Topo

Prisão em Guantánamo completa dez anos em meio a protestos e incertezas sobre seu fim

Do UOL*, em São Paulo

11/01/2012 06h00

Em 11 de janeiro de 2002, chegavam a Guantánamo, base naval-militar norte-americana em Cuba, os primeiros 20 detentos acusados de terrorismo pelos Estados Unidos. O governo americano inaugurou a prisão quatro meses depois de deflagrar uma guerra no Afeganistão, em represália aos ataques de 11 de Setembro de 2001 ao World Trade Center, em Nova York.

Ao longo de uma década, Guantánamo recebeu 779 prisioneiros, dos quais 171, oriundos de 20 países, permanecem no local. Destes, 89 foram absolvidos de todas as acusações, mas o governo norte-americano não consegue encontrar países dispostos a recebê-los diante dos temores por sua segurança em suas nações de origem.

Como eles, muitos outros que passaram pela base militar não tinham qualquer envolvimento com o terrorismo. Por essas e outras razões, a existência de Guantánamo é alvo de críticas frequentes, sobretudo por parte de organizações internacionais de direitos humanos.

O presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou que iria fechar a base em seu primeiro ano de mandato, uma promessa não cumprida. Nesta segunda-feira (9), a Casa Branca afirmou que o compromisso continua "firme", apesar da oposição do Congresso. Além da oposição, uma lei do final do ano passado é outro obstáculo, por proibir o uso de fundos públicos para transferir detentos em direção aos Estados Unidos e determinar que suspeitos de terrorismo devem ser julgados em tribunais militares especiais.

Os 171 detentos que permanecem em Guantánamo estão em Camp Delta, que compreende os Camp 5 – considerado de segurança máxima – e 6. “Se você segue as regras, vive no Camp 6. Se não as segue, vai para o Camp 5”, afirmou o coronel Donnie Thomes, comandante dos guardas da prisão, citado pela agência AFP.

Cerca de 80% dos detidos se amontoam por trás dos muros do Camp 6, onde têm acesso a 21 redes de televisão por satélite e 14 de rádio e jornais. No entanto, se infringirem o regulamento, são enviados ao vizinho Camp 5, onde usam o famoso uniforme laranja e vivem confinados em celas estreitas, com apenas duas horas de saída por dia.

"O Camp 5 é o mais duro", lembra Saber Lahmar, um argelino libertado em 2009. "Não se caminha, não se move, não se fala, tudo é proibido", conta à AFP. O sono também é privado, com luzes fluorescentes acesas "24 horas por dia" e com o frio glacial da climatização.

No "Five Echo", uma extensão do Camp 5, as condições de encarceramento são catastróficas, indica à AFP David Remes, advogado de 17 detidos, 14 deles iemenitas. “É preciso ser contorcionista para rezar, é preciso ser contorcionista para ir ao banheiro.”

Andy Worthington, autor de "Dossiês de Guantánamo: a história de 774 detidos em uma prisão ilegal americana", acredita que os detidos estão em “um buraco negro”, sem acusação e sem julgamento.

"Mesmo que métodos mais brutais de interrogatório possam ter sido abandonados, há ainda greves de fome e isolamento de detidos cujo dossiê está com frequência vazio, com escassas provas", afirma o historiador. "Apenas alguns deles cometeram crimes significativos.”

A maioria dos 779 homens que passaram pelas instalações de Guantánamo nos últimos dez anos está, atualmente, em liberdade ou cumpre condenação em seus países de origem. No total, 598 detidos foram transferidos para outros países. Segundo o Pentágono, cerca de 25% dos transferidos seriam suspeitos de "retomar suas atividades terroristas".

Ainda de acordo com o Pentágono, seis detidos foram julgados e condenados em tribunais militares. Outros sete, incluindo Khalid Sheikh Mohammed, considerado o cérebro dos ataques de 11 de setembro de 2001 contra Nova York e Washington, devem se apresentar perante esses tribunais nos próximos meses.

*Com informações da agência AFP