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Fama de bad boy do príncipe Harry é o que mantém família real britânica relevante entre jovens

Principe Harry visita o Centro Kananelo para deficientes auditivos em Maseru, Lesoto - Chris Jackson/Getty Images
Principe Harry visita o Centro Kananelo para deficientes auditivos em Maseru, Lesoto Imagem: Chris Jackson/Getty Images

Do Der Spiegel

25/04/2013 06h00

Há muito tempo que o irmão menor do príncipe William é considerado o "bad boy" da família real britânica. E é precisamente por este motivo que é mais popular entre os jovens britânicos do que qualquer outro Windsor.

Para se ter uma ideia de quem é Henry Charles Albert David, pode-se ler as sete ou oito biografias publicadas até hoje sobre o rapaz de 28 anos. Contudo, uma visita aos bares que o príncipe Harry frequenta até cedo de manhã é mais reveladora.

"Ele é um cara incrivelmente bacana", diz o barman do Rum Kitchen. "Pé no chão, muito engraçado", diz uma garçonete da Bodo's Schloss. "Ele não é afetado", diz o gerente do Mahiki. Harry passeia pela noite de Londres como muitos de seus contemporâneos que têm muito dinheiro e um gosto por decoração kitsch. Uma das coisas mais incomuns sobre este príncipe é exatamente sua normalidade.

É claro que a mãe de Harry teve um importante papel em seu filho se tornar menos inibido que seu marido. Diana, a trágica princesa, lutou até o fim para garantir que Harry e seu irmão William não fossem anulados pela máquina disciplinar real britânica, com seu protocolo rígido para cada piscar de olhos. Parece que Diana teve mais sucesso com seu filho mais novo.

"Harry fez tudo o que pôde para ser comum, para ter uma vida normal", escreve o jornalista Chris Hutchins, cuja biografia do príncipe Harry será lançada nesta semana. Uma das razões pelas quais os britânicos estão mais dispostos a aceitar um príncipe famoso por ficar bêbado é o fato de se reconhecerem nele. Harry recentemente avançou para o terceiro lugar na lista dos membros mais populares da família real, depois do príncipe William e da rainha, e na frente do pai, Charles. Jovens ingleses o idealizam como o Windsor mais descontraído que a Inglaterra viu em um longo tempo.

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As monarquias prosperam com base nas imagens, no glamour e nos rituais, mas também correm o risco de eventualmente ficarem enrijecidas nesses rituais. Isso ficou evidente na semana passada, durante o funeral da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher na Catedral de St. Paul, onde a rainha e seu marido ficaram sentados quase sem se mexer por quase uma hora, parecendo figuras de cera em cadeiras de veludo. A autora britânica Hilary Mantel escreveu que a princesa Kate estava tão perfeita com seu "sorriso plástico" que "parecia ter sido designada por um comitê e produzida por artesãos".

"Posso fazer o que quero"

Harry, por outro lado, é imprevisível, rebelde e impulsivo, nada diferente da mãe. Ele parece animado, em um mundo de sorrisos plásticos. E sua família também está começando a perceber o valor de um príncipe que nem sempre segue as regras. Parece caber a Harry, mais do que ao irmão, provar que os Windsor não são uma família real obsoleta e que podem guiar a monarquia para o século 21. Esta é uma razão para a crescente importância de Harry. Ele também está conquistando cada vez mais atenção da mídia, com um enxame de câmeras e microfones permanentemente esperando por seu próximo excesso. Harry odeia isso, porque o faz lembrar que não é um homem comum. Ele despreza os paparazzi desde o acidente fatal de sua mãe em Paris em 1997 e preferiria que fossem banidos da ilha. Mas a monarquia depende de sua popularidade, que é uma das bases de sua legitimidade. Harry sabe que por isso precisa conviver com o assédio da mídia.

Niraj Tanna faz parte desse assédio. Antes de se dedicar à família real em 2005, ele fotografava músicos populares e atores em Londres. "Os astros não têm importância", diz Tanna. "A monarquia, entretanto, significa algo e vai continuar relevante no futuro". Além disso, acrescenta, é divertido disputar com os seguranças de Harry.

Apesar de ter apenas 32 anos, Tanna já é um paparazzo veterano. Ele fotografou vários romances de Harry e o viu bêbado, perturbado, feliz e revoltado. Harry também conhece Tanna, o que torna cada vez mais difícil para o fotógrafo se aproximar do príncipe sem ser reconhecido. O príncipe festejador é um bom tema porque ele se debate com um papel que foi estabelecido desde que nasceu. Tanna está disposto a atravessar a cidade correndo, de dia ou de noite, toda vez que ele ouve notícias que Harry acaba de ser visto em uma festa. Ele recebe informações de garçons, bartenders, convidados e gerentes dos clubes mais quentes da cidade. Para um proprietário de um bar de Londres, uma visita de Harry é a melhor publicidade possível.

