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"Está perigoso até pra gente", diz PM que policiava bairro sozinho em Vitória

Carro da PM estacionado em frente a destacamento no bairro Jardim Penha, em Vitória - Gilson Barbosa/UOL
Carro da PM estacionado em frente a destacamento no bairro Jardim Penha, em Vitória Imagem: Gilson Barbosa/UOL

Paula Bianchi

Do UOL, em Vitória

07/02/2017 13h04

Apesar de o governo do Espírito Santo ter informado que a Polícia Militar voltaria às ruas nesta terça-feira (7), entre 6h30 e 12h a reportagem do UOL circulou por Vitória e cruzou com apenas um policial militar trabalhando.

Lotado em frente a um destacamento da PM no bairro Jardim Penha, o policial disse que foi orientado a não passar pelo quartel onde grupos de mulheres bloqueiam, desde sábado (4), a saída dos soldados.

Ele informou, sob a condição de anonimato, que nem ele nem os colegas pretendem patrulhar as ruas “a pé”, como prometido pelo secretário de Segurança, André Garcia.

“Como vamos sair sem viatura, sem estrutura, quase sem armamento? Do jeito que está, está perigoso até pra gente”, afirmou. “Enquanto não falarem com as famílias, ninguém vai voltar a trabalhar.”

Na noite de segunda-feira (6), a Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública) informou que os policiais militares estavam retornando ao trabalho a pé. Em vídeo publicado no Facebook nesta terça, o secretário de Segurança classificou o movimento de “palhaçada” e acusou os policiais militares de apoiarem as famílias, realizando uma “greve branca”.

A presença de militares do Exército e da Força Nacional, que patrulham as ruas desde ontem, não foi suficiente para encorajar os moradores de Vitória e da região metropolitana a retomarem a rotina.

A maioria das ruas permanecia vazia nesta terça, e o comércio, em uma espécie de feriado forçado. Às 12h, eram poucos os estabelecimentos comerciais abertos. Os ônibus, que segundo o Sindirodoviários-ES (Sindicato Trabalhadores do Transporte Rodoviário do Estado do Espírito Santo) teriam voltado a funcionar no meio da manhã, também eram raros.

Ao menos 250 integrantes das Forças Armadas já estão no Espírito Santo, segundo o comando do Exército na região. A expectativa é de que mais 1.000 cheguem, ainda hoje, ao Estado. "Estamos garantindo a segurança para que a vida volte ao normal".

Entenda a crise no Espírito Santo

No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Eles reivindicam melhores salários e condições de trabalho para os profissionais

Desde então, sem patrulhamento nas ruas, uma onda de violência tomou diversas cidades. 

A Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos PMs. Segundo o desembargador Robson Luiz Albanez, a proibição de saída dos policiais caracteriza uma tentativa de greve por parte deles.

A Constituição não permite que militares façam greve. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil caso a decisão seja descumprida.

A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. De acordo com o cabo Thiago Bicalho, do 7º Batalhão da Polícia Militar do Estado e diretor Social e de Relações Públicas da associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.

Segundo o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, as negociações sobre salários e condições de trabalho de policiais serão feitas apenas quando o patrulhamento na rua for retomado e a situação estiver controlada.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse nesta segunda (6) em Vitória que militares das Forças Armadas ficarão no Espírito Santo durante o "tempo necessário" para que a ordem no Estado seja restabelecida.