Topo

Oito meses atrasada, UPP na Maré não tem previsão de inauguração

Policiais militares entram nas comunidades da Maré apenas em operações esporádicas - Fabiano Rocha/Agência O Globo
Policiais militares entram nas comunidades da Maré apenas em operações esporádicas Imagem: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

14/02/2016 06h02

Com a primeira inauguração anunciada pelo secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, para julho do ano passado --oito meses atrás--, as prometidas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) do Complexo da Maré hoje não têm data prevista para implantação.

O plano para ocupar um dos maiores conjuntos de favelas da capital fluminense começou a ser executado há quase dois anos. Em março de 2014, três meses antes da realização da Copa do Mundo, policiais militares entravam nas 16 comunidades da Maré, para preparar o terreno para a ocupação da região pelas Forças Armadas. Em 15 dias, 16 pessoas foram mortas em confrontos com PMs.

Prevista para durar quatro meses, a operação da chamada "Força de Pacificação" se estendeu por 15. Em junho do ano passado, o patrulhamento da região, que abriga cerca de 130 mil pessoas, foi repassado para a PM fluminense. Desde então, no entanto, os policiais se limitam a policiar os acessos às comunidades e a realizar incursões esporádicas em operações pontuais. "O tráfico continua livre e os policiais só entram de vez em quando, para tocar o terror", afirmou, sob anonimato, um morador da comunidade Vila do João.

No último dia 4, a reportagem do UOL questionou a Secretaria de Segurança quais motivos levaram ao atraso das UPPs. Desde então, foram feitas outras tentativas de contato, por e-mail e por telefone, que não tiveram resposta. Nesta sexta-feira (12), por meio de sua assessoria de imprensa, a pasta se recusou a dar explicações e informou que a PM iria responder a pergunta. A corporação, que é vinculada à secretaria, também não respondeu, informando que não divulga cronogramas de operações.

Em maio do ano passado, no entanto, em coletiva de imprensa conjunta com o comandante da PM, o secretário Beltrame declarou que o Estado estava preparado para instalar a primeira unidade de pacificação em duas comunidades da Maré, consideradas as mais tranquilas do complexo. E divulgou o cronograma da operação.

"Sabemos das dificuldades, como o tamanho e a presença de três facções criminosas, mas estamos preparados. Nosso plano é inaugurar a primeira UPP em julho na Roquete Pinto/ Praia de Ramos", disse Beltrame. Ele também afirmou que as outras três unidades previstas para a Maré estariam instaladas até o primeiro trimestre de 2016.

A reportagem também solicitou à PM os indicadores de criminalidade no complexo após a saída da Força de Pacificação. Os dados não foram fornecidos, segundo a corporação, porque o ISP (Instituto de Segurança Pública) não separa os índices do complexo.

Esgotamento

Principal cartão de visitas da segurança pública do Estado nos últimos anos, o projeto das UPPs tem apresentado sinais de esgotamento. A primeira unidade foi inaugurada no fim de 2008, no Morro Santa Marta, em Botafogo, zona sul do Rio, e desde então, foram instaladas outras 37 --uma na Baixada Fluminense e o restante na capital.

Nos cinco anos e cinco meses que separaram a primeira inauguração da mais recente (na Vila Kennedy, em maio de 2014), as implantações ocorreram a cada 52 dias, em média. Desde então, passaram-se 632 dias, um período 12 vezes maior.

Os casos de letalidade violenta (a soma dos registros de homicídios dolosos, homicídios decorrentes de intervenções policiais, roubos seguidos de morte e lesões corporais seguidas de morte) em áreas com UPPs também pioraram. Houve um aumento de 55% no primeiro semestre de 2015, em comparação com o mesmo período do ano anterior --o número subiu de 47 para 73 casos.

Em pesquisa divulgada no fim do ano passado, 60,1% dos agentes de UPPs admitiram ser alvo de sentimentos negativos dirigidos a eles pela população --o maior índice das três aplicações do levantamento. Já 42,4% dos PMs se sentem inseguros nas favelas "pacificadas".