Topo

Esse conteúdo é antigo

Noruega financia mapeamento de florestas tropicais por satélite em esforço contra desmatamento

O mapa, com imagens de alta resolução, cobre 64 países, inclusive o Brasil, e será atualizado mensalmente - Planet Labs Inc
O mapa, com imagens de alta resolução, cobre 64 países, inclusive o Brasil, e será atualizado mensalmente Imagem: Planet Labs Inc

Jonathan Amos

Da BBC

28/10/2020 14h06

A Noruega está financiando um conjunto de dados de satélite exclusivo sobre as florestas tropicais do mundo, como a Amazônia brasileira - o que pode representar um "divisor de águas" na luta contra o desmatamento.

O mapa, com imagens de alta resolução, cobre 64 países, inclusive o Brasil, será atualizado mensalmente.

Seu diferencial é que poderá ser acessado por qualquer pessoa e gratuitamente.

O governo norueguês está financiando o projeto por meio de sua NICFI (Iniciativa Internacional para o Clima e as Florestas).

O conjunto de dados deve ser "uma enorme ajuda na luta contra o desmatamento", de acordo com Sveinung Rotevatn, ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega.

"Há muitas partes do mundo onde imagens de alta resolução simplesmente não estão disponíveis, ou onde estão disponíveis - as ONGs, comunidades e universidades nesses países não podem pagá-las porque são muito caras", diz ele à BBC.

"Então, decidimos pagar a conta do mundo, basicamente", acrescenta. O NICFI concedeu um contrato de US$ 44 milhões (R$ 250 milhões) a Airbus, Planet e KSAT (Kongsberg Satellite Services) pelo acesso a fotos e conhecimento especializado.

A gigante aeroespacial europeia Airbus está abrindo seu arquivo de imagens Spot desde 2002.

A Planet, sediada nos Estados Unidos, opera a maior constelação de satélites de imagem em órbita atualmente. A empresa sediada em San Francisco, na Califórnia, obtém uma imagem completa da superfície terrestre diariamente (se as nuvens permitirem) e fornecerá a maior parte dos dados para o mapa mensal daqui para frente.

A KSAT unirá as informações e fornecerá suporte técnico aos usuários. Imagens de satélite são importantes para o combate ao desmatamento.

Um vídeo divulgado pela Planet mostra, por exemplo, um trecho da Amazônia brasileira sendo sistematicamente derrubado ao longo de um período de três anos.

Para o CEO da Planet, Will Marshall, o novo projeto resume a missão de sua empresa.

"Nossa missão, quando criamos a empresa, era ver mudanças em todo o planeta e ajudar as pessoas a tomarem decisões mais inteligentes. E o exemplo canônico para nós foram as florestas".

"(Nós prevíamos) uma resolução de 3 m por pixel e uma revisão diária. Você precisa ser capaz de ver o que está acontecendo com cada árvore individualmente e precisa dessa revisão rápida para interromper o desmatamento no ato, em vez de apenas contar as árvores perdidas em o fim do ano."

A Planet vai usar seus satélites Dove para verificar alterações no solo de até 3,7 m de diâmetro. Uma nova iteração dessas espaçonaves está sendo lançada com sensores de câmera que têm o dobro do número de bandas espectrais, aumentando sua capacidade de avaliar a saúde das árvores.

A empresa franqueou o acesso a seu portal Explorer no dia 22 de outubro ao público em geral - basta preencher um cadastro rápido em seu site: www.planet.com.

Os dados também podem ser obtidos por meio do Global Forest Watch. "É importante lembrar que muito do desmatamento que estamos vendo em muitos países é desmatamento ilegal", diz Rotevatn.

"Portanto, não são os governos que pressionam pelo desmatamento ou mesmo o endossam, em geral. Pelo contrário, são atores ilegais; e os próprios governos precisam de mecanismos para ver onde estão os problemas, onde precisam aplicar a lei e para onde as coisas estão indo na direção certa."

Segundo Will Marshall, da Planet, "este projeto funcionará em escala global, ou na escala de 64 países - mas local o suficiente para que suas informações possam fortalecer a ação em campo. Estamos tentando conseguir isso de uma forma que seja tão democratizante quanto possível, para que qualquer pessoa possa utilizá-lo. Não é necessário um doutorado em processamento de imagens de satélite para saber o valor dele."