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Obra do metrô no Rio faz morador tomar remédio para dormir: "Treme tudo"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

12/05/2014 14h49Atualizada em 12/05/2014 16h17

O morador de um dos prédios danificados pela cratera que se formou na construção do metrô da Linha 4 em Ipanema, na zona sul do Rio, no domingo (11), Nélio Ferreira, 70, afirmou ao UOL que, desde o começo da obra, só consegue dormir com a ajuda de remédios.

"Eles furam o solo de madrugada. Quando o tatuzão passa na rua, tudo treme. As paredes, os quadros, os móveis”, disse o idoso. “Não tenho outro jeito a não ser tomar tranquilizante para pegar no sono."

O Consórcio Linha 4 Sul, responsável pelas obras da Linha 4 do metrô, divulgou nota na qual afirma que os moradores da rua Barão da Torre foram avisados de que "não há risco para a estabilidade das edificações do entorno".

A obra na rua Barão da Torre, onde ocorreu o acidente, teve início há cerca de um ano, relatam os moradores. Desde então, a vida nunca mais foi a mesma, segundo testemunho de Ronaldo Novaes. Em razão das crateras abertas no último fim de semana, ele diz estar sem luz, gás e sinal de TV por assinatura.

"Está muito difícil morar aqui. Há um ano, esta era uma rua tranquila. Mas toda noite, sempre depois de meia-noite, eles passam com o tatuzão, e aí tudo fica vibrando”, reclamou ele, que mora em um dos edifícios vizinhos à obra. “Os operários informam que não estão autorizados a falar. Ninguém se posiciona."

"Você sabe o que é tortura chinesa? O que acontece aqui é pior do que terremoto. O terremoto vem e as pessoas correm”, afirmou a mãe de Novaes, que pediu para não ser identificada. “Aqui é todo dia. É aquela gota que fica caindo insistentemente e te torturando, sem te deixar dormir."

Ferreira declarou ainda que, no domingo, teve o sono interrompido pelo estrondo do acidente. "Parecia uma explosão de fogos de artifício", contou. Além das rachaduras formadas na entrada do prédio, o morador disse ter identificado pequenas rupturas no chão da garagem. A convite do idoso, a reportagem do UOL esteve no local e constatou que, de fato, rachaduras se formaram no solo a ponto de fazer com que o piso soltasse.

"A gente não se sente seguro aqui. Moro há mais de 35 anos neste prédio e nunca vi algo parecido. Antes, a nossa preocupação era com os assaltos na rua, quando descia o pessoal do Cantagalo [favela vizinha ao bairro, com um dos acessos pela rua Barão da Torre]”, afirmou. “Hoje não sabemos se vamos encontrar a casa de pé."

Governo mantém prazo de entrega da obra

O secretário da Casa Civil do Estado do Rio de Janeiro, Leonardo Espíndola, afirmou nesta segunda-feira (12) que o afundamento ocorrido na rua Barão da Torre não vai alterar o prazo de entrega da obra, para o primeiro semestre de 2016. "É um compromisso olímpico do Estado do Rio de Janeiro, integralmente mantido", declarou.

Buracos surgiram em frente aos prédios 132, 133, 137 e 141 da rua. Com o afundamento, formaram-se duas crateras na via, e o portão do edifício de número 137 cedeu. Não houve feridos, mas muitos moradores preferiram deixar suas casas, com medo de que o prédio desabasse. A Defesa Civil do Rio determinou a suspensão das obras.

Durante entrevista coletiva concedida no palácio Guanabara, sede do governo estadual, o engenheiro responsável pela construção, Aloísio Coutinho, do Consórcio Linha 4 Sul, afirmou que a causa do acidente ainda não é conhecida.

"Houve uma ruptura lateral que se comunicou com a calçada provocando esse afundamento. Não temos ainda claro o que causou isso. Seria especulação falar em qualquer coisa nesse momento", afirmou o engenheiro.

"Esse incidente não era pra ter acontecido. Queremos entender o que aconteceu para que possamos eventualmente corrigir algum rumo", completou Coutinho.

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