Topo

Fotógrafa retrata famílias que derrubaram barreiras étnicas

A fotógrafa norte-americana, com ascendência coreana, CYJO é a idealizadora do projeto Mixed Blood - Divulgação
A fotógrafa norte-americana, com ascendência coreana, CYJO é a idealizadora do projeto Mixed Blood Imagem: Divulgação

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

10/07/2014 06h00

A origem étnica tem sido uma das principais causas de conflitos armados entre nações ou dentro de um mesmo país, como é o caso da onda de violência vivenciada atualmente pelo Iraque e Sudão do Sul. Um projeto de uma fotógrafa norte-americana, que tem ascendência coreana, pretende mostrar que, apesar das tensões existentes entre diferentes etnias, o amor entre as pessoas pode ultrapassar todas essas barreiras.

Intitulado de Mixed Blood (Sangue Misturado, em tradução livre), o trabalho idealizado por CYJO, que cresceu em Washington DC (EUA), mas passou grande parte da vida adulta transitando entre Nova York (EUA) e Pequim (China), retrata 19 famílias dessas duas cidades, que possuem formações étnicas bastante distintas. Mixed Blood se propõe a investigar a formação da identidade e da cultura, por meio dessas famílias, levando em consideração conceitos como tradição, modernidade, cidadania e etnicidade.

O UOL conversou com a fotógrafa sobre o projeto, lançado em maio no Museu de Arte Contemporânea de Pequim. CYJO falou sobre a idealização do Mixed Blood, os objetivos do projeto, além de questões como imigração e alteridade.

Como surgiu a ideia de fazer um projeto voltado para essa temática?

Eu fiz outro projeto, entre 2004 e 2009, intitulado KYOPO, que traçou um perfil de mais de 200 pessoas, em especial norte-americanos que possuem ascendência coreana. Dentro desse grupo, eu observei que havia um punhado de pessoas com origens étnicas que iam além da coreana, como africana, japonesa, escocesa, judia, entre outras. Após entrevistá-los, percebi que era preciso explorar esse aspecto mais detalhadamente.

Além disso, notei que na China são raras pessoas de diferentes origens étnicas se casarem, principalmente se tiverem uma mentalidade mais conservadora – embora isso esteja mudando com a geração mais jovem.

Qual a importância do projeto?

Considero importante compartilhar esse aspecto da multiculturalidade e das identidades multiétnicas prevalentes entre os norte-americanos e os chineses. Pois, ainda nos dias de hoje, as pessoas que não têm uma experiência direta com essas duas culturas pensam, por exemplo, que a cultura norte-americana tem uma única origem branca. Mixed Blood mostra que os norte-americanos possuem uma multiplicidade de origens e que os movimentos de imigração continuam a contribuir para a formação cultural e étnica. É importante compartilhar essa realidade, que também é a minha realidade.

O projeto abre, ainda, uma importante discussão sobre o impacto da rápida urbanização chinesa no crescimento e na evolução da identidade das famílias. Quem não sabe muito sobre a China, acaba presumindo que há apenas uma etnia no país. Essas pessoas não tem consciência de que 56 grupos étnicos reconhecidos coexistem na China.

Quais as suas conclusões sobre os resultados obtidos com o projeto?

O que descobri nessas famílias é que elas desafiam fronteiras e os conflitos raciais sobre os quais costumamos ler. Embora possa haver nelas complexidades, como tensões e diferenças relacionadas ao poder hereditário, os retratos e as narrativas dos membros demonstram o amor natural entre eles, que pode atravessas todas essas barreiras. 

O título do projeto chegou a causar algum tipo de polêmica?

O título questiona a definição do termo “Mixed Blood” (Sangue Misturado, em tradução livre). Se nós pensarmos sobre isso, essa mistura vem ocorrendo desde que as pessoas foram migrando de um lugar para outro e tendo filhos de parceiros de outras culturas. Para mim, o título é inclusivo e não exclusivo, mas diferentes sociedades podem enxergar isso de formas diferentes. E isso me intriga.

Quando as fotos foram tiradas?

Entre 2010 e 2013.

As imagens serão expostas e publicadas?

Mixed Blood foi lançado em maio deste ano no The Today Art Museum, em Pequim, na China. As imagens serão exibidas em diversas cidades da China através de uma exposição itinerante que está sendo patrocinada pela embaixada dos Estados Unidos na China. Eu adoraria levar o projeto para outros países, para compartilhar os resultados com outros contextos culturais.

Os retratos também foram reunidos em um livro, cuja primeira edição foi impressa em inglês e chinês, que será doado aos participantes durante as exposições itinerantes. Nós temos um número limitado de exemplares, feitos especificamente para as exposições itinerantes.