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Obama cancela exercício militar com Egito e diz que EUA não decidem futuro do país

Do UOL, em São Paulo

15/08/2013 11h39Atualizada em 15/08/2013 16h38

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que "cabe aos egípcios decidirem o futuro do país" e anunciou a suspensão de um exercício militar conjunto que seria realizado em setembro entre os dois países. "Não podemos manter nossa cooperação enquanto civis são mortos nas ruas e direitos são deixados de lado."

Obama também disse que cabe ao povo egípcio, e não aos EUA, arrumar uma solução para a crise no país.

"A América não pode determinar o futuro do Egito. Isso é com o povo. Queremos um Egito próspero, mas os egípcios terão de fazer o trabalho", disse Obama nesta quinta-feira (15) na ilha de Martha's Vineyard, no Estado de Massachussetts, onde passa férias. 

Pedindo paciência, o presidente americano disse ainda que "haverá dias difíceis" e "falsos começos" até a retomada da democracia no Egito, o que "pode levar gerações".

Em sua fala, Obama também rebateu críticas de que os EUA estariam tomando lado no impasse político pelo qual passa o país árabe. "Fomos acusados [de parcialidade] por apoiadores de Mursi e pelo outro lado, como se apoiássemos Mursi. Nós não nos responsabilizamos por nenhum partido." 

Vice-presidente egípcio deixa o governo após massacre

  • O vice-presidente egípcio e prêmio Nobel da Paz Mohamed El Baradei renunciou ao cargo após a violenta operação para dispersar os manifestantes pró-Mohammed Mursi.

Após anunciar o cancelamento das manobras militares realizadas a cada dois anos entre os dois países, Obama disse: "Tomaremos mais passos se necessário. Nós nos opomos a intervenção à força, e o Egito está tomando um caminho perigoso".

O presidente não mencionou se os EUA pretendem suspender a ajuda financeira bilionária enviada anualmente ao Egito, mas cobrou a suspensão do estado de emergência decretado no país pela junta militar e o início de uma "conciliação".

"O povo egípcio merece coisa melhor que o que vimos nos últimos dias. O ciclo de violência precisa parar."

Mais de 600 mortos

Balanço oficial divulgado hoje pelo governo do Egito informa que a série de confrontos da quarta-feira (14) deixaram um saldo de ao menos 638 mortos --o número, no entanto, não inclui as mortes desta quinta. 

De acordo com o porta-voz do Ministério da Saúde, Mohamed Fathallah, os mortos são, em sua maioria, civis. O ministério do Interior informou a morte de ao menos 43 policiais, e mais três policiais morreram hoje durante um ataque a uma delegacia no sudeste da capital egípcia, segundo a imprensa estatal.

O Egito amanheceu em relativa calma nesta quinta-feira (15) após o decreto de toque de recolher de um mês, imposto ontem pelas autoridades em resposta aos violentos distúrbios que causaram centenas de mortes e milhares de feridos em todo país. Mesmo com o toque de recolher vigorando, grupos pró-Mursi pretendem ir às ruas nesta quinta-feira (15). 

A comunidade internacional condenou o massacre e pediu providências da ONU. O governo dos EUA, que dá apoio financeiro ao Egito, pediu o fim do toque de recolher.

Egito em transe

  • As sucessivas crises e confrontos no Egito tem raízes mais antigas e profundas, na briga entre secularistas e islamitas e uma democracia ainda imatura. Entenda mais sobre a história recente do país

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A violência dos confrontos causou a renúncia do vice-presidente do Egito, o Nobel da Paz Mohamed El Baradei

Durante a noite, houve incidentes em diversas regiões do país. Em Al Arish, capital da província do Norte do Sinai, um policial e um soldado morreram por disparos de desconhecidos em frente a uma delegacia, informou a agência de notícias estatal "Mena".
 
Em Qena, no sul do país, pelo menos duas pessoas foram assassinadas durante os confrontos entre seguidores do deposto presidente Mohammed Mursi e as forças de segurança nos arredores dos tribunais desta cidade. Também há relatos de distúrbios em Alexandria.

Os confrontos generalizados foram iniciados após uma operação policial para desmontar os acampamentos da Irmandade Muçulmana, grupo era liderado por Mursi até sua chegada à Presidência, nas praças de Rabea al Adauiya e de Al Nahda, ambas nas capital. (Com Efe e AFP)