O príncipe está atualmente em terceiro lugar na fila para a sucessão ao trono, depois de Charles e William, mas vai cair para o quarto lugar quando nascer o bebê de Kate. As circunstâncias teriam que ser extremamente incomuns para que Harry se tornasse rei, o que dá a ele uma liberdade que seu irmão nunca teve. "Harry é aquele que assume mais riscos", diz Ken Wharfe, que foi guarda-costas da princesa Diana por seis anos. Diferentemente de William, diz ele, Harry queria se entreter quando criança. Ele corria pelo palácio, derrubava vasos e derramava corante vermelho na água do banho de seu guarda costas. Mesmo menino, ele dizia a William: “Você será rei um dia. Eu não, então posso fazer o que quero”.

Excessos em tempo real

Harry aparentemente sofreu mais com a morte da mãe do que qualquer outro na família. Ele descobriu o álcool logo cedo e, na festa de 50 anos do pai, ele bebeu demais, arrancou suas roupas e correu pelado no meio dos convidados. Ele tinha 14 anos. No ano seguinte, ele estava em Cornwall em meio a garrafas de cidra. Era fácil interpretar os excessos de Harry como reação à morte da mãe, mas na verdade ele não estava se comportando de forma diferente de seus amigos. Na virada do milênio, o Reino Unido era uma ilha de festas com bebida à vontade. Harry, de forma radical, estava vivendo a vida comum que sua mãe sempre quis para ele e William.

Ninguém se surpreendeu por ele ter se saído pior na escola do que o irmão. Ele montou uma discoteca com bar no porão da residência real em Highgrove House. As festas ali, aparentemente, também envolviam drogas. Um amigo teria obtido maconha e convidado meninas, apesar de Harry nunca ter precisado de ajuda com mulheres. Os pubs em torno de Highgrove eram seu território de caça, escreve Chris Hutchins na nova biografia. A melhor cantada de Harry era: "Você gostaria de passar no meu palácio para tomar um drinque?"

Aos 17, ele admitiu que tinha fumado maconha. A imprensa o chamou de "Sua Alteza Real" e seu apelido entre amigos era "Hashish Harry". Da perspectiva do Palácio, o perigo não era o interesse de Harry em mulheres, drogas e álcool, mas o fato que tudo isso estava sendo revelado ao público. Isso é especialmente verdadeiro atualmente, pois qualquer convidado em uma festa pode tirar um celular do bolso no momento certo e ganhar dinheiro com uma foto de Harry. Ele é o primeiro príncipe cujos excessos estão sendo divulgados praticamente em tempo real.

O grupo de vigilância do príncipe Harry, Prince Harry Watch, administrado por uma americana que espalha suas informações pelo Twitter, fornece atualizações constantes sobre o paradeiro príncipe. "Harry foi visto em Las Vegas", escreveu em agosto último. Mais tarde, surgiram fotos do príncipe nu em um jogo de "strip" bilhar.

Receita para o desastre

Desde então, Harry ficou mais cauteloso. Ele se comportou mais como um adulto, disse o fotógrafo Tanna, desde que foi para o Afeganistão como soldado pela primeira vez em 2007. "Dava para ver que ele tinha ficado mais sério, mais homem". A grande vantagem do Afeganistão era que não havia fotógrafos por perto, porque o Palácio e o Ministério da Defesa impõem um bloqueio de notícias no minuto que Harry põe os pés em uma zona de guerra. Ele pilota helicópteros de combate, e alguns dizem que ele se diverte um pouco demais na atividade. Quando perguntado sobre sua missão no Afeganistão em uma entrevista à BBC depois do escândalo de Las Vegas, ele disse que amava jogar PlayStation, e que então gostava de pensar que era bem útil com seus polegares.

O exército dá a ele o espaço que ele tanto sente falta. Também permite que seja ele mesmo, dentro do possível, cercado por muitos outros jovens.

O ano passado foi o melhor ano de Harry até agora. A revista "Vanity Fair" chamou-o de membro mais bem vestido da família real. Ele conseguiu convencer sua avó a permitir que a banda Madness se apresentasse no telhado do palácio de Buckingham, no concerto de Jubileu de Diamante da rainha. Ele também teria persuadido a rainha a aparecer em um curta ao lado de Daniel Craig, o ator que faz James Bond, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres. Esse é o tipo de coisa que faz a família real parecer mais moderna do que realmente é.

Nos últimos poucos meses, Harry tem saído com Cressida Bonas, quatro anos mais moça que ele, cuja mãe se casou quatro vezes e teve cinco filhos com três homens diferentes. Ele fará 30 anos no ano que vem. Sua vida está ficando mais sossegada, ou pelo menos assim parece. Recentemente, ele só foi visto tropeçando saindo da casa de amigos depois de ter esvaziado algumas garrafas de vinho, ou alugando um restaurante em Notting Hill para um jantar, disse o fotógrafo Tanna.

Harry está perdendo a graça?

"Não se preocupe, a história do novo relacionamento de Harry só está começando", diz Tanna. "Tenho certeza que veremos muito mais no futuro".