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Chávez precisa de toda a capacidade física e mental para assumir Venezuela de novo, diz especialista

enezuelanos fazem uma manifestação nem Caracas, em apoio ao presidente Hugo Chávez - Carlos Garcia Rawlins/Reuters
enezuelanos fazem uma manifestação nem Caracas, em apoio ao presidente Hugo Chávez Imagem: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Fábio Luís de Paula

Do UOL, em São Paulo

18/02/2013 16h38Atualizada em 18/02/2013 16h38

"A autorização da Assembleia tinha sido postergar a posse até que Chávez tivesse uma condição melhor, ou seja, para poder assumir o governo ele precisa demostrar toda a capacidade física e intelectual", disse José Alves de Freitas Neto, coordenador do curso de História da Unicamp sobre a volta do presidente Hugo Chávez à Venezuela nesta segunda-feira (18), procedente de Havana, mais de dois meses depois de ter viajado a Cuba para se submeter à quarta operação para o tratamento de um câncer diagnosticado em 2011.

De acordo com uma funcionária do serviço de emergência da clínica do Hospital Militar Dr. Carlos Arvelo, em Caracas, Chávez, 58, chegou "caminhando, forte e não entubado". "Nosso presidente está forte para continuar comandando [o país] como só ele sabe", disse à televisão estatal venezuelana.

Segundo Freitas Neto, a volta o presidente tem um significado simbólico pois, antes de tudo, o presidente precisa esta dentro do território para poder governar. "Havia uma anomalia de poder que era uma das críticas da oposição e se encerra com a volta de Chávez. Se encerram também os boatos sobre a condição de saúde do presidente, apesar de não haver nenhuma certeza do quadro, se encerram os boatos de que está morto", destaca.

Já o professor de Relações Internacionais da ESPM, Mario Gaspar Sacchi, considera outros fatores para o retorno do líder venezuelano. "Há vários fatores. Tem muita briga interna que alega ineficiência no governo e também a eleição no Equador, onde Correa pode ocupar a posição de Chávez na Alca. Percebe-se que é uma estratégia para não perder a importância que a Venezuela tem no contexto internacional"

Próximos passos

O que deve acontecer na Venezuela a partir de agora é difícil dizer com a imprevisibilidade de Chávez. Porém, há possíveis cenários. "Caso esteja bem, se recuperando, ele assume o poder. Caso não esteja bem, decida que não tem condições de asusmir, e se declara inepto de assumir o poder, chama-se novas eleições", explica Luis Fernando Ayerbe coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp em Araraquara (SP) e autor do livro "Estados Unidos e América Latina: a construção da hegemonia".

"Se ele realmente não tiver chances de retomar, o candidato chavista passa a ser [Nicolás] Maduro, e quem assume interinamente o governo é [Diosdado] Cabello. A constituição diz que se o presidente se vê impossibilitado, se chamam novas eleições", completou Ayerbe.

Freitas Neto lembra que, nos próximos dias, deve haver uma cobrança maior por parte da oposição e da imprensa por informações, além dos governistas pela volta de Chávez para o poder, "pois assim eles terão mais argumentos para dizer que não era absurdo o governo que estava sendo desenhado".

"Se ele vier a falecer dentro do território, terá um aspecto de engrandecimento político do legado chavista, pelo patriótico que ele sempre carregou. Ele não morre em território estranho à sua terra de origem. Seria desagradável para esses herdeiros políticos justificar a morte dele fora do país", disse.

Comemorações e fotos

Sua volta surpreendeu o país e foi comemorada por seus correligionários. No canal estatal, o ministro da Comunicação, Ernesto Villegas, comemorou a volta do presidente. "Voltou, voltou e voltou. Esse é outro 13 de abril", disse Villegas, em referência ao regresso de Chávez à Presidência depois do fracassado golpe de Estado de 2002.

"A batalha continua", disse o vice-presidente, Nicolás Maduro, por telefone ao canal de TV estatal. "Estamos muito felizes. O principal agora é redobrar o ritmo para ir unificando nossa economia, essa é uma homenagem ao nosso comandante nessa batalha exemplar que ele está travando pela vida", disse Maduro.

O governo venezuelano divulgou na sexta-feira (15) as primeiras imagens de Chávez após 69 dias de convalescença, nas quais aparecia sorridente no hospital ao lado das duas filhas mais velhas e lendo o jornal oficial cubano Granma de quinta-feira.

Durante mais de dois meses, o presidente não foi visto ou ouvido, enquanto o governo venezuelano divulgava boletins curtos sobre seu estado de saúde, sem nunca antecipar uma data de retorno.

O governo destacou que Chávez respirava por uma cânula traqueal que dificultava temporariamente a fala, por apresentar "certo grau" de insuficiência respiratória.

Reeleito

Chávez foi reeleito em 7 de outubro de 2012 para um terceiro mandato de seis anos. Apesar de não ter tomado posse em 10 de janeiro como estava previsto, o Tribunal Supremo autorizou Chávez a fazê-lo mais adiante, quando estivesse em condições, e que seu governo do mandato 2007-2012 prosseguisse no poder.

Ainda não foi possível determinar se Chávez fará o juramento de posse em breve.

O presidente anunciou em 8 de dezembro o retorno do câncer, que foi detectado em meados de 2011, e designou pela primeira vez um sucessor, seu vice-presidente Nicolás Maduro.

Maduro seria o candidato governista nas eleições que seriam organizadas caso Chávez ficasse "inabilitado" para governar.

A natureza e a gravidade do câncer de Chávez nunca foram revelados. O presidente venezuelano foi submetido a quatro cirurgias, sessões de quimioterapia e radioterapia, em tratamentos realizados quase exclusivamente em Cuba, onde goza de privacidade absoluta, acompanhado de seu aliado e amigo, o líder cubano Fidel Castro.