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O que está em jogo no primeiro encontro entre as duas Coreias desde 2015

Autoridades da Coreia do Norte e do Sul no último encontro entre os países, em 2015 - The South Korean Unification Ministry/AP
Autoridades da Coreia do Norte e do Sul no último encontro entre os países, em 2015 Imagem: The South Korean Unification Ministry/AP

Do UOL, de São Paulo

08/01/2018 20h09

Pela primeira vez em mais de dois anos, na noite desta segunda (8), representantes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte irão se encontrar para dialogar. A reunião é aguardada com ansiedade por todo o mundo, em meio a uma crise diplomática que se estende por décadas e que envolve o temor de uma guerra nuclear.

A reunião acontece na cidade de Panmunjom, zona desmilitarizada na fronteira entre os dois pequenos países, que foi palco do acordo de cessar-fogo que deu fim à Guerra da Coreia (1950-1953). Os representantes se encontrarão em uma local chamado de "Aldeia da Trégua", próximo ao museu em que foi transformado o lugar do histórico acordo de paz.

A pauta do encontro é algo que pode parecer simplório: levar uma dupla de patinadores norte-coreanos à Olimpíada de Inverno, que acontece na cidade sul-coreana PyeongChang, entre os dias 9 e 25 de fevereiro.

No entanto, para especialistas, isso é importante por abrir uma janela de diálogo que pode levar a temas mais importantes, como a desnuclearização do Norte. Já céticos da iniciativa entendem que a Coreia do Norte não tem interesse em acabar com seu programa nuclear e que o convite ao diálogo apenas serve para ganhar tempo no desenvolvimento de suas armas.

Entenda o que está em jogo:

Processo de negociação

A abertura para negociações partiu do líder norte-coreano, Kim Jong-Un, às vésperas do Ano-Novo, em um discurso endereçado à nação e a outros líderes internacionais. No discurso, enquanto reservou ameaças aos EUA, lembrando ao presidente norte-americano Donald Trump que possui um botão nuclear em sua mesa --Jon-Un se mostrou propenso ao diálogo com o vizinho sul-coreano.

"A participação da Coreia do Norte na Olimpíada de Inverno será uma boa oportunidade para mostrar o orgulho nacional e desejamos que os Jogos sejam um sucesso. Autoridades das duas Coreias devem se encontrar urgentemente para debater essa possibilidade", disse na ocasião.

A mensagem foi bem recebida por Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, que convidou Jon-Un para uma conversa em Panmunjom.

Depois disso, as duas Coreias reestabeleceram a conexão telefônica, suspensa em 2016, e a Coreia do Sul adiou os testes militares que realizaria em conjunto com os Estados Unidos para depois da Paraolimpíada, que acontece em março --garantindo assim o encontro desta noite.

Como deixou bem claro o país do Norte por meio de sua Agência Central de Notícias, “forasteiros” não são bem-vindos nas discussões. Ou seja, não haverá um assento à mesa para os Estados Unidos ou outros representantes externos.

Soldados na chamada 'Aldeia da Trégua', onda as Coreias se encontram para dialogar - Ed Jones/AFP - Ed Jones/AFP
Soldados na chamada 'Aldeia da Trégua', onda as Coreias se encontram para dialogar
Imagem: Ed Jones/AFP

A pauta do encontro: patinação

Ryom Tae-ok, 19, e Kim Ju-sil, 25, formam a dupla de patinadores que espera competir na edição de invernos dos Jogos Olímpicos. Eles foram treinados pelo técnico canadense Bruno Marcotte e se classificaram para a Olimpíada após competirem na Europa. 

Apesar da classificação, no entanto, a Coreia do Norte perdeu o prazo para registrá-los para os Jogos. Ainda assim, país sede e Comitê Olímpico Internacional (COI) mostraram disposição para reverter a situação --e isso deve acontecer no encontro que se aproxima.

Além disso, especialistas preveem que a Coreia do Sul sugira que os atletas dos dois países desfilem juntos na cerimônia de abertura e montem um time de hockey feminino binacional, segundo a agência de notícias Associated Press.

Os patinadores Ryon Tae-Ok e Kim Ju-Sik, durante competição na Alemanha, em setembro de 2017 - Matthias Schrader/AP - Matthias Schrader/AP
Os patinadores Ryon Tae-Ok e Kim Ju-Sik, durante competição na Alemanha, em setembro de 2017
Imagem: Matthias Schrader/AP

Por que isso é importante?

Embora a pauta se atenha a assuntos esportivos, eles têm uma dimensão simbólica relevante, e a medida pode significar a abertura para outras negociações - por isso a grande expectativa em torno do encontro. 

Entre temas que podem ser levantados está a reunião de famílias separadas pela guerra, como adiantou o governo sul-coreano a uma agência de notícias local, além da redução de ameaças em áreas fronteiriças - fortemente militarizadas dos dois lados.

O Norte, por sua vez, pode exigir a suspensão total dos exercícios nucleares feitos pela Coreia do Sul em parceria com os EUA --atualmente adiados. A desnuclearização da Coreia do Norte, maior interesse da comunidade internacional como um todo, por ora, deve ficar de fora. 

Em entrevista à rede de televisão japonesa NHK, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, comemorou o encontro. Até mesmo o presidente norte-americano, Donald Trump, após troca de farpas com Kim Jong-Un via Twitter, reconheceu no sábado (6) esperar resultados positivos da reunião em Panmunjom. Já céticos do diálogo dizem que, em seu discurso, Jon-Un tenta afastar Washington de Seul e ganhar tempo para aperfeiçoar seu programa nuclear.

Um histórico das Coreias na Olimpíada

Esta não será a primeira vez que os Jogos Olímpicos servem de símbolo para a aproximação ou afastamento entre os dois países. Em anos anteriores, boicotes e desfiles conjuntos foram alguns dos sinais mais fortes sobre o momento diplomático das Coreias.

Em 1984 a Coreia do Norte boicotou a Olimpíada de Verão que acontecia naquele ano em Los Angeles, EUA - seguindo a União Soviética.

Nos jogos seguintes, realizados na Coreia do Sul, em Seul, o país deixou novamente de ir. Um ano antes, em 1987, agentes norte-coreanos realizaram um atentado a bomba contra um voo sul-coreano, matando todas as 115 pessoas a bordo. Por outro lado, na edição de verão de Sydney, em 2000, os dois países desfilaram juntos na cerimônia de abertura.

Qual o tamanho da ameaça nuclear no mundo hoje?

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