Opção de Hollande por estratégia clássica no Mali tranquiliza militares franceses

Nathalie Guibert

  • Efe

    16.jan.2013 - Soldados do Exército francês aplaudem o pronunciamento do presidente do Mali, Dioncounda Traoré, em Bamaco (Mali). Leon Panetta, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, afirmou que as operações militares no Mali não são uma guerra francesa

    16.jan.2013 - Soldados do Exército francês aplaudem o pronunciamento do presidente do Mali, Dioncounda Traoré, em Bamaco (Mali). Leon Panetta, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, afirmou que as operações militares no Mali não são uma guerra francesa

Dizer que um soldado é destinado à guerra pode parecer ululante. As reações de feliz surpresa exprimidas nos últimos três dias pelos militares, diante da decisão de François Hollande de enviar o exército francês ao Mali, mostram que não era algo óbvio. Os próprios interessados duvidaram.

"Todo mundo ficou agradavelmente surpreso", resume um general do Exército, que coordena um grupo de reflexão. "É mais do que uma ótima surpresa, é a sensação de que encontramos um chefe das forças armadas na linha de De Gaulle, Mitterrand e Chirac", diz um ex-oficial de alto escalão.

Esperava-se que a esquerda fosse menos propensa a se servir das forças armadas, mais "branda", se não pacifista. "É um pouco como o presidente americano Truman, que pode ter parecido sem carisma antes de demitir MacArthur e iniciar a guerra da Coreia", ilustra o coronel das tropas marítimas Michel Goya, diretor de estudos no Instituto de Pesquisas Estratégicas da Escola Militar.

Este se diz ainda mais surpreso pelo fato de que, excepcionalmente, o ministro da Defesa admitiu logo de início que "estavam em guerra". Para ilustrar a complexidade da situação no Mali, o Executivo chegou a usar a expressão de "guerra ao terrorismo", cara ao presidente americano George Bush após o 11 de setembro de 2001, tão criticada na época pelos socialistas franceses.

Primeiro, atribuía-se ao presidente a intenção de ser, durante seu mandato, menos intervencionista do que seu antecessor de direita, quando a França acumulou as pesadas intervenções do Afeganistão, da Costa do Marfim e da Líbia. Com a volta dos combatentes do teatro de operações afegão em dezembro de 2012, como prometido por Hollande, o Exército já havia iniciado um trabalho de adaptação.

Segundo, as perspectivas orçamentárias eram ruins. É verdade que a diminuição dos orçamentos da Defesa, durante a 5ª República, nunca foi correlata à tendência do governo – um estudo de Martial Foucault, do Instituto Francês de Relações Internacionais, demonstrou isso de maneira bem precisa.

Além disso, o novo presidente repetiu durante seu discurso às forças armadas em Orléans, no dia 9 de janeiro, que a defesa "não seria uma variável de ajuste" na crise. Mas só sua participação, "como a dos outros ministérios", no esforço de recuperação das finanças públicas, conseguirá diminuir drasticamente as ambições e os meios. O novo Livro Branco deve confirmar isso em fevereiro.

Nos últimos 15 anos, lembrou o chefe das Forças Armadas diante da Assembleia Nacional, "a ferramenta de defesa foi dimensionada em média em 32 bilhões de euros constantes, em valores de 2012. O novo orçamento trienal programa 29 bilhões para 2015, ou seja, quase 10% menos. É claramente uma mudança de linha".

Portanto, sobre o primeiro ponto, a operação "Serval" no Mali tranquiliza os militares. Não se escolhem suas guerras, eles gostam de lembrar. É verdade que esta vem sendo preparada há vários meses, mas desencadeada em caráter emergencial em reação à ofensiva dos grupos ela nos "traz de volta à realidade", comenta um general.

"Diziam-nos que depois do Afeganistão havíamos acabado com a contrainsurreição", ressalta Michel Goya, para quem a intervenção no Mali "lembra muito a operação conduzida no Chade entre 1968 e 1972 após o pedido do presidente Tombalbaye, para enfrentar a rebelião da Frente de Libertação Nacional do Chade", uma "guerra de corsários" marcada por uma grande velocidade de intervenção e pela injeção de 600 conselheiros nas unidades chadianas.

"Estamos voltando a uma concepção clássica das operações, muito mais eficaz do ponto de vista militar: agir diretamente, combinando poder de ataque aéreo, capacidades flexíveis com os helicópteros e ação em solo".

Depois da Líbia, o modelo de uma intervenção breve, "limpa" por ser à distância, combinando operações aéreas e forças especiais, poderia ter sido atraente. Uma ilusão, acusava o Exército.

Na operação "Serval", seus militares vibraram ao ver as redes de TV mostrando as colunas de blindados franceses chegando a Bamaco pela estrada a partir de Abidjã. Eles nutrem assim a esperança de que essa intervenção permitira que se limitem os danos anunciados, demonstrando que os meios clássicos não devem ser abandonados. A próxima lei de programação 2014-2019 promete ser dolorosa. Para o Exército, fala-se em uma força operacional de 50 mil homens, contra 80 mil hoje.

De forma mais ampla, a operação contrariou parte da esquerda que pensava que a França havia deixado para trás suas ações militares na África. Em 2008, os militares haviam ressaltado que o Livro Branco subestimava a situação no Sahel e se enganava ao reduzir as presenças francesas em duas bases, uma a oeste, em Dacar, e a outra a leste, em Djibuti.

O dispositivo, de fato, permaneceu disperso. A operação "Serval" foi lançada a partir de posições francesas no Chade, no Gabão, na Costa do Marfim, no Senegal e dos agrupamentos de forças especiais presentes há vários anos nos países vizinhos do Mali.

A dispersão, antes considerada custosa demais, possibilitou a resposta à "surpresa estratégica" que representou a ofensiva islâmica na direção do sul do Mali no dia 10 de janeiro. E isso porque a França abandonou seus meios de transporte militar há anos, e se vê obrigada a recorrer a seus aliados para conseguir se manter.

Tradutor: Lana Lim

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