local e levou o ferido embora para o Hospital João 23. Segundo informação dos Bombeiros, ele passa bem. A polícia não deu o ar da graça.

O incidente com o manifestante ferido, que trouxe os bombeiros para o local, fez com que os manifestantes violentos resolvessem deixar a área da prefeitura e rumassem de volta para a Praça Sete. No meio do caminho, porém, resolveram fechar o cruzamento da avenida Afonso Pena com a rua Espírito Santo. O relógio marcava 22h15 quando o grupo espalhou e tacou fogo em sacos de lixo no asfalto da Espírito Santo, fechando o trânsito.

  • Vinicius Segalla/UOL

    Pontos de fogo na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, após agência do Banco do Brasil ser depredada

A partir daí, ôs ônibus que tentavam cruzar a rua eram parados e depredados com pauladas e pedradas. Os passageiros desciam correndo. Pelo menos quatro ônibus foram depredados. Neste momento, a Afonso Pena estava sendo tomada por fogueiras. A cena era de guerra civil já havia 45 minutos. Nem sinal da polícia.

Em dado momento, veio um grito de ordem, que rapidamente ganhou a adesão de dezenas: "Vamos quebrar os baaaaancos!!". O primeiro foi o Itaú. A agência da Praça Sete foi depredada por mais de uma hora. Tempo suficiente para que os amotinados conseguissem quebrar os vidros que davam acesso aos caixas eletrônicos, depredar os terminais de atendimento, quebrar a porta de entrada da área interna da agência, saquear e tacar fogo no mobiliário de mesas, bancos e cadeiras, saquear extintores, computadores, documentos e até papel higiênico. Um dos manifestantes cantava: "Puta que o pariu! Cadê a PM, ninguém sabe, ninguém viu, SUMIU!"

Quando não havia nada mais para quebrar ou roubar no Itaú, foi a vez do Santander, na agência vizinha, na mesma Praça Sete. Os manifestantes, porém, não tiveram êxito em abrir as portas de aço. O jeito foi partir para a agência do Banco do Brasil da avenida Afonso Pena, que estava sendo poupada por ser pertencente a um banco estatal, segundo os gritos dos poucos que ainda tentavam dar algum sentido ao protesto.

Com a agência devidamente saqueada, o grupo partiu para uma loja da Vivo. Algumas dezenas de pontapés levaram a porta abaixo. Algumas dezenas de manifestantes levaram os aparelhos celulares ali estocados aos bolsos.

Esta era a situação quando, pouco depois da meia-noite, a polícia chegou. As poucas centenas de pessoas que vandalizaram o centro de Belo Horizonte correram e sumiram em poucos minutos, aos gritos de "Os 'homi' chegaaaram!". Os policiais correram, conseguiram prender 15, deram alguns tiros de bala de borracha em uma pequena multidão em fuga, atiraram bombas protocolares. Com cinco minutos de presença da PM, a situação estava sob controle.

O coronel Carvalho, que comandava a operação, apareceu para dar entrevista à imprensa, resumida a dois repórteres. O UOL perguntou: "Coronel, foram mais de duas horas de violência. Por que a polícia demorou tanto?". O coronel: "A Polícia Militar não demorou. Estávamos monitorando a situação de longe. Decidimos não intervir antes para evitar que inocentes pudessem ser feridos".

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