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Para analistas, distribuição de renda e desempenho da economia favorecem reeleição de Correa

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

17/02/2013 06h00

As últimas pesquisas de opinião indicam que equatoriano Rafael Correa deverá reeleger-se já no primeiro turno das eleições presidenciais que ocorrem neste domingo (17), superando sete adversários que vão da extrema esquerda à direita. O candidato, que governa o país desde 2007, possui mais de 50% das intenções de voto, segundo a maioria dos institutos de pesquisa.

No Equador, Rafael Correa busca reeleição já no 1º turno contra oposição à direita e à esquerda

Em busca de sua segunda reeleição, o atual presidente do Equador, Rafael Correa, testará sua popularidade contra uma oposição pulverizada à direita e também à esquerda, no primeiro turno das eleições equatorianas, que ocorrem neste domingo (17). Cerca 11,6 milhões de eleitores votam para escolher o presidente, 137 integrantes da Assembleia Nacional e cinco representantes do país no Parlamento Andino.

A preferência do eleitorado reflete a alta popularidade do mandatário, cujo governo é aprovado por mais de 70% dos equatorianos. Analistas entrevistados pelo UOL creditam a dianteira nas pesquisas às políticas sociais implantadas e ao desempenho da economia durante os governos de Correa.

“Desde que chegou ao poder, ele soube exatamente o que queria: implantar projeto nacional-desenvolvimentista, que explora as riquezas minerais do Equador e distribuir a renda gerada para as camadas mais pobres”, opina Giorgio Romano Schutte, coordenador do curso de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC).

´”É um fenômeno mais ou menos parecido com o da Venezuela. O Equador sofria com uma desigualdade social muito grande, com uma elite sendo beneficiada pelo governo e uma grande camada da população totalmente fora do setor produtivo e das riquezas do país. Correa criou um programa amplo de inclusão das massas na economia”, acrescenta Leonardo Valente, professor de Relações Internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Num processo batizado pelo governo de "Revolução Cidadã", em seis anos o acesso ao chamado Abono de Desenvolvimento Humano (ADH) --a versão equatoriana do Bolsa Família--, foi ampliado para 1,8 milhão de pessoas, o que representa cerca de 12% da população do país; os níveis de desemprego e de pobreza extrema foram reduzidos para os percentuais mais baixos da história do Equador; o orçamento da educação foi dobrado e o da saúde, triplicado.

Na economia, o Equador manteve um crescimento médio de mais de 4% ao ano, ajudado pela alta dos preços do petróleo, principal produto de exportação do país.

Romano Schutte afirma que, inicialmente, Correa “peitou” as empresas, ao renegociar contratos e restabelecer marcos regulatórios. Mas com a manutenção do modelo exportador de matéria prima as empresas continuaram a obter altos faturamentos e deixaram de fazer oposição ao governo. “Ele conseguiu neutralizar a resistência da elite ligada ao setor produtivo.”

Desafios

Se eleito, Correa terá como desafios manter a estabilidade econômica em meio à crise financeira internacional e concretizar o ingresso do Equador no Mercosul. O mandatário manifestou, no seu primeiro mandato, o desejo de rever a dolarização da econômica equatoriana, o que, segundo ele, tira a competitividade dos produtos do país no mercado internacional e aumenta a dependência das exportações de petróleo.

Em declarações recentes, entretanto, Correa negou que irá reverter a dolarização, que vigor no país desde 2000, por imposição do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo o consultor em relações internacionais Rafael Pinto Duarte, outro aspecto que Correa terá de lidar diz respeito à liquidez dos gastos públicos. "É uma caixa de pandora que ele não mexeu. As contas públicas não fecham no Equador."

Quanto à política externa, Leonardo Valente, da UFRJ, aposta que Correa buscará aproximar-se de Brasil e Estados Unidos em detrimento das relações com Venezuela e Bolívia. "Os problemas regionais e as dificuldades econômicas dificultaram esse tipo de política regional. A postura dele deve ser a que ele adotou há pelo menos um ano e meio: muito mais de olho no Brasil do que nos Andes e com uma ligeira tendência de aproximação com os Estados Unidos."

Durante a campanha eleitoral, Correa insistiu que é necessário que seu partido e aliados conquistem maioria plena na Assembleia Nacional para que o governo possa aplicar integralmente suas propostas. Atualmente, os apoiadores do presidente ocupam cerca de metade das cadeiras do legislativo.

Para o professor da UFABC, outro desafio de Correa será preparar sua sucessão. "O desafio dele é preparar a sucessão, que não pode depender de um homem só. Ele criou um novo paradigma na política equatoriana, mas precisa consolidá-lo com o apoio da população. Correa é muito centralizador: precisa preparar uma continuidade desse projeto."

Entre os sete adversários de Correa, o que possui o melhor desempenho é o ex-banqueiro Guillermo Lasso, do movimento político Creo (Creando Oportunidades), de orientação de centro-direita e neoliberal. Segundo as pesquisas, ele detém, no máximo, 20% do eleitorado, seguido pelo ex-presidente deposto Lucio Gutierrez (Partido Sociedade Patriótica), com 5% das intenções, e pelo esquerdista Alberto Costa (Unidade Plurinacional das Esquerdas), ex-ministro das Minas e Energia de Correa.

Cerca 11,6 milhões de eleitores votam para escolher o presidente, 137 integrantes da Assembleia Nacional e cinco representantes do país no Parlamento Andino.