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Protesto volta a interromper evento com Yoani Sánchez em São Paulo

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

21/02/2013 19h53

A dissidente cubana Yoani Sánchez voltou a ser alvo de protestos nesta quinta-feira (21), dessa vez em São Paulo, o que resultou na interrupção de uma palestra no auditório da Livraria Cultura, na região central da capital paulista.

Por causa dos novos incidentes, ela deixou o local por volta das 19h30 e não participou de uma sessão de autógrafos de seu livro “De Cuba, com Carinho”.

A blogueira Yoani Sánchez é uma das mais famosas opositoras do governo cubano e autora do blog "Generación Y".

Um grupo de aproximadamente 70 militantes de organizações pró-Cuba, que já se manifestavam do lado de fora da livraria, conseguiu ter acesso ao auditório, apesar do rígido controle da entrada.

Os ativistas chegaram em silêncio e se sentaram no fundo do auditório. Num dado momento, eles começaram a gritar palavras de ordem, como “Yoani mercenária”, “agente da CIA”.

A manifestação irritou os simpatizantes da blogueira presentes no auditório, que reagiram insultando os críticos.

O clima ficou quente. Os mais exaltados quase chegaram às vias de fato. Após um folga no protesto, a palestra foi retomada.

Após intervenção da jornalista Bárbara Gancia, mediadora do evento, os críticos da cubana encaminharam perguntas à dissidente, conforme o restante da plateia estava fazendo.

Em uma delas, ela foi questionada sobre o porquê de não haver grandes mobilizações populares dentro de Cuba contra o regime.

“Talvez eles não queiram que aconteça com eles o mesmo que com Yoani Sánchez”, respondeu a blogueira.

Em outro questionamento, o autor da perguntava queria saber por que Yoani não é popular dentro de seu país. “Quando caminho pelas ruas de Havana, quatro cinco pessoas me identificam e demonstram simpatia”, respondeu a dissidente.

Vinte minutos depois, com o retorno dos gritos, o evento foi encerrado pela organização. A dissidente logo foi retirada por seguranças, para evitar o contato com os críticos.

Antes, Yoani Sánchez afirmou que irá tentar abrir um jornal em Cuba, assim que regressar de sua viagem da 12 países.

“Me interessa muito criar esse veículo de imprensa. É importante que os meios de imprensa tenham o espírito da responsabilidade cívica. O espaço da imprensa livre não pode virar o espaço da imprensa sensacionalista, amarela. Seria muito ruim”, disse.

“Me sinto responsável pela criação de uma nova imprensa, que tenha responsabilidade, objetividade”, acrescentou a dissidente.

Histórico de protestos

Desde que chegou ao Brasil, Yoani tem presenciado diversos protestos contra a sua presença no país. A dissidente foi alvo de protestos nos aeroportos do Recife e de Salvador. 

Yoani desembarcou em Salvador na segunda-feira e seguiu para Feira de Santana (BA) na terça-feira para dar uma palestra e assistir ao documentário. Sobre os protestos, Yoani, no início, disse que as manifestações eram um “um banho de democracia”. Ontem, no entanto, ela mudou de tom e comparou os manifestantes a terroristas. "Os gritos, os insultos, foi como se tivessem sido orquestrados por terroristas. Eu sou uma pessoa pacífica, e trabalho com o verbo, com a fala, não tinha porquê tanta agressividade." 

As manifestações chegaram a impedir uma das exibições do documentário. Ontem, no Plenário do Senado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez uma defesa veemente da liberdade de expressão e da cubana.

Está é a primeira viagem internacional de Yoani após cerca de 20 tentativas malsucedidas de sair de Cuba nos últimos cinco anos. 

No último domingo, Yoani iniciou uma série de viagens por dez países, começando pelo Brasil. No total, a ativista ficará fora de Cuba por 80 dias.

Durante anos, Yoani foi impedida de sair da ilha, onde é acusada de trair os princípios revolucionários do governo dos irmãos Castro, Fidel e Raúl.