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Região dos EUA emite três vezes mais metano do que se pensava

Em Washington

09/10/2014 21h27

Uma região do sudoeste dos Estados Unidos está emitindo para a atmosfera grandes quantidades de metano, um poderoso gás causador de efeito estufa, mais nocivo do que o dióxido de carbono (CO2), em uma velocidade muito maior do que se esperava, informou nesta quinta-feira a Nasa.

Dados de satélite indicam que uma quantidade mais de três vezes superior de metano à estimada anteriormente está sendo liberada neste local, situado perto da interseção das Quatro Esquinas ("Four Corners" em inglês), entre os estados de Arizona, Colorado, Novo México e Utah.

O estudo, feito pela Agência Espacial Americana (Nasa) e pela Universidade de Michigan, se concentrou no período de 2003 a 2009, antes de a técnica da fratura hidráulica (ou "fracking") começar a ser usada na área para exploração de gás de xisto, de forma a descartar sua influência no fenômeno.

Em vez disso, a persistência das emissões "indica que a fonte provavelmente se origina de gás e carvão estabilizados, e do metano derivado da mineração e do processamento dos leitos de carvão", destacou o estudo, publicado na Geophysical Research Letters, revista da União Geofísica Americana.

A área cobre 6.500 quilômetros quadrados e emitiu, anualmente, cerca de 0,59 milhão de tonelada métrica de metano na atmosfera.

"Isso é quase 3,5 vezes mais que a estimativa para a mesma área, feita pelo amplamente adotado Banco de Dados de Emissões para a Pesquisa Atmosférica Global, elaborado pela União Europeia", destacou o estudo.

Os cientistas usaram observações de um instrumento denominado Espectrômetro de Absorção de Imagens Digitalizadas para Cartografia Atmosférica (SCIAMACHY, na sigla em inglês), que orbita a Terra a bordo de um satélite da Agência Espacial Europeia.

Uma estação em terra, operada pelo Laboratório Nacional do Departamento de Energia de Los Álamos, deu uma validação independente sobre a medição.

O metano prende o calor na atmosfera e contribui para o aquecimento global. O gás não tem cor, nem cheiro, o que dificulta sua detecção se, o uso de avançadas ferramentas científicas.

Cientistas que estudam os dados coletados pelo SCIAMACHY tinham notado o problema há alguns anos, explicou o cientista Christian Frankenberg, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da Nasa, em Pasadena, Califórnia.

"Nós não nos concentramos nisso porque não estávamos certos se era um sinal real ou um erro de instrumentos", disse Frankenberg.

O principal autor do estudo, Eric Kort, da Universidade de Michigan em Ann Arbor, disse que é preciso fazer mais para conter as emissões de metano a partir de operações estabelecidas de petróleo e gás.

"Os resultados são indicativos de que as emissões de técnicas de exploração de combustíveis fósseis são maiores do que o inventariado", disse Kort.

"Tem sido dada muita atenção à fratura hidráulica, mas nós precisamos considerar a indústria como um todo", prosseguiu.