Ataque a Nice é consequência de intervenção no Oriente Médio, diz especialista
O professor Reginaldo Nasser, especialista em política internacional com foco em conflitos e terrorismo, diz que o novo ataque terrorista à França, nesta quinta-feira (14), em Nice, é consequência direta da política intervencionista do país no Oriente Médio. "É só não intervir no Oriente Médio que não tem ataque", analisa. "Entre os países europeus, a França é o que mais intervém na região", acrescenta.
Nasser cita especificamente o que chama de posicionamento invasivo da França em relação ao Iraque e à Síria e a países do norte da África, Mali e Líbia. "Isso passou a chamar a atenção dos grupos terroristas. E é impossível parar esses ataques, a menos que se mude a política", opina.
Para o professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), a França experimentou cerca de uma década sem ataques terroristas em seu território, a partir de meados dos anos de 1990, exatamente por não intervir. Nasser lembra de que a França não apoiou, por exemplo, a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, nos anos 2000, durante o governo do presidente Jacques Chirac.
A mudança na política externa, para uma postura intervencionista, segundo ele, aconteceu a partir do governo do presidente Nicolas Sarkozy, em 2007, e continua até hoje, no governo de François Hollande.
Objetivos políticos
O especialista cita que a França tem uma das leis antiterroristas mais duras do mundo e investe bilhões de euros em defesa, mas o terrorismo não diminui, pelo contrário. "O número de mortos vai aumentar ainda mais com atentados, porque o problema de origem continua", explica.
O terror tem objetivos políticos. Não ataca qualquer Estado. As vítimas são aleatórias, mas o país onde acontece é escolhido."
A intenção do terror, segundo Nasser, é exatamente forçar a população atacada a exigir do seu governo a saída dos países onde intervém. "Mas isso não tem sido muito pedido pela população francesa até aqui", admite.
É uma guerra, diz o professor, que mata e fere apenas a população mais vulnerável, desprotegida e inocente, porque o terror não tem capacidade estrutural de atingir quem está protegido: as Forças Armadas e as elites políticas e econômicas.
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