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Cessar-fogo entre Assad e oposição aceleraria luta contra o EI, diz Obama

O presidente dos EUA, Barack Obama, discursa na Conferência do Clima da ONU - Alain jocard/AFP
O presidente dos EUA, Barack Obama, discursa na Conferência do Clima da ONU Imagem: Alain jocard/AFP

Do UOL, em São Paulo

01/12/2015 12h23

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta terça-feira (1º) que um cessar-fogo entre o regime do governante sírio Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia, e os grupos armados de oposição na Síria pode ser o próximo passo para atuação mais consistente da coalizão internacional contra o Estado Islâmico, que domina parte do país e do Iraque. Os Estados Unidos encabeçam o grupo formado por países ocidentais.

Segundo Obama, que falou na COP-21 (Conferência do Clima da ONU), em Paris (França), o fim dos bombardeios contra os rebeldes, alvos de Rússia e Síria, pode significar o início do diálogo político entre os diferentes grupos do país e a concentração de forças para a extinção do Estado Islâmico.

A estratégia seria uma saída para o obstáculo que impede a entrada da Rússia no grupo que combate os jihadistas na Síria: a divergência sobre a permanência ou não de Assad no poder, defendida pelos russos e rechaçada por norte-americanos, franceses e outros integrantes da coalizão.

De acordo com Obama, não se espera que a Rússia, a partir de agora, deixe de mirar os rebeldes e passe a se concentrar apenas no EI. “Isso não aconteceu até agora e não deve acontecer nas próximas semanas. O que pode acontecer é que, se o processo político negociado por John Kerry [secretário de Estado dos EUA] e Sergei Lavrov [ministro russo das Relações Exteriores] funcionar, poderemos ver sinais de cessar-fogo na Síria”, disse Obama.

“Isso significaria que alguns grupos opositores não mais seriam submetidos a bombardeios russos e sírios, e poderíamos iniciar um diálogo político, direcionando a atenção de todos para o que deve ser o foco, que é lutar sistematicamente contra o Estado Islâmico”, afirmou Obama.

“Não espero uma mudança de 180 graus na estratégia [dos russos], eles investiram anos em manter Assad no poder e a presença deles lá é baseada nisso. Levará tempo até eles mudarem o que pensam sobre esse problema, e enquanto eles se aliarem com o regime, seus recursos se concentrarão em atingir opositores que ultimamente fariam parte de um governo inclusivo, que seria apoiado por nós”, declarou o presidente.

Pressão sobre Putin

Na entrevista coletiva, Obama afirmou novamente seu repúdio a uma eventual permanência de Assad no poder e falou sobre a possibilidade de um novo governo sírio que incluísse os diversos grupos de oposição - atualmente, rebeldes sunitas, curdos e de outras minorias lutam contra o regime sírio, de orientação xiita. Nesse contexto, o Estado Islâmico conseguiu dominar uma grande área do país, e também do Iraque, e estabeleceu ali seu autoproclamado califado.

Ao mesmo tempo, o chefe da Casa Branca pressionou Vladimir Putin a concentrar suas forças contra o EI e advertiu o presidente russo sobre a estratégia de interferir diretamente em uma guerra civil, lembrando da intervenção soviética entre 1979 e 1989 no Afeganistão, quando os russos e o regime afegão acabaram derrotados por rebeldes locais.

“Os russos estão lá [na Síria] um mês e a situação não mudou muito. Eles já perderam um avião comercial [derrubado pelo braço egípicio do EI], tiveram outro avião derrubado [pela Turquia] e sofreram muitas perdas. Acho que Putin entende que, com a lembrança do Afeganistão fresca na memória, permanecer em uma inconclusiva guerra civil não é o resultado que ele busca”, disse Obama.

Segundo ele, Assad não pode ser considerado legítimo porque matou “centenas de milhares de seu próprio povo” e já demonstrou que não consegue encerrar o conflito que ocorre desde 2011. “Na parte prática, é impossível Assad unir o país e os diferentes partidos para ter um governo que seja inclusivo, onde diversos grupos sejam representados. Francamente, não temos muito em comum com parte da oposição moderada na Síria, mas ela representa uma fração significativa da população.”

“Ultimamemente, a Rússia reconhecerá a ameaça que o EI oferece a sua população e se aliará a quem luta contra o grupo”, finalizou Obama.