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Eleito para o Senado, Mujica vai defender regras claras contra a corrupção

Monica Yanakiew

Da Agência Brasil, em Montevidéu

30/11/2014 12h17

Em uma década de governos da Frente Ampla, a economia uruguaia cresceu em média 5% ao ano, o desemprego caiu, e o índice de pobreza foi reduzido de 39% para 11%. Mas quem colocou o pequeno país no mapa foi o atual presidente José Pepe Mujica, cujo sucessor será eleito neste domingo.

Desde que ele assumiu a presidência, em 2010, Mujica, 79, fez fama por ser diferente. Vive na mesma chácara e dirige o mesmo fusca velho. Um xeque árabe quis comprar o carro por um US$ 1 milhão, mas ele recusou a vendê-lo. Doa 90% de seu salário presidencial para projetos sociais. No seu governo, três medidas polêmicas foram aprovadas: aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e livre produção e venda de maconha.

Em entrevista à "Agência Brasil", José Pepe Mujica disse que - depois de entregar a presidência a seu sucessor, em março - tem muitos planos. Já começou a construir uma escola de ofícios agrícolas em um canto da chácara e vai continuar fazendo política, como senador – cargo para o qual foi eleito no primeiro turno, das eleições presidenciais e legislativas, em outubro passado.

Os uruguaios foram às urnas para renovar a totalidade do Congresso: a Frente Ampla obteve maioria em ambas as casas. Mas nenhum candidato a presidente obteve suficientes votos para ser eleito no primeiro turno. Por isso, hoje (30), o candidato governista Tabaré Vasquez vai disputar o segundo turno com Luis Lacalle Pou, do tradicional Partido Nacional ou Blanco.

Pepe Mujica disse estar certo da vitória de Tabaré Vasquez. E disse que, no Congresso, vai defender reforma constitucional e adoção de regras claras para combater a corrupção --principalmente na política. "Precisamos assegurar regras que ajudem a combater alguns desvios que estão aparecendo na América Latina, como a corrupção", disse Mujica. "Não porque tenhamos corrupção, mas porque quando você vê as barbas do vizinho ardendo, melhor colocar as suas de molho", disse.

E como fazer isso? Fiel ao seu estilo de dizer o que pensa, sem rodeios, Pepe Mujica respondeu: "Ah! Tendo as ideias claras, sabendo que não estamos aqui pelo dinheiro e que temos que botar para correr da política a todos aqueles que gostam muito de dinheiro. Essa e a primeira medida". Segundo ele, é preciso "ser sóbrio na política e viver como vive a maioria do nosso povo e não como vive a minoria". O povo, disse Mujica, "não vê apenas o discurso, vê tudo o que rodeia os políticos".

A paulista Renata Soares, que vive há 11 anos em Montevidéu, disse que o interesse dos brasileiros pelo país vizinho aumentou desde que Pepe Mujica virou presidente. Ela administra uma página no Facebook, da comunidade brasileira no Uruguai. Segundo ela, muitos escrevem perguntando onde podem se encontrar com o presidente uruguaio para tirar uma foto e bater um papo.

"Graças a Mujica, muita propaganda sobre o Uruguai foi feita no Brasil e muitos brasileiros, cansados [do próprio país] ficam fascinados pelo carisma e a simplicidade do Pepe", disse Renata. Pepe sabe que ajudou a despertar o interesse internacional pelos uruguaios: "Eu acho que há uns quantos turistas que gostam de vir ao Uruguai....e já que estão aqui, acabam vendo um velho esquisito", brincou.