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Ex-presidente Mursi se recusa a vestir uniforme, e julgamento é adiado no Egito

Bandeira em apoio a Mohammed Mursi é hasteada do lado de fora do local do julgamento - Khaled Elfiqi/Efe
Bandeira em apoio a Mohammed Mursi é hasteada do lado de fora do local do julgamento Imagem: Khaled Elfiqi/Efe

Do UOL, em São Paulo

04/11/2013 08h54Atualizada em 04/11/2013 12h30

A audiência do julgamento do presidente egípcio deposto Mohammed Mursi, que teve inicio nesta segunda-feira (4), foi suspensa após a abertura porque o réu se negou a vestir o uniforme de acusado como lhe pedia o juiz. Mursi também se declarou o presidente legítimo.

Após a atitude do réu, a Justiça egípcia decidiu adiar o julgamento para o dia 8 de janeiro de 2014. Com isso, a defesa de Mursi terá mais tempo para revisar documentos.

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Outros 14 dirigentes da Irmandade Muçulmana (organização islâmica da qual faz parte o ex-presidente) estão sendo processados com Mursi por seu suposto envolvimento na morte de manifestantes e nos incidentes suscitados nos arredores do palácio presidencial de Itihadiya no último 5 de dezembro de 2011.

A confraria explicou em seu site que Mursi ficou sorridente durante a audiência, se negou a mudar sua vestimenta e insistiu que é o presidente legítimo do Egito.

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Segundo relatos, quando o juiz pediu que o réu se identificasse, ele disse: "eu sou o doutor Mohammed Mursi, o presidente da República. Sou o legítimo presidente do Egito e me recuso a ser julgado por esta Corte".

"Isto foi um golpe militar. É preciso julgar seus líderes", ressaltou, acrescentando: "O golpe é uma traição e um crime".

Caso seja considerado culpado, Mursi pode ser condenado à pena de morte ou prisão perpétua.

Durante os julgamentos, os acusados usam um traje branco, enquanto os que já foram condenados vão de azul.

Um dos processados, o membro da Executiva da Irmandade, Mohammed Beltagui, gritou na sala: "Abaixo o regime militar".

A esse grito se somaram o do restante dos acusados, que também fizeram com a mão erguida o símbolo dos protestos islamitas, segundo a "Al Jazeera".

O tribunal encarregado do caso é a Corte Penal do Cairo, presidida pelo juiz Ahmed Sabri, e o processo se desenrola na Academia da Polícia, nos arredores do Cairo, por motivos de segurança.

O primeiro chefe de Estado eleito democraticamente no Egito, que ficou apenas um ano no poder, foi mantido em detenção pelo Exército em um local secreto desde sua destituição, em 3 de julho.

Mursi foi levado de helicóptero até o local do julgamento, a Academia de Polícia, ao lado da penitenciária de Tora, nos arredores do Cairo, onde estão detidos os principais líderes da Irmandade Muçulmana, o movimento islamita que foi duramente reprimido pelas novas autoridades militares após o golpe de Estado de 3 de julho.

Protestos

Do lado de fora do tribunal, manifestantes denunciavam um processo que consideram manipulado, ante uma forte vigilância policial e militar.

Partidários do presidente islamita deposto, na prisão ou dizimados pela implacável repressão das autoridades instaladas no dia 3 de julho pelo Exército egípcio, convocaram uma mobilização para esta segunda-feira. Milhares de partidários de Mursi se reuniram em frente ao Tribunal Constitucional, no sul do Cairo, enquanto outras dezenas seguravam cartazes com fotos de Mursi e críticas aos militares.

"O julgamento de Mursi é um julgamento de fachada. Os criminosos estão julgando o presidente legítimo", afirmou um simpatizante de Mursi, Ibrahim Abdel Samd.

As autoridades mobilizaram 20 mil homens no Cairo, cidade de 20 milhões de habitantes, e afirmam que estão prontas para responder a qualquer ato de violência.

A polícia egípcia jogou gás lacrimogêneo contra centenas de partidários de Mursi reunidos em frente à sede do tribunal que o julga. Fontes de segurança no local informaram à agência de notícias Efe que as forças de segurança usaram o gás para dispersar os manifestantes que impediam a passagem na entrada da Academia da Polícia.

Um total de 20 mil soldados da polícia e das Forças Armadas foram deslocados para os arredores do tribunal, diante do temor de que os protestos convocados pelos partidários de Mursi derivem em distúrbios.

Kerry visita o Egito

No domingo (3), em visita ao Egito, o secretário de Estado americano, John Kerry, pediu eleições livres e justas no país.

Kerry se reuniu com o presidente interino, Adly Mansur, e com novo líder do país, o chefe do Exército, general Abdel Fattah al-Sissi, para analisar os planos de transição dos militares, que preveem um referendo sobre uma nova Constituição - que está sendo redigida - e eleições legislativas e presidenciais antes de meados de 2014.

O secretário de Estado pediu às autoridades egípcias eleições livres, justas e que incluam todas as partes", enquanto prossegue uma repressão sangrenta à Irmandade Muçulmana, confraria à qual Mursi pertence.

"Ele insistiu ainda sobre o fato de que o estado de emergência, que expira em 14 de novembro, não deve ser prorrogado", declarou à imprensa um funcionário do departamento de Estado que viaja com Kerry.

O secretário de Estado destacou que "a repressão em curso é inapropriada" e que as autoridades egípcias devem "estender a mão à Irmandade Muçulmana e a outros" grupos que apoiam Mursi.

Kerry apelou ainda às autoridades para que protejam os direitos humanos e as liberdades.

O secretário de Estado chegou ao Cairo na véspera do julgamento de Mursi, com o objetivo de fortalecer os laços entre Washington e Egito, aliados de longa data, mas em crise desde o golpe contra o primeiro presidente democraticamente eleito e a repressão a seus partidários.

"Nos comprometemos a trabalhar em conjunto e continuar nossa cooperação com o governo interino", declarou Kerry aos jornalistas. "Os Estados Unidos são amigos dos egípcios e do Egito, e somos parceiros".

Desde o golpe militar, Washington congelou parcialmente a sua ajuda, exacerbando a "fase crítica" em suas relações bilaterais, segundo a diplomacia egípcia.

Os Estados Unidos apoiaram durante três décadas a presidência do predecessor de Mursi - Hosni Mubarak, derrubado por uma revolta popular no início de 2011 - fazendo do país árabe mais populoso seu grande aliado para tentar manter a estabilidade na região. (Com AFP, AP e Efe)