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Conselheiro do Irã estende a mão ao Ocidente e defende país mais receptivo

Ali Akbar Velayati, que aconselha o aiatolá Ali Khamenei em questões como a atividade nuclear - Ebrahim Noroozi/AP
Ali Akbar Velayati, que aconselha o aiatolá Ali Khamenei em questões como a atividade nuclear Imagem: Ebrahim Noroozi/AP

Ali Akbar Dareini

Da AP, emTeerã (Irã)

20/08/2013 06h00

Um alto conselheiro do líder supremo do Irã diz que a eleição do centrista Hasan Rouhani como presidente do país dá uma oportunidade às potências mundiais de chegarem a um acordo com o Irã a respeito de seu programa nuclear, mas que Teerã nunca suspenderá novamente suas atividades nucleares.

Ali Akbar Velayati, que aconselha o aiatolá Ali Khamenei em assuntos-chave, incluindo a questão nuclear, disse à agência de notícias Associated Press que o ônus é do Ocidente de estender a mão ao Irã, mas prometeu que o Irã responderia com uma "língua diferente" da retórica bombástica usada pelo antecessor de Rouhani, Mahmoud Ahmadinejad.

A eleição de Rouhani ressuscitou as esperanças de que um acordo possa ser acertado com o Ocidente para aliviar as preocupações com as intenções nucleares do Irã. Até o momento, a mudança por parte do Irã foi em termos de um tom mais brando --mas não um abrandamento de sua determinação em dar continuidade ao seu programa nuclear. Teerã insiste que seu programa é totalmente pacífico, mas os Estados Unidos e seus aliados acreditam que ele visa obter a capacidade de produção de uma arma nuclear.

Rouhani, que conquistou uma vitória por grande margem na eleição presidencial de 14 de junho, prometeu seguir uma "política de moderação" e aliviar as tensões com o mundo exterior, dizendo que os iranianos votaram pela mudança. Ele insistiu no sábado que o país deseja uma mudança nas táticas de política externa, mas não nos princípios.


Mesmo assim, uma mudança de tom por parte do Irã seria algo significativo. Ahmadinejad costumava chamar as resoluções da ONU de "papéis inúteis", os comparando a "moscas chatas" e "lenços de papel usados", e o principal negociador nuclear que está de saída, Saeed Jalili, seguia a mesma tática linha-dura nas negociações. Quatro rodadas de negociações nucleares desde o ano passado entre o Irã e membros do grupo de seis países --os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha-- fracassaram até o momento em conseguir algum avanço significativo.

Os comentários por Velayati, um confidente próximo de Khamenei, indicam que a alta liderança do país apoia o abandono da retórica dura e a adoção de uma abordagem mais diplomática, convencida de que pode manter seu programa nuclear e ao mesmo tempo reduzir as tensões com o Ocidente.

Velayati também insinuou que a liderança vê potencial de progresso na realização de negociações bilaterais com as potências ocidentais individuais --incluindo os Estados Unidos-- uma ideia que Khamenei rejeitava no passado.

O alto conselheiro disse à AP que a eleição de Rouhani "pode ser um teste para a boa vontade dos países ocidentais”. “Eles [o Ocidente] podem explorar essa oportunidade."

Ele não disse de modo específico como os Estados Unidos e seus aliados deveriam fazê-lo. Mas sugeriu que encontrariam o Irã mais receptivo.

"Eu acho que repetir a mesma linguagem de antes não seria útil. Nós temos que conversar com uma linguagem diferente. Os mesmos propósitos, mas uma linguagem diferente", disse Velayati, um ex-ministro das Relações Exteriores.

Ele enfatizou que a equipe de negociação iraniana deve ser "muito ativa" não apenas nas negociações multilaterais "5+1", mas também deve "conversar direta e indiretamente com os seis países um por um". Ele acrescentou que "a solução de um problema tão complexo exige mais sabedoria".

Mesmo assim, ele ressaltou que o Ocidente deve entender que as decisões finais sobre a questão nuclear são tomadas pelo líder supremo Khamenei, não por Rouhani.

"A política externa, incluindo a questão nuclear, está nas mãos da liderança deste país", disse. Ele disse que Khamenei estabeleceu "princípios" e que o governo tem que segui-los, de modo que o governo Rouhani seguirá "a mesma tendência estratégica do antigo governo".

Mas, ele disse, o Irã deve mudar "de um ponto de vista técnico e tático".

Suas repetidas referências a negociações um a um pareciam sugerir a atração de Teerã pela ideia. Antes, Khamenei disse que não proibia negociações individuais com os Estados Unidos, mas expressava profundo ceticismo de que serviriam para algo, dizendo que Washington não é confiável. Os Estados Unidos também pareciam não convencidos de que essas negociações trariam resultados.


Os Estados Unidos e seus aliados impuseram sanções econômicas, incluindo restrições ao petróleo e atividades bancárias que excluíram o Irã do sistema financeiro internacional, para pressionar Teerã a suspender o enriquecimento de urânio. O enriquecimento é um processo que pode transformar o urânio em combustível para um reator nuclear --ou se enriquecido a um grau maior de pureza, em material necessário para uma ogiva nuclear. O Irã insiste que não abrirá mão de seu direito, segundo o Tratado de Não Proliferação Nuclear, de enriquecer urânio e desenvolver outros aspectos de um programa nuclear pacífico.

Velayati disse que o Irã não suspenderá novamente o enriquecimento porque Teerã teve uma experiência amarga quando o fez em 2003, em uma medida para desenvolver confiança.

"Nós suspendemos todo tipo de enriquecimento por dois anos. Qual foi o resultado? Nada. Todo dia eles apresentavam uma alegação adicional às suas alegações anteriores. Por que devemos repetir essa experiência?"

Outros comentários por Velayati alimentaram a especulação de que Mohammad Javad Zarif, que foi o principal embaixador do Irã na última década e agora é o novo ministro das Relações Exteriores, se tornará o novo negociador nuclear chefe de Teerã. O Irã pode estar contando que Zarif, um diplomata veterano com doutorado em políticas internacionais e lei internacionais pela Universidade de Denver, pode adicionar à equipe de negociação um maior entendimento sobre o modo de pensar americano.

"Zarif é um diplomata de carreira e um negociador muito bom. Ele tem uma experiência muito boa e eficiente na diplomacia", disse Velayati. "Com a presença do dr. Zarif como chefe do Ministério das Relações Exteriores do Irã, nós esperamos que ele possa finalmente chegar a uma solução não apenas para a questão nuclear, mas também para outras questões na região."

Velayati disse que sanções não podem forçar o Irã a recuar, dizendo que o Irã enfrenta sanções do Ocidente há três décadas.

"Se você tem um país como o Irã, com 15 vizinhos, não é possível impor sanções eficazes. Nós poderíamos encontrar soluções para tornar essas sanções inúteis", ele disse.

Velayati também disse que o Irã continuará apoiando o governo de Bashar Assad na Síria, que está combatendo rebeldes apoiados pelo Ocidente e por alguns países árabes.

"Nós acreditamos fortemente que o governo da Síria permanecerá no poder", disse. "O governo da República Islâmica do Irã não hesitará em ajudar o povo sírio e o governo sírio a defender seus direitos, seu território e sua integridade territorial."