Iate de luxo de Al Capone virou atração turística no Panamá

José Meléndez

Em Panamá City

  • Alejandro Bolívar/Efe

    O Isla Morada, que era de Al Capone, na baía do Panamá

    O Isla Morada, que era de Al Capone, na baía do Panamá

A toda velocidade, o navio Isla Morada navegou muitas vezes há mais de 85 anos pelo canal de La Mona - entre a República Dominicana e Porto Rico - e pelo estreito de La Florida - entre os EUA e Cuba - ou pelo passo de Los Vientos - entre Cuba e Haiti - em missões arriscadas do crime organizado.

Sob as ordens de Al Capone, o mais famoso gângster da época da Lei Seca, que vigorou nos EUA de 1919 a 1933 e proibia fabricar, transportar, importar, exportar, vender ou comprar bebidas alcoólicas, o barco de madeira realizou perigosos serviços no Caribe para a temida e implacável máfia de Chicago.

Superando tempestades naturais ou perseguições da polícia, sempre chegou às costas americanas com cargas de rum, uísque e outras bebidas contrabandeadas por homens de Capone dos mercados cubano e dominicano.

Mas as missões do Isla Morada - que toma seu nome de uma ilhota da Flórida perto de Miami que foi a base de operações do impiedoso chefão - mudaram de cenário e objetivo, e hoje ele é uma atração da firma panamenha Canal&BayTours para percorrer o Canal do Panamá... com a lembrança de Capone.

Construído em 1920 em Massachusetts como iate de luxo para magnatas e personagens de duvidosa ou impecável reputação, na mesma década passou a ser propriedade do chefe mafioso, encarcerado de 1931 a 1939 por evasão fiscal e que, sem o poder que construiu como chefe criminoso, se retirou para Miami Beach, onde morreu em 1947.

Depois de ser apreendida pelo governo dos EUA, a embarcação ficou na Segunda Guerra Mundial a serviço do Exército como caça-minas, devido a seu casco de madeira. Em 1960, com outro dono, chegou a águas panamenhas para viagens turísticas fora do canal ou como hotel ancorado no Pacífico.

Na década de 1920, no auge de seu império de prostituição, jogo ilegal e tráfico de bebidas, o filho de imigrantes italianos nascido em 1899 em Nova York como Alphonse Gabriel e rebatizado como Scarface (cara cortada) por causa dos ferimentos de navalha que sofreu em uma briga de bordel, transformou o Isla Morada em uma força móvel do contrabando e em antro, com cinco camarotes de luxo, bares e cassino.

Com três andares, 96 metros de comprimento, 5,79 metros de largura e um peso bruto de 94 toneladas, o Isla Morada viaja tranquilo em sua velocidade superior a 12 nós por hora em cerca de oito horas pelos 80 quilômetros do Pacífico ao Atlântico e vice-versa, no canal do Panamá.

As salas foram reformadas e transformadas em restaurante, mas se conservaram elementos básicos como o timão, o mecanismo da âncora na proa, a escada do primeiro ao segundo andar, os banheiros ou as diversas partes forradas com tábuas de madeira.

Por isso, quando o capitão panamenho Eduardo Espinoza se instala na cabine principal como patrão do navio, desfruta navegando com um barco quase único, que, lançado há 103 anos, é exclusivo no canal por sua antiguidade e no qual, à diferença dos mais modernos, com acessórios tecnológicos, deve-se ter um controle "especial" do comando.

"O timão é muito velho. É manual e de corrente, mas está em excelentes condições. É mais sensível... é preciso saber levá-lo. Tudo é diferente, como a corrente da âncora, ainda original", disse Espinoza ao "El País".

"É maravilhoso saber que tem sua história de perigo e que houve capitães que, com Al Capone, se atreveram a fazer travessias delicadas. Por algum motivo está na história dos mares", salientou. "Mas agora está em outra missão", esclareceu.

O Isla Morada abriga casamentos e outras festas e passeios, com 104 passageiros no máximo, em um mágico cenário natural... sem os excessos nem a agitação de mais de 85 anos atrás.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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