Topo

O que é preciso saber sobre a eleição em Israel

Do UOL, em São Paulo

17/03/2015 02h40Atualizada em 17/03/2015 14h05

Os israelenses irão às urnas nesta terça-feira (17) para escolher o novo primeiro-ministro do país e também entre listas partidárias de candidatos para ocuparem as 120 cadeiras do Knesset --o Parlamento de Israel.

Nenhum partido obteve a maioria das cadeiras desde a primeira eleição no país, em 1949. A seguir estão perguntas e respostas sobre a eleição e que tipo de negociações de coalizão podem vir a ocorrer:

O que acontece após o fechamento das urnas?
As três principais emissoras de televisão de Israel divulgam as pesquisas de boca de urna quando votação é encerrada às 22h (17h, horário de Brasília), estimando quantas cadeiras cada partido obteve e então tem início os cálculos de coalizão.

Quem está à frente nas pesquisas de opinião?
A princípio, há um empate entre os dois principais partidos: o Likud de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e a União Sionista de centro-esquerda liderada por Isaac Herzog e Tzipi Livni. Ao levar em consideração antigas afiliações políticas e as políticas atuais, mais partidos parecem inclinados a se unir ao Likud em uma coalizão.

Como funciona a formação da coalizão?
O presidente de Israel, Reuven Rivlin, consulta os líderes de cada partido representado no Parlamento sobre qual é a preferência deles para primeiro-ministro e então escolhe o legislador que acredita ter a melhor chance de formar uma coalizão. O indicado, que não necessariamente precisa ser o líder do partido que obteve a maioria dos votos, tem até 42 dias para formar um governo antes do presidente pedir a outro político para que tente.

Que tipo de coalizão poderia ser formada?
Com base nas atuais pesquisas de opinião, Netanyahu poderia formar um governo com um grupo de partidos ultranacionalistas, judeus ortodoxos e centristas que já prometeram seu apoio ou não o descartaram. A aritmética é mais difícil para a centro-esquerda, apesar de não ser impossível que possa reunir uma coalizão com maioria por uma pequena margem caso vença.

Se Netanyahu vencer, o que isso significará para as políticas?
Provavelmente seria mais do mesmo: posição dura sobre a necessidade de parar o programa nuclear do Irã e forte oposição ao que ele disse ao Congresso americano, ser um acordo ruim entre as potências mundiais e Teerã. A construção de assentamentos judeus, ao menos nas áreas ocupadas da Cisjordânia que Israel prometeu manter em qualquer futuro acordo de paz com os palestinos, também provavelmente continuaria, em desafio à condenação internacional.

Netanyahu também poderia descartar alguns aliados tradicionais –que já brigaram com ele no passado– em prol da parceria com sua principal oponente, a União Sionista, em um chamado governo de união nacional.

Nenhuma decisão importante está pendente na questão palestina devido ao colapso em abril das negociações para criação do Estado palestino, e ambos os grandes partidos concordam que um acordo nuclear com o Irã representaria uma maior ameaça a Israel. Logo essa aliança, apesar de improvável, não é impossível.

Durante três mandatos como primeiro-ministro e uma passagem como ministro das Finanças, Netanyahu promoveu reforma de livre mercado, privatização de empresas estatais e quebra de monopólios, mantendo ao mesmo tempo o deficit orçamentário sob controle. Uma continuidade do esforço para maior concorrência de mercado seria o foco principal no caso de sua vitória.

E quanto a um governo liderado pela União Sionista?
Os estrategistas do Likud estão observando a União Sionista aparecendo ligeiramente à frente em algumas pesquisas de opinião, dizendo que poderia bastar uma vantagem de apenas quatro cadeiras para Herzog ter ao menos uma chance de formar um governo. Herzog disse que, como primeiro-ministro, exploraria formas de retomar as negociações de paz com os palestinos.

Mas o partido não chegou a pedir a suspensão total da construção de assentamentos, dizendo apenas que a construção fora das áreas que Israel espera manter permanentemente levaria ao isolamento internacional.

A União Sionista tornou a reforma econômica em um importante elemento de sua campanha eleitoral, prometendo uma lei de "aluguel justo" para baixar os preços e reduzir as despesas das pessoas com educação e saúde. Com os trabalhistas de raízes socialistas formando grande parte do partido, uma vitória provavelmente resultaria em um aumento dos gastos sociais.

Quais são os fatores inesperados aos quais permanecer atento?
Os partidos que representam a minoria árabe de Israel formaram pela primeira vez uma lista unida. Eles contam atualmente com cerca de 13 cadeiras dentre as 120 do Knesset segundo as pesquisas de intenção de votos, o que poderia torná-los o terceiro maior grupo. Seria a primeira vez na história de Israel que partidos árabes teriam tamanha influência.

Além disso, o Yesh Atid –um grupo centrista formado pelo ex-apresentador de talk show Yair Lapid em 2012– conquistou surpreendentes 19 cadeiras nas eleições de 2013, o deixando em segundo lugar. Ele caiu ligeiramente, no momento contando com 12 a 13 cadeiras segundo as pesquisas, mas ele argumenta que as pesquisas não registram plenamente seu apoio entre os jovens urbanos.

Moshe Kahlon, um ex-ministro das comunicações elogiado por ter derrubado dramaticamente os valores cobrados pela telefonia móvel, formou um grupo de centro-direita cuja previsão é de que obtenha cerca de 10 cadeiras. Ele poderia se aliar tanto a Netanyahu quanto à centro-esquerda, o deixando com o possível papel de "fazedor de rei".

E a questão palestina?
O reatamento do processo de paz com os palestinos e as perspectivas de resolver o eterno conflito do Oriente Médio quase não têm espaço na agenda eleitoral israelense, dominada pelo Irã e por questões de segurança e socioeconômicas. Trata-se de uma tendência que se intensifica ano a ano e a julgar pelos principais slogans de campanha, o dilatado conflito com os palestinos definitivamente não é uma questão de interesse.

O termo "paz" desapareceu do léxico eleitoral e se tornou eufemismo de "processo diplomático" para fazer referência às conversas de paz. 

O primeiro-ministro israelense tenta conseguir seu terceiro mandato consecutivo passando com bastante delicadeza pela questão palestina, se erguendo como único líder capaz de fazer frente aos múltiplos desafios que Israel enfrenta em matéria de segurança. No entanto, membros de seu partido, o conservador Likud, revelaram que Netanyahu considera hoje "simplesmente irrelevante" a ideia favorável de um Estado palestino ao lado de Israel.

Quais serão os principais desafios diplomáticos?
O próximo primeiro-ministro israelense não terá tempo para comemorar a vitória, segundo analistas, precisando se ocupar de desafios diplomáticos complicados, sobretudo se Benjamin Netanyahu for mantido no cargo.

A questão que mais se destaca é a crise de confiança entre Israel e os Estados Unidos. Também será preciso articular relações entre Israel e a União Europeia, seu principal parceiro comercial.

O bloco europeu começou a anular as isenções fiscais sobre certos produtos israelenses fabricados nos assentamentos de judeus ultraortodoxos na Cisjordânia, mas já anunciou que pretende mencionar a origem dos demais. Tais medidas vão demorar, dada a complexidade, mas também em função da iminência das eleições em Israel. (Com Reuters, tradução de George El Khouri Andolfato, Efe a AFP)

Tensão no Oriente Médio cresce antes de eleições israelenses