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Greve de ônibus no RS faz grávida atravessar cidade debaixo de sol

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

30/01/2014 13h50

A greve geral dos rodoviários de Porto Alegre trouxe inúmeros transtornos a milhares de passageiros, nesta quinta-feira (30), quando apenas 196 dos 1.453 ônibus da frota circulante deixaram as garagens, mas em quantidade insuficiente para garantir a demanda dos cerca de um milhão de usuários.

Simone Prado, 34, mora no bairro Parque dos Maias, na zona. Ela é hipertensa e está grávida de sete meses, mas a falta de ônibus faz ela caminhar todo o dia 15 quadras. Sob o sol forte e enfrentando temperaturas que se aproximam dos 40°C, a comerciante precisa cruzar os limites de Porto Alegre para pegar um coletivo na cidade vizinha de Alvorada, onde não há paralisação.

“Caminho uns 20, 25 minutos, atravesso a ponte e pego o ônibus, que já vem cheio. Daí desço perto do centro de Porto Alegre, caminho mais umas três quadras e estou no serviço”, conta.

Acostumada a embarcar na esquina de casa, Simone vê sua rotina atual muito cansativa e bem mais cara. “O vale-transporte de Porto Alegre não é aceito em Alvorada. Então pago até o dobro da passagem com o meu dinheiro. É bem complicado, não posso ficar em casa sem receber, tenho que trabalhar.”

Caso a greve permaneça, o que deve ser decidido nesta tarde em reunião entre sindicalistas, empresários e prefeitura, Simone continuará saindo de casa uma hora mais cedo do que de costume para ir ao trabalho. Os grevistas reivindicam reajuste de 14% no salário e de R$ 4 no vale-alimentação, além da manutenção no plano de saúde.

Filas e incertezas

Quem foi para as paradas logo cedo nesta quinta-feira se deparou com filas e incertezas. Kátia Mariano, 45 anos, não conseguiu chegar ao trabalho nesta manhã. Atendente de nutrição em um hospital na região central da cidade, ela teve que retornar para casa depois de desistir de esperar. “Minha opção são os táxis-lotação. Mas quando passam pelo meu bairro eles já vêm lotados”, diz a moradora do bairro Glória, na zona sul. Usualmente, ela utiliza dois ônibus para ir ao trabalho – um até o centro da cidade, cuja viagem é de aproximadamente 25 minutos, e mais um até o trabalho, um trecho de cerca de 5 minutos de transporte coletivo. “Hoje de manhã era impossível ir para o trabalho. Vou à tarde. Mas minha volta para casa não sei como será.”

Moradora da zona norte, no bairro Rubem Berta, a secretária Juliana Lacerda, 32, também utiliza dois coletivos para chegar ao trabalho, no bairro Menino Deus. “Estou pegando duas lotações, uma até o centro e outra até o serviço. Como a passagem é bem mais cara, gasto R$ 8,40 [a tarifa de ônibus é R$ 2,80] só para chegar. Mas a volta para casa vai ser ainda mais complicada.”

Nessa quarta-feira (29), Juliana esperou quase uma hora nas longas filas nos pontos de táxi-lotação que têm se formado no centro da cidade. “Ontem só consegui chegar em casa porque embarquei em uma van clandestina no centro, que me deixou em um bairro próximo ao meu. De lá, consegui carona com um vizinho, que me deixou em casa.” Ela conta que o ponto do coletivo irregular é próximo à prefeitura da cidade. “Não tem nenhuma fiscalização. Mas é o jeito de chegar em casa. É mais barato e mais rápido do que a lotação."

Ônibus apedrejados

Nesta manhã seis ônibus que deixaram as garagens foram apedrejados em Porto Alegre. Pelo Twitter, o prefeito José Fortunati reclamou, dizendo que a Brigada Militar não estaria dando o apoio. “Infelizmente a Brigada Militar não está dando o suporte necessário nas entradas das garagens. Desta forma meia dúzia de piqueteiros termina impedindo que os veículos cumpram com o papel.”

Através de sua assessoria, a corporação informou que a segurança dos veículos que deixam as empresas está sendo feita, mas os policiais não têm instrução para atuarem junto aos grevistas que impedem as saídas das empresas.

Ontem a Justiça gaúcha considerou a greve dos rodoviários ilegal. Com isso, o Sindicato dos Rodoviários terá que pagar uma multa de R$ 100 mil referente a dois dias do descumprimento da determinação de que 70% da frota ficasse à disposição nos horários de pico.

Além disso, pelo despacho da vice-presidente do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), desembargadora Ana Luiza Heineck Kruse, as empresas poderão descontar os dias parados dos salário dos grevistas. Os empresários também estão autorizados a contratar emergencialmente trabalhadores para substituição. Nas redes sociaiso Twitter, o prefeito Fortunati afirmou: “O Diretor-presidente da Carris [empresa pública], Sérgio Zimermann, já anunciou a contratação de novos motoristas e o desconto dos dias parados”.

Os rodoviários exigem 14% de aumento, mas as empresas condicionam a negociação à revisão da tarifa, que chegou a R$ 3,05 no início de 2013, mas retrocedeu para R$ 2,80, valor atual. Consultada, a prefeitura disse apenas que espera que a ordem judicial seja cumprida.