Mesmo com Exército, ruas permanecem vazias e lojas fechadas na Grande Vitória
A presença de militares e da Força Nacional não foi suficiente para encorajar os moradores de Vitória e da região metropolitana a retomarem a rotina. Sem serviço de ônibus e com a PM (Polícia Militar) em greve, as ruas permaneciam vazias e o comércio fechado na manhã desta terça-feira (7), em uma espécie de feriado forçado.
Ao menos 250 integrantes das Forças Armadas já estão no Espírito Santo, segundo o comando do Exército na região. A expectativa é de que mais 1.000 cheguem, ainda hoje, ao Estado, disse o secretário de Segurança Pública capixaba, André Garcia, à Record TV. “Estamos garantindo a segurança para que a vida volte ao normal", disse, qualificando a suspensão do serviço de policiamento como "um movimento irresponsável”.
Moradora de Vila Velha, na região metropolitana da capital do Espírito Santo, a estudante de técnica em enfermagem Janeci Santos, 31, tentou ir de bicicleta para a aula, mas encontrou a universidade fechada.
"Falaram que o Exército tinha chegado, achei que estaria tudo bem e tomei coragem de sair na rua, mas está tudo vazio", diz Santos. Ela conta que, por volta das 6h30, ouviu tiros em seu bairro: "A gente já acorda assustado."
Uma funcionária de um hotel que preferiu não se identificar contou que só veio trabalhar porque seu patrão enviou um táxi para buscá-la. "Dependo de ônibus, não fosse ele mandar me buscarem não tinha como chegar", diz.
Dono de uma loja de bicicletas e artigos esportivos no bairro Praia do Canto, em Vitória, Paulo Roberto Colabelo acordou cedo com a notícia sobre o saque ao seu estabelecimento.
"Deram de ré com o carro e arrombaram a porta", conta. Os ladrões levaram três bicicletas de corrida e outros itens. "Já não abri ontem para evitar algo assim."
Transporte público
Os ônibus de transporte urbano voltaram a circular na manhã desta terça-feira (7) na Grande Vitória e devem retornar às garagens às 19h. O serviço não operava desde as 16h da segunda, devido ao caos que se espalhou na capital capixaba e cidades vizinhas com a falta de policiamento.
Dados do Sindipol-ES (Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo) apontam que mais de 60 pessoas foram assassinadas desde sábado (4), quando teve início um movimento de mulheres de policiais em vários pontos do Estado. A média diária de homicídios no Estado praticamente sextuplicou, com base nos dados do sindicato.
Apesar de militares e membros da Força Nacional estarem nas ruas desde o começo da noite passada, representantes de sindicatos e das empresas de transporte temem pela segurança de motoristas e cobradores.
Ainda na manhã desta terça, responsáveis pelo Sindirodoviários (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Espírito Santo), Ceturb-GV (Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória) e GVBus (Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória) pretendem se reunir para decidir se o serviço será restabelecido.
Segundo o presidente do Sindirodoviários, Edson Bastos, se não ficar evidente que há segurança para os funcionários, a região ficará o dia todo sem atendimento.
Entenda a crise no Espírito Santo
No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Eles reivindicam melhores salários e condições de trabalho para os profissionais. Desde então, sem patrulhamento nas ruas, uma onda de violência tomou diversas cidades.
A Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos PMs. Segundo o desembargador Robson Luiz Albanez, a proibição de saída dos policiais caracteriza uma tentativa de greve por parte deles. A Constituição não permite que militares façam greve. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil caso a decisão seja descumprida.
A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. De acordo com o cabo Thiago Bicalho, do 7º Batalhão da Polícia Militar do Estado e diretor Social e de Relações Públicas da associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.
Segundo o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, as negociações sobre salários e condições de trabalho de policiais serão feitas apenas quando o patrulhamento na rua for retomado e a situação estiver controlada.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse nesta segunda (6) em Vitória que militares das Forças Armadas ficarão no Espírito Santo durante o "tempo necessário" para que a ordem no Estado seja restabelecida.
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