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Mudança climática acaba com o clima: há menos sexo em planeta mais quente

Renato S. Cerqueira/ Futura Press/ Estadão Conteúdo
Imagem: Renato S. Cerqueira/ Futura Press/ Estadão Conteúdo

Eric Roston

03/11/2015 17h00

A mudança climática já foi responsabilizada por muitas coisas ao longo dos anos. Mas, até o momento, nunca ninguém tinha pensado que era possível vê-la como uma espécie de contraceptivo.

O clima quente leva à redução da "frequência de coito", de acordo com um novo documento de trabalho publicado pelo Departamento Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos. Três economistas estudaram dados sobre fertilidade e temperatura nos EUA relativos a um período de 80 anos e concluíram que quando faz mais calor que 26,67 ºC, segue-se um grande declínio na quantidade de nascimentos dentro de dez meses. Os futuros pais não tendem a compensar o tempo perdido nos meses mais frios seguintes.

Um "dia quente" adicional (os economistas colocam a expressão entre aspas) leva a uma queda de 0,4 por cento nas taxas de natalidade nove meses depois, ou seja, 1.165 partos a menos nos EUA. Há uma recuperação nos meses seguintes, que compensa apenas 32 por cento da diferença.

Os pesquisadores, da Universidade de Tulane, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e da Universidade da Flórida Central, acreditam que suas conclusões concedem aos responsáveis pela política econômica três importantes questões de discussão.

1. As taxas de natalidade não se recuperam totalmente depois das ondas de calor

Isso é um problema. À medida que os verões ficarem mais quentes, talvez os países desenvolvidos observem uma contração ainda maior das taxas de natalidade, que já são baixas. O declínio das taxas de natalidade pode acabar com uma economia. Os líderes da China admitiram recentemente esse fato, quando abandonaram a antiga política de um filho por casal e dobraram o número de filhos que um casal pode ter. Uma taxa de desnatalidade nos EUA implica que menos trabalhadores pagarão pelos benefícios de previdência social de seus pais aposentados, entre outras consequências.

2. Mais concepções no outono significam mais nascimentos no verão.

Os bebês apresentam uma taxa mais alta de problemas de saúde nos meses mais frios. "No entanto, os motivos da deterioração da saúde no verão não estão bem estabelecidos", escreveram os autores. Uma possibilidade poderia ser "a exposição às altas temperaturas no terceiro trimestre".

3. O ar-condicionado poderia ser um afrodisíaco

O controle sobre a temperatura dentro de casa poderia fazer uma diferença. Os pesquisadores sugerem que o surgimento do ar-condicionado talvez tenha ajudado a compensar parte das perdas de fertilidade relativas ao calor nos EUA desde os anos 1970.

Talvez o título do documento seja a máxima expressão de lascívia possível dentro do Departamento Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos: "Maybe Next Month? Temperature Shocks, Climate Change, and Dynamic Adjustments in Birth Rates" (Talvez no próximo mês? Choques de temperatura, mudança climática e ajustes dinâmicos nas taxas de natalidade, em tradução livre).

Os pesquisadores pressupõem que a mudança climática vai continuar e se baseiam nas situações mais severas, sem iniciativas substanciais para reduzir as emissões. As condições adotadas projetam que, de 2070 a 2099, os EUA poderiam ter mais 64 dias com temperaturas acima de 26,67 ºC, frente ao período de base, de 1990 a 2002, que teve 31 dias. O resultado? Talvez a taxa de natalidade dos EUA sofra um declínio de 2,6 por cento, o equivalente a 107.000 partos a menos por ano.

Justo quando você pensava que a política econômica sobre mudança climática não poderia ficar menos sexy.