Topo

Papa Bento 16 avalia publicar decreto que antecipa conclave, diz o Vaticano

Do UOL, em São Paulo

20/02/2013 10h48Atualizada em 20/02/2013 14h15

O papa Bento 16 estuda a possibilidade de publicar um "Motu Proprio" para definir alguns pontos da Constituição Apostólica e poder antecipar o conclave, disse nesta quarta-feira (20) o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

ENTENDA O PROCESSO SUCESSÓRIO DO PAPA

Quando o chefe da Igreja Católica renuncia a sua função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior.

Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave que se reunirá para eleger o sucessor do papa Bento 16. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 117 cardeais aptos a votar no conclave.

Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.

O documento papal - ou "Motu Proprio" - permitiria aos cardeais a antecipação do conclave em que se elegerá o novo papa, após a renúncia de Bento 16. Lombardi também não descarta a possibilidade de o pontífice alterar outro documento relacionado ao conclave, chamado 'Ordo Conclavis Ritos', que regula as orações e os rituais da eleição. 

"Em qualquer caso a questão depende da avaliação do papa e se há tempo hábil para que esse documento seja publicado de forma apropriada", relatou o porta-voz do Vaticano. 

Segundo a Constituição "Universi Dominici Gregis", o conclave deve começar 15 ou 20 dias após o Trono de Pedro ficar vago pela morte ou renúncia do pontífice. 

Mas, como o vice-prefeito da Biblioteca do Vaticano, Ambrogio Piazzoni, explicou, a legislação em vigor permite a antecipação desde que "os cardeais cheguem a Roma antes do período de 15 dias e desde que não haja nada mais a esperar ".

Piazzoni salientou, no entanto, que até o dia 28 de fevereiro, "o papa é o legislador supremo e pode também intervir nas regras que regem o Conclave", porque "o santo padre é o único que pode intervir na legislação" . Até o momento da sua demissão, acrescentou, "a interpretação da lei só pode ser feita pelo pontífice."

No sábado passado (16), o Vaticano anunciou que o conclave começará antes de 15 de março se houver quórum de cardeais suficiente em Roma. Nos últimos dias, vários cardeais expressaram vontade de antecipar o início do conclave, já que Bento 16 anunciou sua renúncia no dia 11 de fevereiro e essa se tornará efetiva no dia 28 do mesmo mês.

A eventual antecipação, graças à intervenção "na última hora" do papa, poderá ser estabelecida pelos cardeais reunidos em congregação geral no início da chamada "Sé Vacante", ou seja, o período que começa quando o papa renuncia e o camerlengo - o cardeal Tarcisio Bertone - assume o governo temporário da Igreja.

São esperados 117 cardeais para os trabalhos do conclave na Capela Sistina até que a "fumaça branca" anuncie o "habemus papam".

Brasileiros na decisão

O conclave terá a participação de cinco cardeais brasileiros com direito a voto e que podem ser eleitos pontífices. O arcebispo emérito de São Paulo, dom Claudio Hummes, terá 78 anos quando começar o processo. Ele será acompanhado do atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno, que completou 76 anos em 15 de fevereiro e também é arcebispo de Aparecida.

Os outros três brasileiros no conclave são o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, no Vaticano, dom João Braz de Aviz, 65; o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, 63; e o arcebispo de Salvador e ex-presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, que completará 80 anos em outubro.

Leia mais sobre a renúncia

  • Filippo Monteforte/AFP

    Raio atinge a basílica de São Pedro no mesmo dia em que Bento 16 anunciou a renúncia

Reza e renovação

Bento 16 pediu aos fiéis no domingo (17) que rezem por ele e pelo próximo papa, em declaração feita a uma multidão maior do que o normal em sua penúltima celebração do Angelus dominical, no Vaticano.

"Agradeço de coração a todos por suas orações e afeto nestes dias. Os suplico que continueis rezando por mim e pelo próximo papa, assim como pelos exercícios espirituais que começarei esta tarde junto com os membros da Cúria Romana", disse.

As pessoas na praça de São Pedro gritaram "Viva o Papa", agitaram bandeiras e irromperam em aplausos desde que o pontífice falou de sua janela. Aos 85 anos, Bento 16 deixará o papado em 28 de fevereiro.

O pontífice também fez votos para que neste tempo de Quaresma a Igreja e todos os seus membros a se "renovarem" e "se reorientarem em direção a Deus, rejeitando o orgulho e o egoísmo". (Com agências internacionais)