O que está em jogo no primeiro encontro entre as duas Coreias desde 2015
Pela primeira vez em mais de dois anos, na noite desta segunda (8), representantes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte irão se encontrar para dialogar. A reunião é aguardada com ansiedade por todo o mundo, em meio a uma crise diplomática que se estende por décadas e que envolve o temor de uma guerra nuclear.
A reunião acontece na cidade de Panmunjom, zona desmilitarizada na fronteira entre os dois pequenos países, que foi palco do acordo de cessar-fogo que deu fim à Guerra da Coreia (1950-1953). Os representantes se encontrarão em uma local chamado de "Aldeia da Trégua", próximo ao museu em que foi transformado o lugar do histórico acordo de paz.
A pauta do encontro é algo que pode parecer simplório: levar uma dupla de patinadores norte-coreanos à Olimpíada de Inverno, que acontece na cidade sul-coreana PyeongChang, entre os dias 9 e 25 de fevereiro.
No entanto, para especialistas, isso é importante por abrir uma janela de diálogo que pode levar a temas mais importantes, como a desnuclearização do Norte. Já céticos da iniciativa entendem que a Coreia do Norte não tem interesse em acabar com seu programa nuclear e que o convite ao diálogo apenas serve para ganhar tempo no desenvolvimento de suas armas.
Entenda o que está em jogo:
Processo de negociação
A abertura para negociações partiu do líder norte-coreano, Kim Jong-Un, às vésperas do Ano-Novo, em um discurso endereçado à nação e a outros líderes internacionais. No discurso, enquanto reservou ameaças aos EUA, lembrando ao presidente norte-americano Donald Trump que possui um botão nuclear em sua mesa --Jon-Un se mostrou propenso ao diálogo com o vizinho sul-coreano.
"A participação da Coreia do Norte na Olimpíada de Inverno será uma boa oportunidade para mostrar o orgulho nacional e desejamos que os Jogos sejam um sucesso. Autoridades das duas Coreias devem se encontrar urgentemente para debater essa possibilidade", disse na ocasião.
A mensagem foi bem recebida por Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, que convidou Jon-Un para uma conversa em Panmunjom.
Depois disso, as duas Coreias reestabeleceram a conexão telefônica, suspensa em 2016, e a Coreia do Sul adiou os testes militares que realizaria em conjunto com os Estados Unidos para depois da Paraolimpíada, que acontece em março --garantindo assim o encontro desta noite.
Como deixou bem claro o país do Norte por meio de sua Agência Central de Notícias, “forasteiros” não são bem-vindos nas discussões. Ou seja, não haverá um assento à mesa para os Estados Unidos ou outros representantes externos.
A pauta do encontro: patinação
Ryom Tae-ok, 19, e Kim Ju-sil, 25, formam a dupla de patinadores que espera competir na edição de invernos dos Jogos Olímpicos. Eles foram treinados pelo técnico canadense Bruno Marcotte e se classificaram para a Olimpíada após competirem na Europa.
Apesar da classificação, no entanto, a Coreia do Norte perdeu o prazo para registrá-los para os Jogos. Ainda assim, país sede e Comitê Olímpico Internacional (COI) mostraram disposição para reverter a situação --e isso deve acontecer no encontro que se aproxima.
Além disso, especialistas preveem que a Coreia do Sul sugira que os atletas dos dois países desfilem juntos na cerimônia de abertura e montem um time de hockey feminino binacional, segundo a agência de notícias Associated Press.
Por que isso é importante?
Embora a pauta se atenha a assuntos esportivos, eles têm uma dimensão simbólica relevante, e a medida pode significar a abertura para outras negociações - por isso a grande expectativa em torno do encontro.
Entre temas que podem ser levantados está a reunião de famílias separadas pela guerra, como adiantou o governo sul-coreano a uma agência de notícias local, além da redução de ameaças em áreas fronteiriças - fortemente militarizadas dos dois lados.
O Norte, por sua vez, pode exigir a suspensão total dos exercícios nucleares feitos pela Coreia do Sul em parceria com os EUA --atualmente adiados. A desnuclearização da Coreia do Norte, maior interesse da comunidade internacional como um todo, por ora, deve ficar de fora.
Em entrevista à rede de televisão japonesa NHK, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, comemorou o encontro. Até mesmo o presidente norte-americano, Donald Trump, após troca de farpas com Kim Jong-Un via Twitter, reconheceu no sábado (6) esperar resultados positivos da reunião em Panmunjom. Já céticos do diálogo dizem que, em seu discurso, Jon-Un tenta afastar Washington de Seul e ganhar tempo para aperfeiçoar seu programa nuclear.
Um histórico das Coreias na Olimpíada
Esta não será a primeira vez que os Jogos Olímpicos servem de símbolo para a aproximação ou afastamento entre os dois países. Em anos anteriores, boicotes e desfiles conjuntos foram alguns dos sinais mais fortes sobre o momento diplomático das Coreias.
Em 1984 a Coreia do Norte boicotou a Olimpíada de Verão que acontecia naquele ano em Los Angeles, EUA - seguindo a União Soviética.
Nos jogos seguintes, realizados na Coreia do Sul, em Seul, o país deixou novamente de ir. Um ano antes, em 1987, agentes norte-coreanos realizaram um atentado a bomba contra um voo sul-coreano, matando todas as 115 pessoas a bordo. Por outro lado, na edição de verão de Sydney, em 2000, os dois países desfilaram juntos na cerimônia de abertura.
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