Governo egípcio nega escolha de ElBaradei como premiê, mas confirma seu favoritismo
O porta-voz da presidência egípcia, Ahmed el Moslimani, negou neste sábado que o político liberal e prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei tenha sido nomeado primeiro-ministro, como tinha informado previamente a agência estatal de notícias "Mena". A televisão estatal egípcia confirma o porta-voz ao informar que o primeiro-ministro interino ainda não foi escolhido.
Moslimani afirmou que o novo presidente interino, Adly Mansour, ainda está realizando as consultas pertinentes para escolher o primeiro-ministro e que ElBaradei é um dos candidatos para ocupar o posto. "É a escolha mais lógica".
A reportagem foi veiculada depois que o segundo maior grupo islâmico do Egito, que tinha inicialmente apoiado um roteiro político-militar para conduzir o país para novas eleições, se opôs à nomeação do político liberal ElBaradei.
O líder muçulmano Mohamed Mursi foi deposto pelos militares na quarta-feira. Seu movimento, a Irmandade Muçulmana, liderou protestos que resultaram na morte de dezenas de pessoas.
ElBaradei é ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel da Paz 2005. ElBaradei retornou ao Egito em 2010 para participar da oposição ao regime de Mubarak. O movimento Tamarod, que esteve na origem das manifestações contra o presidente islamita, também informou que ElBaradei assumiria o cargo e prestaria juramento ainda hoje.
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Na terça-feira, a oposição, integrada, entre outros, pelo Tamarod, havia designado ElBaradei como seu representante durante a transição política após a expulsão de Mursi.
A estratégia elaborada pelo exército, pela oposição e pelos principais líderes religiosos do país estabelece a nomeação de um governo interino "dotado de plenos poderes" antes da realização de eleições presidenciais e legislativas em uma data que ainda não foi informada.
ElBaradei apoiou ativamente o levante contra Mubarak em janeiro e fevereiro de 2011 e depois se posicionou como uma das figuras chave do movimento laico e liberal que atualmente exige a saída de Mursi e a organização de eleições presidenciais antecipadas.
Na quarta-feira (3), ElBaradei, qualificou o roteiro traçado pelo exército, que suspende a Constituição e afastava Mohamed Mursi da presidência, como um "passo rumo à reconciliação nacional".
ElBaradei, que acompanhou o chefe do Exército, Abdel Fatah al Sisi, e líderes religiosos na apresentação de seu plano, assegurou que "se corrige assim a Revolução do 25 de Janeiro", que derrubou Hosni Mubarak, e se responde às reivindicações do povo egípcio.
O prêmio Nobel da Paz, que tinha sido eleito pelos opositores para que lhes represente na etapa transitória, destacou que o plano é o "novo começo da revolução" e garante as eleições antecipadas e a reforma da Constituição.
Obama nega inteferência
O presidente americano, Barack Obama, negou "categoricamente" neste sábado que os Estados Unidos estejam "trabalhando com partidos políticos ou movimentos específicos" para "ditar como deveria desenvolver-se a transição no Egito".
Em declaração emitida pela Casa Branca, Obama assegura que o governo americano "segue comprometido com o povo egípcio e sua aspiração à democracia, às oportunidades econômicas e à dignidade". (Com agências internacionais)
ENTENDA A CRISE NO EGITO
O que aconteceu? | O comandante-geral do Exército, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou na TV que a Constituição foi suspensa e que o presidente da Suprema Corte assumiria poderes presidenciais, na prática derrubando o presidente Mohammed Mursi. Com isso, Adli Mansour comanda o governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. No Twitter, Mursi chamou o pronunciamento de "golpe completo categoricamente rejeitado por todos os homens livres de nossa nação". Soldados e carros blindados rondam locais importantes do Cairo enquanto centenas de milhares de manifestantes protestam nas ruas. |
O que motivou a crise? | O descontentamento começou em 2012, quando Mursi, 1º presidente democraticamente eleito do Egito, deu a si mesmo amplos poderes numa tentativa de garantir que a Assembleia Constituinte concluísse a nova Constituição. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais. Quando a nova Constituição, polêmica e escrita por um painel dominado por islamitas, foi aprovada às pressas, as manifestações em massa tomaram as ruas, e Mursi acionou o Exército. Mas enfrentamentos continuaram, deixando mais de 50 pessoas mortas. Diante da pressão, os militares deram um ultimato ao presidente, que tinha 48 horas para atender às demandas populares. Mursi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito, e houve intervenção. |
Qual o caminho traçado pelos militares? | Após encontro de líderes políticos, religiosos e jovens, o general Sisi disse que o povo clamava por "ajuda" e que os militares "não podiam permanecer em silêncio". Ele disse que o Exército fez "grandes esforços" para conter a situação, mas o presidente não atendeu "às demandas das massas" e era hora de por "fim ao estado de tensão e divisão". Como a nova Constituição era alvo de fortes críticas, ele suspendeu-a temporariamente. O general não especificou quanto tempo duraria o período transitório e o papel que será exercido pelos militares. Ele conclamou a Suprema Corte Constitucional a rapidamente ratificar a lei permitindo eleições para a Câmara Baixa do Parlamento, que está dissolvida, e para a Assembleia Popular. E afirmou que um novo código de ética será expedido. |
- Fonte: BBC Brasil
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