"Charlie Hebdo" retorna com força em novo exemplar publicado no fim do mês
Gabriela Cañas
Em Paris (França)
-
Stephane Mahe/ Reuters
Capa da edição do 'Charlie' publicada uma semana após o atentado ao semanário
Os sobreviventes da chacina preparam um novo número para o próximo dia 25
É um caso insólito. A modesta revista satírica "Charlie Hebdo", alvo do mortal ataque jihadista em 7 de janeiro passado, vendeu 8 milhões de exemplares do número já histórico elaborado logo depois da chacina. Desde que a dizimada redação do semanário conseguiu lançar, em 14 de janeiro, a edição 1.178, os exemplares seguem se esgotando nas bancas da França, semana após semana. Os sobreviventes, ainda abrigados na sede do jornal "Libération", afirmam já estar em condições de recuperar a normalidade a partir de 25 de fevereiro.
Apesar da vontade expressa pela redação da "Charlie Hebdo", a revista não voltou a circular desde 14 de janeiro. A publicação tinha uma modesta equipe de cerca de 20 pessoas antes da chacina. O ataque cometido pelos irmãos Said e Cherif Kouachi em 7 de janeiro para vingar o profeta Maomé, segundo eles, pelas caricaturas publicadas no semanário e por seus pontos de vista laicos e humorísticos sobre o islã, acabou com a vida de 12 pessoas, das quais oito pertenciam à equipe editorial ou eram colaboradores habituais. Entre os mortos estão cinco desenhistas emblemáticos da publicação: Stéphane Charbonnier, ou Charb; Jean Cabut, Cabu; Georges Wolinski; Bernard Verlhac, Tignous e Philippe Honoré.
Antes do atentado, o semanário atravessava momentos financeiros muito difíceis, já que se sustentava sem publicidade, apenas das vendas, que mal chegavam a 50 mil exemplares. A chacina gerou tal nível de solidariedade que a revista não só teve uma circulação recorde com seu número 1.178, como agora tem 200 mil assinantes
As receitas da publicação se elevaram de maneira exponencial no último mês, graças a tais vendas e doações. Os 200 mil assinantes se traduzirão, segundo o diretor financeiro da "Charlie Hebdo", Eric Portheault, em 14 milhões de euros, à razão de 70 euros por assinatura (3 euros por exemplar), e as doações já somam 2,37 milhões. Ao todo, o semanário tem assegurado um faturamento de cerca de 30 milhões de euros.
Portheault declarou recentemente ao "Libération" que o dinheiro das doações é para as vítimas, enquanto o restante será dedicado integralmente à continuidade da revista. "Não haverá dividendos para os acionistas, seja qual for a arrecadação", acrescentou.
Na semana passada, em reação a uma proposta de parlamentares comunistas, o Senado votou unanimemente a favor de uma redução de impostos às pessoas físicas que fizerem doações à imprensa.
Até agora, a "Charlie Hebdo" foi obrigada a adiar várias vezes sua volta às bancas. Junto à sede parisiense da revista ainda há oferendas de flores e homenagens espontâneas, mas a redação continua fechada. Anos atrás, o jornal "Libération" também acolheu os jornalistas, quando um ataque com um coquetel molotov destruiu as instalações da revista.
O falecido Charb foi substituído à frente da redação por Laurent Sourisseau, o Riss, outro caricaturista do semanário, que foi ferido no ombro no atentado, mas já deixou o hospital. Riss afirmou que a linha editorial da publicação continuará a mesma.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Receba notícias do UOL. É grátis!
Veja também
- 'Atacamos a França, não foi pessoal', diz terrorista de Paris
- 'Frase de Keith Richards me revelou que sobreviveria', diz brasileiro sobre atentado que vai a julgamento em Paris
- França quer julgar, em 2021, 20 acusados de atentado que matou 129 pessoas
- Acusado de participação nos atentados de Paris é condenado a 20 anos de prisão