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Casa sustentável em SP trata esgoto doméstico com bananeiras

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

13/06/2015 06h00

Em uma casa da cidade de São Paulo, o esgoto do banheiro não vai parar no córrego ou no rio. Ele é tratado no quintal. No processo, cocô produz banana e vapor de água, que ajuda na formação de nuvens de chuva. Nenhuma tecnologia complexa e cara é utilizada. Tudo o que fazem os sete moradores da Casa dos Hólons, um laboratório de permacultura localizado no Campo Belo, zona sul da capital paulista, é deixar que a natureza entre em ação.

A proposta da permacultura é usar os recursos encontrados no próprio local como soluções para coisas como lavar a roupa ou cuidar do jardim e da horta. Por que não fazer a máquina de lavar funcionar só com a água da chuva? E filtrar a água da pia para regar as plantas?

"Basta olhar como a natureza se comporta e repetir seus padrões", conta Josué Apolônio, 26, permacultor e morador da casa. Para ele, a adoção de um sistema alternativo de tratamento de esgoto, algo comum em áreas rurais e sem rede de saneamento, em uma das maiores metrópoles do planeta não é nada absurdo. Ao contrário, ajuda a pensar na crise hídrica que vivenciamos. "Nosso sistema de esgoto não é funcional. Tudo flui para o rio. Estamos sem água mesmo tendo um rio passando pelo meio da cidade".

Deixar de enxergar o que fazemos no banheiro como algo indesejado, que deve ser levado para longe de onde vivemos, ajuda a entender a filosofia por trás da técnica. "O conceito de sujeira é relativo. O resto de uma maçã pode ser considerado lixo, mas é energia quando transformo em adubo para uma planta. Todos os animais devolvem, através das fezes, energia para o solo. A partir do momento que ela é processada, se transforma em outra coisa", diz Josué.

Esgoto vira banana e chuva

O tratamento das chamadas "águas negras" -- as que vão embora com fezes pela descarga -- tem o formato de um pomar instalado no meio do quintal. No local há uma sombra gostosa, o clima friozinho e o barulho das folhas das bananeiras sacudidas pelo vento. Embaixo delas, sob a terra onde estão as plantas, extravasa por um cano a água que veio do vaso. Nada de mau cheiro ou água empoçada.

Antes de chegar ali, o esgoto se decompõe e é fermentado em tanques hermeticamente fechados. O processo elimina as bactérias que causam doença presentes nas fezes humanas. Por precaução, não é recomendável comer nada que entre em contato direto com a terra. Mas as bananas ou outros frutos e folhas de plantas altas podem ser consumidas.

O permacultor diz que a maior parte do resíduo, misturado com a água da descarga, é líquida. O pouco material sólido presente no esgoto fica retido no tanque. A limpeza da bacia seria necessária apenas após muitos anos de uso.

A função da bananeira é fundamental. Ela dá o destino final para a água tratada do esgoto, transpirando-a na forma de vapor, sem nenhum contaminante. O sistema ganha o nome de bacia de evapotranspiração. "Uma bananeira consome 15 a 30 litros de água por dia", diz. Os nutrientes despejados na terra vão parar nas bananas.

"É muito importante ter a água retornando ao solo no ambiente urbano", diz Josué. "A transpiração dessa bananeira forma as nuvens que estão aqui em cima". Mas a ideia não é apenas dar um jeito no que vai embora pela descarga. A sombra e o clima fresco são ganhos conjuntos nessa forma holística de pensar a casa.

"A permacultura trabalha a ideia de que um sistema atenda várias funções. Com a bacia de evapotranspiração, o esgoto é filtrado, o ambiente fica mais úmido e mais fresco, temos banana... E a fibra da bananeira ainda pode servir para artesanato", afirma o permacultor.