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Principais ONGs abandonam conferência de Varsóvia sobre o clima

Em Varsóvia

21/11/2013 11h33

As principais Organizações Não Governamentais de proteção do meio ambiente, como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) ou o Greenpeace, anunciaram nesta quinta-feira que se retiravam da conferência sobre o clima realizada em Varsóvia porque "não leva a nada".

Esta é uma decisão sem precedentes na história das grandes negociações promovidas pela ONU na luta contra a mudança climática.

"As organizações e movimentos que representam a sociedade civil em todos os lugares do mundo decidiram aproveitar melhor seu tempo e se retirar das negociações de Varsóvia", afirmam seis organizações em um comunicado publicado um dia antes do encerramento oficial da conferência.

"Esta conferência de Varsóvia, que deveria ter representado uma etapa importante na transição para um futuro sustentável, não leva a nada", afirmam Greenpeace, Oxfam, WWF, Amigos da Terra Europa, Confederação Internacional de Sindicatos e ActionAid International.

A conferência de Varsóvia sobre o clima terminará nesta sexta-feira após quase duas semanas de negociações para a redução das emissões de gases de efeito estufa no mundo. Os participantes na conferência esperavam estabelecer as bases de um acordo que deve ser assinado em Paris em 2015.

Após mais uma noite de negociações, a comissária europeia para o clima, Connie Hedegaard, lamentou que "as negociações não têm avançado".

"Nós não podemos nos dar ao luxo de dar um passo atrás em relação a Durban, precisamos avançar", alertou, em referência à conferência da ONU em 2011, durante a qual a comunidade internacional decidiu selar um acordo em 2015.

Este acordo, que deve entrar em vigor em 2020, deverá ser o mais ambicioso sobre a questão ambiental: universal, juridicamente vinculante, com o objetivo de reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) e conter o aquecimento global a 2°C em relação a era pré-industrial.

Até o momento, a trajetória é de de 3,6°C, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

Mas o caminho até Paris está cheio de obstáculos, principalmente sobre a divisão da responsabilidade entre países industrializados e países em desenvolvimento, com destaque para os grandes emergentes como a China, maior poluidora mundial.

Os grandes países emergentes insistem que os países industrializados, responsáveis históricos pelo aquecimento, devem fazer muito mais que eles, ressaltando seu "direito ao desenvolvimento".

Esta posição é rejeitada pelos Estados Unidos, segundo maior poluidor mundial, que não aceita que a China beneficie um tratamento diferenciado. "Devemos deixar as ideologias fora da sala", declarou nesta quinta-feira o negociador americano Todd Stern.

Um acordo baseado nesta linha de divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento "não funcionará", insistiu.

Mas poucos minutos após este discurso, o negociador chinês lembrou os delegados de que "existe de um lado países em curso de industrialização e outros que são pós-industriais", e "esta divisão continuará a existir após 2020".

Assim, o ministro Zhenhua Xie fez um apelo para que o acordo de 2015 inclua "objetivos quantitativos de redução drástica das emissões de GEE" para os países industrializados, e que os países em desenvolvimento apenas "reforcem seus esforços" neste sentido.

Segundo o diretor de Greenpeace international, Kumi Naidoo, "a China pode mudar a situação, mas ainda não traduziu seus esforços nacionais em compromissos construtivos nessas discussões".

Para todos os efeitos, os países do Norte não são poupados pelas ONGs que criticam o declínio do Japão, Austrália e Canadá na luta contra as mudanças climáticas, e sobre a questão da assistência financeira aos países do Sul, "os governos têm cuspido na cara daqueles que sofrem com as mudança climáticas", disse Naidoo.

Os países desenvolvidos prometeram em 2009 uma ajuda de 100 bilhões de dólares ao ano até 2020 para os países mais vulneráveis, mas estes últimos perderam a paciência por não ver chegar a ajuda prometida.

Além disso, querem criar um "mecanismo" que os ajudará a identificar os prejuízos e fazer frente.

Mas a criação de um novo órgão não é do gosto dos países do norte, que preferem resolver o assunto usando os mecanismos existentes.

Estas duas questões, a formulação de um calendário das várias etapas até Paris, e a natureza dos compromissos esperados no acordo de 2015, permanecem pontos duros das negociações nesta quinta-feira.