Atendimento psicológico para vítimas dos atentados em Paris continua

Manon Rescan

Semanas após os ataques de 13 de novembro, todos os dias novos pacientes, vítimas de "transtornos tardios", continuam procurando os serviços de atendimento psicológico

Até hoje, Fabrice (nome fictício) não tinha sentido vontade de voltar a Paris. Tomar o trem na estação de Marselha-Saint-Charles, como naquela sexta-feira, 13 de novembro, em que ele se dirigiu ao Bataclan, entrar no metrô, enfrentar aqueles lugares onde ele viveu o impronunciável. Mais de um mês após os atentados perpetrados em Paris e em Saint-Denis, ele finalmente conseguiu registrar queixa no número 36 do Quai des Orfèvres, sede da polícia nacional. Depois ele foi ao pronto-socorro médico-psicológico do Hôtel-Dieu (mais antigo hospital de Paris) para uma avaliação de danos psicológicos, ele que por pouco não foi ferido, uma vez que o tiro só atingiu seu braço de raspão.

Desde então, assim como algumas outras vítimas, ele achou que estava bem. Por fim, viu que não estava, um efeito "clássico pós-traumático", observa Nicolas Dantchev, chefe do setor de psiquiatria do Hôtel-Dieu, que abriga um centro de consulta médico-psicológica de emergência para as vítimas dos atentados de Paris.

"Algumas pessoas retomaram suas vidas como antes, voltaram ao trabalho, e depois sentiram os sintomas de trauma, como flash-backs, problemas para dormir, cenas chocantes passando em looping. São os transtornos tardios". Esses sinais podem aparecer até três meses após o choque, que para Fabrice renderam 30 dias de afastamento do trabalho.

E assim as consultas não pararam mais no Hôtel-Dieu desde o dia 13 de novembro. Certamente diminuíram, bem longe dos 80 atendimentos dos primeiros dias, mas os psiquiatras ainda recebem de 10 a 15 novos pacientes a cada dia. "Muitos deles nunca haviam passado por uma consulta com um psicólogo", diz Dantchev.

Evasão

"São diversos os perfis de gente que recebemos pela primeira vez", explica Thierry Baubet, chefe do setor de emergência médico-psicológica de Seine-Saint-Denis. "Além das testemunhas de cenas de tiroteios, ou dos que chegaram ao local pouco depois, "há feridos ou parentes de pessoas que morreram, que estavam cuidando de outras coisas desde os ataques", ele conta.

Mas há também aqueles que não foram procurar ajuda logo em seguida, não porque "estivessem bem", mas porque já estavam muito afetados, sem necessariamente se darem conta disso. "Essas pessoas fizeram de tudo após os atentados para evitar falar sobre os acontecimentos traumáticos", ressalta Baubet.

"É o que se chama de evasão", explica Dantchev. As vítimas passam a evitar locais públicos muito movimentados como transportes coletivos, ou lugares que lhes lembrem os traumas, territórios onde elas se sentem oprimidas.

"Para alguns, isso se torna incapacitante a ponto de eles não conseguirem mais sair de casa", afirma o psiquiatra. Para esses, uma simples sessão de terapia não seria suficiente para aplacar os distúrbios.

Esses pacientes normalmente são direcionados para setores de psiquiatria especializados em psicotraumatologia. "O problema é que na região de Ile-de-France todos os centros estão sobrecarregados e saturados", diz Dantchev.

Em Paris, tanto o Hôtel-Dieu como o hospital Tenon (especializado em psicotraumatologia) não estão mais em condições de receber novos pacientes para um acompanhamento de longo prazo, e estes acabam sendo direcionados para psiquiatras menos especializados. "Foram abertos pontos para consultas extras, mas não foram suficientes", diz o médico.

Segundo Thierry Baubet, que montou seu consultório de psicotraumatologia em Bobigny "sem recursos públicos suplementares", "é preciso que o poder público considere reforçar o auxílio" nesse domínio da psiquiatria, "e não somente dentro de Paris", ele alega. Segundo Dantchev, a demanda por tratamentos psicotraumatológicos não é unicamente conjuntural. "Ela tem aumentado nos últimos anos, mas com esses atentados haverá um boom."

Já a direção geral da Saúde explica que essas questões serão abordadas dentro da análise dos resultados sobre a criação do dispositivo de atendimento às vítimas dos atentados, "esperados para meados de janeiro, que deverão permitir um aperfeiçoamento do serviço."

Tradutor: UOL

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