Yoani Sánchez compara manifestantes que protestaram contra ela no Brasil a "terroristas"
A dissidente cubana Yoani Sánchez, que ontem qualificou as manifestações contra ela no Brasil como “um banho de democracia”, subiu o tom e comparou os autores dos protestos a terroristas, em entrevista coletiva nesta terça-feira (19) em Feira de Santana (BA). "Os gritos, os insultos, foi como se tivessem sido orquestrados por terroristas. Eu sou uma pessoa pacífica, e trabalho com o verbo, com a fala, não tinha porquê tanta agressividade."
Sanchéz, autora do blog “Generacion Y”, desembarcou em Salvador ontem e seguiu para Feira de Santana para dar uma palestra e assistir ao documentário “Conexão Cuba-Honduras”, do cineasta Dado Galvão.
Um grupo de aproximadamente 50 manifestantes ligados à UJS (União da Juventude Socialista), ligada ao PCdoB, e a outras organizações, recebeu a blogueira com protestos, acusando-a, com cartazes e palavras de ordem, de ser ligada ao governo dos Estados Unidos.
A apresentação do documentário, no qual Yoani é uma das entrevistadas, foi suspensa ontem à noite depois que os manifestantes entraram no salão do Museu Parque do Saber, onde acontecia o evento, para repreender a blogueira com gritos de "Viva a revolução!" e "Cuba sim, ianques não".
O senador Eduardo Suplicy (PT), que participava do ato, tentou em vão ser mediador entre os manifestantes e a blogueira, que só conseguiu tomar a palavra por alguns minutos em um improvisado debate sobre o regime cubano.
A dissidente já havia sido alvo de protestos nos aeroportos do Recife e de Salvador. "O que pude ver e questionar no debate foi que eles (os manifestantes) não leem o que eu escrevo no meu blog", acrescentou Sánchez na entrevista coletiva à qual compareceu escoltada por policiais.
Ao se referir às acusações de seus opositores de que é financiada pelos Estados Unidos, a cubana indagou "Se isto fosse verdade, me digam por que eu continuaria até hoje caminhando pelas ruas de Havana?".
"Este argumento eu conheço desde pequena, e é dado a todos que são contra o regime do meu país", acrescentou.
Embargo a Cuba
Yoani criticou o embargo econômico dos Estados Unidos à ilha pelas dificuldades de abastecimento que causa a seus compatriotas e porque o governo de Cuba usa esse bloqueio como desculpa para justificar suas deficiências.
A blogueira afirmou que incomoda o governo cubano que ela tenha "autonomia econômica" pela publicação de livros e colunas de imprensa enquanto o restante dos cidadãos precisa viver dependente do Estado.
A dissidente, que mostrou uma carteira oficial que a autoriza a trabalhar por conta própria, disse que as autoridades de seu país usam sempre "métodos muito sujos" para desprestigiar os opositores.
Segundo Sánchez, quando voltar a Cuba, após sua longa viagem, ele gostaria de fundar um meio de comunicação independente para ver até onde é possível chegar, porque tem muita vontade de que seu país mude.
"Batalha contra demônios"
Hoje, em seu blog, a dissidente voltou a criticar os manifestantes. Após citar um episódio de repressão em 1980, quando ela tinha apenas cinco anos, para afirmar que já estava acostumada com atos de repúdio, a blogueira qualificou de “inédito” o protesto em Feira de Santana.
“O piquete de extremistas que impediu a projeção do filme de Dado Galvão em Feira de Santana era mais do que um grupo de adeptos incondicionais do governo cubano. Todos tinham, por exemplo, o mesmo documento --impresso a cores-- com várias mentiras sobre a minha pessoa, (mentiras) tão frágeis que poderiam ser rebatidas com uma simples conversa”, escreveu.
“Repetiam um grito idêntico, sem ter a menor intenção de escutar a resposta que eu poderia dar. Gritavam, interrompiam, e em um momento foram violentos”, acrescentou Sanchéz.
Por fim, a blogueira disse que ser uma “alma livre” e retratou o episódio como uma “batalha contra demônios”. “Eu levava a discussão ao plano de Cuba, que sempre será mais importante que esta humilde servidora. Eles queriam me linchar --eu, conversar. Eles respondiam a ordens –eu sou uma alma livre. No final da noite, me sentia como depois de uma batalha contra os demônios do mesmo extremismo que provocou os atos de repúdio daquele ano de 80 em Cuba. A diferença é que desta vez eu conhecia o mecanismo que fomenta essas atitudes. Eu podia ver o longo braço que os move desde a praça da Revolução, em Havana.” (Com agências internacionais)
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