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Rio de Janeiro ganha primeiro guia de história natural

Foto do Costão da Av. Niemeyer mostra a riqueza do relevo da cidade - Paulo Sallorenzo/Divulgação "Guia de História Natural do Rio de Janeiro" / Editora Cidade Viva
Foto do Costão da Av. Niemeyer mostra a riqueza do relevo da cidade Imagem: Paulo Sallorenzo/Divulgação "Guia de História Natural do Rio de Janeiro" / Editora Cidade Viva

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

23/08/2012 07h00

Em sua primeira expedição ao Rio de Janeiro, em 1832, o naturalista inglês Charles Darwin já se mostrara impressionado pelas belezas naturais da cidade. Em seu diário de viagem, Darwin relata que “pôde admirar umas das vistas esplêndidas que talvez possam ser contempladas de cada canto do Rio”. Em outro trecho, ele diz: “Não sei que epíteto tal cena merece: bonito é modesto demais. Cada forma, cada cor é um exagero completo do que já se viu antes”.

Recentemente, o Rio recebeu o título de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana pela Unesco. Só agora, pela primeira vez, a cidade ganha um guia de história natural que traça um roteiro de visitação inspirado nos sítios naturais do Rio, uma espécie de retrato sobre o meio ambiente da cidade.

Segundo Maria Teresa Fernandes, uma das organizadoras do livro, que reúne artigos escritos por 12 autores e pesquisadores que atuam na área de gestão ambiental, o guia foi elaborado ao longo de dois anos pensando não em especialistas, mas no cidadão comum, curioso e bem informado, que tem prazer de observar os fenômenos da natureza.

“Há uma carência de informação sobre o tema e há pessoas interessadas em entender a paisagem natural do Rio de Janeiro que tem um relevo espetacular", afirma. "O melhor entendimento de como surge essa paisagem e a sua dinâmica de formação propicia a sua conservação”, acrescent Fernandes, que trabalha como consultora em planejamento ambiental.

Paisagens com formações milenares

As paisagens do Rio são tão antigas e remontam a formações milenares, explica a consultora, que também já foi gerente da área ambiental para América Latina e Caribe no Banco Mundial.

É difícil encontrar algum outro lugar no mundo que se assemelhe a esta configuração, com contrastes em sua formação de granito, como a Serra do Mar, o Pão de Açúcar e a Pedra da Gávea. “Em termos topográficos, o Rio é espetacular, com uma paisagem à beira do mar como a Baía de Guanabara.

Segundo Fernandes, a formação da geomorfologia e topografia do Rio remonta a um bilhão de anos, com a separação dos continentes. “A Serra do Mar se forma nesse longuíssimo processo entre 60 e 25 milhões de anos atrás”.

Apesar de só restar entre 11 e 20% da Mata Atlântica, que originalmente percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta, o Estado do Rio ainda tem preservada a sua cobertura. Este bioma cobre 18,5% do Estado, sendo que metade deste território ainda é floresta primária.

Desde o final da década de 1980 e início dos anos 90, iniciou-se um esforço de conservação com uma série de criações de parques, unidades de conservação e áreas de preservação ambiental.

Maior floresta urbana

O Parque Nacional da Tijuca, criado na década de 1960, é exemplo de que é possível a cidade conviver ao lado de imensas áreas verdes sem degradá-la. Maior floresta urbana do mundo, com 3.972 hectares, o parque é considerado Reserva da Biosfera pela Unesco, pois reúne 1.619 espécies vegetais, das quais 433 estão ameaçadas de extinção. Já da fauna, são 328 espécies animais, dentre anfíbios, aves e mamíferos, estando 16 delas ameaçadas de extinção.

É no Parque da Tijuca que estão os mirantes das Paineiras e da Vista Chinesa, a Pedra Bonita, além de lugares como o Pico do Papagaio (de quase 1.000 metros de altitude) e o Pico da Tijuca (com 1.021 metros), assim como a Pedra da Gávea (844 metros).

Contudo, segundo Fernandes, apenas na década de 1990, quando ganhou força o movimento ambiental, foram criadas mais áreas de conservação. “Surgiu uma consciência sobre a importância de olhar os remanescentes ambientais desse bioma”, conta.

Entre reservas biológicas, parques nacionais, parques naturais municipais, estaduais e áreas de proteção ambiental, existem pelo menos 30 unidades de conservação na região metropolitana do Rio.

“Hoje a ideia é criar mosaicos e corredores de proteção ambiental para permitir a integração da fauna”, diz.

Restingas e lagoas

Entre as belas paisagens, estão também as restingas e as lagoas. “As restingas são uma paisagem extremamente importante, associada ao bioma da Mata Atlântica e aos manguezais, que estão superdesvalorizados”, lamenta Fernandes.

Tanto as restingas quanto os manguezais oferecem importantes serviços ambientais, além de proteger contra a erosão da região costeira e servirem como locais de nascedouros, verdadeiros berçários de espécies.

“Restingas, brejos e manguezais antes não eram valorizados. Essa visão está  mudando e já há um trabalho para tentar recuperar essas áreas. Como, por exemplo, os manguezais no entorno da Baía de Guanabara, da Baía de Sepetiba e da Lagoa Rodrigo de Freitas”.

Já as lagoas são vulneráveis e sujeitas a pressões do homem, como o despejo de esgoto in natura, resíduos sólidos e escoamento de águas pluviais. “Muitas já sofrem assoreamento e a vida natural está prejudicada, como as lagoas de Jacarepaguá”, argumenta a consultora ambiental.

A organizadora do livro explica, ainda, que o Rio é uma cidade que teve seu terreno quase todo aterrado, pois foi erguida em solos pantanosos, com muitas lagoas e mangues. Tanto os sistemas lagunares de Jacarepaguá, que reúnem as lagoas de Marapendi na Barra da Tijuca, como as lagoas de Itaipu, em Niterói, sofrem pelas ações do homem e não têm recebido atenção suficiente para neutralizar os fatores de pressão de modo a recuperá-las.

Guia de História Natural do Rio de Janeiro

Páginas: 284

Preço: R$ 55

Editora: Cidade Viva

Organizadores: Maria Teresa F. Serra e  M V. Serra