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Carla Bruni discreta atrai mais eleitores do que sua exposição na mídia, dizem analistas

Daniella Franco

Do UOL, em Paris

22/04/2012 06h00

Conhecida pela beleza e pela elegância – e pelos relacionamentos com estrelas do rock –, a ítalo-francesa Carla Bruni mudou gradualmente sua postura ao tornar-se primeira-dama da França, em 2008. Depois da polêmica relacionada ao primeiro disco que a ex-modelo lançou depois do casamento com Sarkozy – com letras que falam de amantes e drogas – Bruni passou a adotar uma postura mais discreta.

Considerada fria e distante pelos franceses, Carla deu algumas declarações discretas à imprensa sobre o marido presidente (“Nós somos pessoas modestas”; “A campanha é um período tão intenso para ele...Não nos vemos quase nunca, só à noite”; “Ele dá tudo de si (...) Ele quer salvar a França”) e foi apenas coadjuvante nestas presidenciais.

O professor e pesquisador do Centro de Pesquisa sobre Mediações da Universidade de Lorraine, Arnaud Mercier, resume em uma única palavra o papel de Carla Bruni-Sarkozy na atual disputa presidencial: “nenhum”.

Para o especialista em história política e midiática e professor da Universidade de Versailles Saint-Quentin, Christian Delporte, a participação da ítalo-francesa na campanha teria mesmo de ser discreta. "Ela esteve presente nos comícios de seu marido. Ela concedeu entrevistas. Mas seu papel não poderia ser muito importante. Porque ao se mostrar muito presente, os franceses a teriam percebido como uma estratégia de comunicação apelativa – uma operação poderia ser denunciada pela imprensa e ter agido contra a campanha de Sarkozy".

Na análise de Mercier, a estratégia de campanha do candidato da União por um Movimento Popular foi tirar a primeira-dama do foco, seguindo a filosofia do Élysée de não utilizar Carla como propaganda de governo. As justificativas remetem ao início do relacionamento do casal, no final de 2007, quando o conservador eleitorado de direita não aprovou a midiatização da vida privada dos Sarkozy. "Nós não estamos nos Estados Unidos. A opinião pública francesa não aceitou o 'lado Kennedy' do romance do casal presidencial. Ao contrário do que era esperado, a abertura da vida pessoal do presidente e da primeira-dama não contribuiu para a popularidade deles", observa o professor da Universidade de Lorraine.

Delporte tem opinião semelhante. Para ele, as tentativas do início do governo Sarkozy de mostrar Carla como "humana e simpática" não funcionaram na França, onde, para evitar críticas, o pudor é a melhor atitude. "Os franceses consideram que a primeira-dama deve ser reservada. As entrevistas de Carla Bruni-Sarkozy, que declara que seu marido é 'maravilhoso' nos fazem, no máximo, rir, mas não compra votos. As presidenciais são, antes de tudo, o encontro de um homem com seu povo. Misturar romance e família com a vida política não é bem visto por aqui".

Desde o nascimento da filha do casal, Giulia, em outubro do ano passado, a primeira-dama também passou a ter a preocupação de protegê-la do assédio da imprensa. "Dizer que eu uso minha filha para fazer campanha é não me conhecer. É ignóbil e cínico. Isso me irrita", disse, em entrevista à revista Elle francesa.

Em contraposição, a mulher do candidato socialista François Hollande, principal adversário de Sarkozy na corrida pelo Élysée, tem conhecimento avançado sobre o funcionamento da mídia. Jornalista e apresentadora de TV, Valérie Trierweiler manteve distância de polêmicas durante a campanha, mesmo com a curiosidade crescente do público francês.