Faixas de golpistas em quartéis eram confeccionadas no Planalto, diz PF
As faixas que eram usadas por manifestantes nas portas de quartéis e em atos de apoio a Jair Bolsonaro eram pensadas pelo próprio Palácio do Planalto, que orientava quais mensagens deveriam ser mostradas nas manifestações supostamente espontâneas do povo.
A informação faz parte do inquérito realizado pela Polícia Federal e que embasou o indiciamento do ex-presidente e mais 36 pessoas, inclusive militares.
No final de 2022, Bolsonaro usou suas redes sociais para dizer que não participou das manifestações diante dos quartéis. "Eu não participei desse movimento. Eu me recolhi", disse. Bolsonaro ainda disse que os protestos foram do "povo" e que não tinham uma "liderança".
O inquérito, porém, revela algo diferente.
"A atuação coordenada entre a Presidência da República, por meio do general Mario Fernandes e os manifestantes ficou novamente evidenciada em mensagens de áudio e documentos trocados entre o investigado e a pessoa de George Hobert Oliveira Lisboa, coronel do Exército da reserva e na época dos fatos, Assessor Especial no Gabinete do Ministro da Secretária-Geral da Presidência da República", diz o inquérito.
"Nas mensagens fica evidente que os militares, integrantes do governo do então presidente Jair Bolsonaro estavam confeccionando materiais de propaganda das manifestações antidemocráticas que ocorriam no QG do Exército em Brasília/DF", conclui a PF.
Num dos diálogos obtidos, em 7 de novembro de 2022, Hobert "parece passar orientações sobre a montagem de uma imagem, inclusive dando instruções para colocar a frase "Concentração no QG do Exército".
"Nos arquivos extraídos, aparecem ainda duas imagens. A primeira é um rascunho feito a caneta do que seria o projeto de um flyer para convocar uma manifestação", indica a PF.
Na segunda imagem recuperada pela investigação, trata-se do próprio panfleto, convocando para a manifestação no dia 9 de novembro de 2022, no QG do Exército.
Horas depois, o general Mario Fernandes pede para que Hobert "parabenize uma terceira pessoa que, possivelmente, foi a responsável pela elaboração do material". O militar foi um dos detidos na operação da PF e atuou no gabinete direto de Jair Bolsonaro.
Os interlocutores ainda trocaram novas mensagens com conteúdo relacionado a propaganda das manifestações, que ocorriam naquele período, com conteúdo explicitamente golpista.
Naquele mesmo dia 7 de novembro, um documento compartilhado entre os dois militares cujo título é "FAIXAS" apresenta as frases que devem ser usadas. Eram elas:
- "LIBERDADE SIM, CENSURA NÃO"
- "RESPEITO A CONSTITUIÇÃO, CONTAGEM PÚBLICA DOS VOTOS"
- "SOS FORÇAS ARMADAS"
- "NÃO A DITADURA DO JUDICIÁRIO"
- "NOVAS ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE"
"O contexto do arquivo indica que seria um planejamento para confecção de faixas a serem feitas com estas frases e utilizadas nas manifestações próximas ao Quartel-General do Exército", disse a PF.
Ainda no contexto da relação de Fernandes com as manifestações, a investigação identificou mensagens que foram encaminhados entre contas de WhatsApp vinculadas ao próprio general, "possivelmente com o intuito de preservar o conteúdo e dificultar a identificação do interlocutor da mensagem".
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberNuma das mensagens havia um "COMUNICADO", seguido dos dizeres "ESTA MENSAGEM NÃO PODE CORRER EM GRUPOS".
O texto diz que a informação deve ser repassada individualmente para "pessoas igualmente confiáveis" e fala sobre uma manifestação marcada para 10 de dezembro de 2022, com o objetivo de causar transtornos na cidade de Brasília/DF para criar um "cenário caótico", que desencadeie a convocação das Forças Armadas e com isso, impedir a diplomação do então candidato eleito.
Ao final, o autor escreve: "DEPOIS DE MANDAR ESSA MENSAGEM E SE CERTIFICAR DE QUE A PESSOA A RECEBEU, APAGUE-A. PARA QUE NÃO FIQUE REGISTRADO EM NENHUM WHATSAPP".
Em nova mensagem, dois dias depois dos atos, Hobert admite que as manifestações podem ter "efeito dominó, mas o que que vai acontecer... Se esse efeito dominó não for rápido, o Alexandre de Moraes, o pessoal do judiciário vai ser mais dramático, vai ser mais intenso na represália. Isso aí pode afugentar, pode enfraquecer o movimento". "Tudo pode de fato acontecer, mas é necessário, sem dúvida, que a reação seja o mais rápido possível, né", completou.
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